Capítulo XII

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— Amir, que surpresa te encontrar aqui!— Ela disse ao esticar a mão para que ele beijasse.

Amir ignorou a mão de Bianca e ela sentiu como se seu coração parasse de bater ao perceber a frieza no olhar dele. Olhos que antes continham adoração, naquele instante exibiam algo pior do que a mágoa e o rancor que Bianca esperava.

Nos olhos de Amir, ela viu... Nada.

Jorge puxou a cadeira ao lado de Amir para Bianca sentar e se retirou para buscar o jantar. Amir se perguntava se seria uma coincidência ou se Lorde Barrington teria armado esse encontro de propósito. Se o velho pensava que trazendo uma ex-amante de Amir o faria se afastar de Anne, estava muito enganado. Há anos que Amir não pensava mais em Bianca, nem para o bem nem para o mal. Ele reconhecia que por muito tempo havia nutrido mágoa. A vergonha e a dor que ela provocou o feriram por muito tempo, mas ela não era sua alma gêmea e o tempo se encarregou de cicatrizar as feridas.

Se ela quis se comportar como uma desqualificada se entregando para Ezequiel em um banheiro público, e assim destruir o relacionamento que tinha com Amir, a escolha foi dela. O que sentia por ela era uma forte atração física que ele havia confundido com algo mais. A beleza exuberante dela o havia seduzido e, em sua juventude, era tudo o que poderia desejar: Uma bela mulher e sexo excepcional.

Amir voltou os olhos para Anne, que observava a interação dele com Bianca intensamente, haja vista sua delicada testa franzida. Ela era para ele como um livro aberto expondo suas emoções. Ele pôde reconhecer desconforto, insegurança e ciúmes.

A possibilidade de Anne sentir ciúmes por causa dele o fez sorrir. Seu lado egoísta se deliciava com a perspectiva de uma mulher como Anne sentir ciúmes dele, um simples soldado. Seu lado consciente gritava que não era justo, e realmente não era, não tinha motivo algum para se sentir insegura na presença de Bianca.

Anne olhou para a estranha que se aproximou de Amir com tamanha segurança. Ruiva, alta, corpo escultural e provavelmente uma vampira como ele, não uma simples adolescente mortal como ela. Quando ouviu Amir dizer o nome dela com a voz repleta de surpresa e emoção, Anne sentiu um nó na garganta. Eles se conheciam, e pela maneira com que a mulher o olhou, intimamente.

Anne acreditava em intuição feminina, para ela, mulheres sempre percebem esse tipo de coisa, sempre notam quando uma "amiga" já foi mais que amiga, Quando uma "prima" não tem nenhuma relação consanguínea, e na situação em questão, quando uma estranha já foi muito mais do que uma estranha.

Uma onda de alívio se espalhou pelo seu corpo quando o olhar de Amir se tornou frio ao ignorar a mão de Bianca. Teve que se controlar para não sorrir quando Bianca recolheu a mão recém-rejeitada.

— Não vai me apresentar sua... amiga, Amir?— Perguntou Bianca olhando para Anne de cima a baixo com desgosto evidente em seus traços faciais.

—Anne, essa é Bianca... — Amir parou a apresentação na metade, pois foi interrompido por Jorge que retornava a sala de jantar empurrando um ruidoso carrinho aparador.

Logo o cheiro da comida preparada pelo chefe da mansão se espalhou pelo ambiente e Anne sentiu seu estômago roncar. Pelo menos serviam comida de verdade, por um momento temeu que, como em filmes de terror, servissem sangue humano. Antes que Anne tivesse tempo de rir internamente de sua própria piada, a voz de Bianca se fez ouvir mais uma vez.

— É um prazer conhecê-la pessoalmente, alteza.— Bianca fez questão de seu tom de voz sarcástico expressasse todo o rancor que tinha pela jovem sentada à sua frente.

Estar tão próxima de Amir durante o jantar lhe trouxe a satisfação de ver Anne enciumada e insegura, mas trouxe até suas narinas o reconhecimento da intimidade entre Anne e Amir. A essência dele estava misturada a de Anne, além do inconfundível perfume de desejo e sexo entre eles. Àquela altura o apetite de Bianca tinha se extinguido.

Os Upyrs tinham como característica serem seres territoriais e possessivos, e Bianca sentia o gosto amargo da perda, o que a fazia com que odiasse ainda mais Anne.

Como aquela jovem meramente humana e pálida conseguia atrair Amir, especialmente depois dele ter conhecido os encantos de seu corpo? E muito pior, como Anne conseguia atrair Ezequiel?

Ela sabia da sede de poder de seu amante, mas não era tola, Ezequiel estava, no mínimo, atraído por aquela jovem. Naquele exato momento, Bianca desejou a morte de Anne mais do que tudo na vida.

A tensão que seus pensamentos causaram era tanta, que Amir a olhou com a testa franzida. Ele percebeu o cheiro de fúria que exalava pelos poros de Bianca.

— Nem pense nisso, Bianca, quebraria seu pescoço antes que conseguisse se aproximar dela!

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Herança Sangrenta : GênesisOnde histórias criam vida. Descubra agora