Cheque Mate

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(Narrativa de Anne)

Não sei por quanto tempo andei até chegar em casa ou o estado em que me encontrava. A porta estava escancarada e logo que entrei, me deparei com a sala encharcada de sangue. Tapete, parede, sofá...

Tanto sangue!

Ouvi um grito, acho que era minha mãe, e corri pelas escadas. Tropecei em algo que estava jogado o chão. Meu irmão sem camisa, deitado com os olhos abertos e a cabeça em uma posição não natural...

Minha casa, minha família...Tanto sangue...

Um homem segurava minha mãe pelo braço. Ela gritava e ele sorria com seus dentes deformados que se mostravam através do sorriso. Rosto e pescoço tintos de sangue. Ele me disse algo, pude ver os lábios mexendo, mas não conseguia ouvir...

Outro homem apareceu e se jogou sobre mim. Caí e bati com a cabeça no chão. Estava zonza e sentia o vômito na garganta. Olhei para o homem que segurava minha mãe, ele olhou para mim, sorriu e mordeu pescoço dela.

Tanta dor... 

Senti socos, chutes...

Então, escuridão.

Abri os olhos novamente. Quanto tempo passou? Tentei levantar, mas não conseguia sentir minhas pernas.

Ouvi a voz dele, como déjà-vu ...

Anne! Graças aos deuses, está viva!

Tentei abrir meus olhos, mas minhas pálpebras estavam pesadas

Minha Anne... Estou aqui agora...

Abri os olhos e tentei responder, mas nenhum som saiu de minha boca.

— Você quer parar de sentir dor, Anne?

"Sim! Eu queria parar de sentir tanta dor...."

Eu posso levar sua dor embora, minha amada... Posso te dar mais do que essa vida miserável, posso te dar a eternidade.

Ele estendeu a mão para mim sorrindo.

A dor era lancinante, desejei a morte para me livrar dela, meu sangue escorria pelo chão frio. Podia vê-lo. Ele estava se aproximando e não havia nada que eu pudesse fazer, nem para onde ir, ninguém pra me socorrer...

"Por que não morro logo? Tiraram tudo de mim! Toda a minha família está morta... Toda essa dor, meu Deus, por que não morro logo?"

— Não precisa ser assim, não precisa deseja a morte... Não precisa mais sentir dor.

Podia vê-lo nitidamente, estava bem perto de mim e se sentou ao meu lado. Seus cabelos pretos como a noite, olhos que conseguiam atrair e ao mesmo tempo repelir por puro instinto.

Seus olhos tinham um brilho assustador. Encostou os lábios em minha orelha, sussurrando:

Como é saber que vai morrer, Anne?

Não tinha forças para respondê-lo, respirar estava se tornando um esforço impossível de realizar. Não queria morrer, não daquele jeito! Estava com muito medo, mas não conseguia responder. Ele sorriu como se compreendesse o que estava pensando. Aproximou o rosto do meu. Sua voz grave e macia, como uma música para meu funeral... Meus olhos já tinham se acostumado com a falta de luz, consegui ver minha mãe. Ela estava vestida de branco, deitada, imóvel, sem vida. 

Eles a mataram....

Mal conseguia respirar, o gosto de ferrugem que sentia era do meu próprio sangue.

Olhei para ele, seu rosto nunca foi tão atraente, não conseguia desviar de seus olhos, seu sorriso.

 Seus lábios tocam minha orelha novamente.

— Você só precisa dizer sim e posso te dar mais do que a própria eternidade. Pegue minha mão e eu te ofereço Vingança pela morte de sua família, vingança contra aqueles que tiraram tudo de você. Vingança contra aqueles que te traíram!

Essas palavras ecoarão pela eternidade, foram as palavras que em meu último suspiro me deram força para dizer, diante de todos os deuses e de todos os meus ancestrais, que aquela não era a minha hora.

Porque eu juro por tudo que há de mais sagrado que não morrerei enquanto aqueles que tiraram tudo de mim não estiverem debaixo dos meus pés!

*****

Fim

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⏰ Last updated: Dec 06, 2022 ⏰

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Herança Sangrenta : GênesisWhere stories live. Discover now