Capítulo 12

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- EU TÔ PIRANDO! - Camila exclama do outro lado, e eu afasto o telefone da orelha.

Assim que contei que eu a tinha escolhido para me ajudar nos preparativos do casamento, ela não parou de gritar em nenhum momento.

- Sim, sim. Agora fale mais baixo, ok? - eu falo, ainda fascinada com a vista do jardim da... Minha casa.

- E quando eu vou? - ela pergunta eufórica.

- Hum... - faço suspense, - o que acha de semana que vem?

Um silêncio assustador do outro lado da linha me preocupa. Chamo pelo seu nome, para ter certeza de que ela ainda está lá.

- Acho que temos um probleminha. E esse problema se chama: Marta.

Claro, a mãe da Camila. Ela é tão protetora com a filha de 25 anos, que com toda a certeza não deixará que ela venha. Vamos precisar de muito jogo de cintura e paciência para convecê-la.

- Tudo bem... Ah, já sei! Ela e o meu pai sempre foram amigos, então se o meu pai pedir, ela deixa.

Nós duas rimos.

Parecia que tínhamos voltado para a infância, quando eu pedia para Camila dormir na minha casa, mas como a mãe dela era super protetora, a gente pedia para que o papai falasse com ela. A gente sempre suspeitou que a dona Marta tem uma quedinha pelo meu pai, mas ele nunca demonstrou interesse.

- Então vamos contar com a sorte, minha amiga. - Camila fala e sinto que o seu bom humor se vai, quando escuto a voz do senhor Joaquim, pedindo que ela volte ao trabalho. - Não vejo a hora de sair daqui. Esse homem fica cada vez mais insuportável, Letty! Mas tenho que ir, tchau minha querida. E me deixe informada sobre seu relacionamento. - ela ri e desliga.

Não tenho nem tempo de processar o que ela quis dizer, mas então uma batida na porta chama a minha atenção.

- Sim? - pergunto.

- Senhorita Letícia? Seu professor de italiano acaba de chegar. Está lhe esperando na biblioteca. - Domenico me avisa e eu respiro fundo.

- Já estou indo.

Me olho no espelho e faço uma breve prece para que o professor não seja um velhinho de sessenta anos rabugento. Já tive a minha cota de professores rabugentos no ensino médio.

Saio do quarto e desço as escadas rapidamente. Chego ao salão e fico momentaneamente perdida, mas então me lembro que Domenico me mostrou onde ficava a biblioteca no dia anterior.

Para a minha sorte, era bem perto do salão, apenas a segunda porta à esquerda.

Eu quis bater na porta, mas então pensei: "Essa não é a minha casa, agora? Preciso bater na porta?". Então apenas abri e adentrei na grande sala, repleta de livros.

- Bom dia, signorina Letícia. - um rapaz jovem, e muito bonito me cumprimenta.

Ele está vestido com uma camisa social para fora da calça jeans e um tênis. Ele me lembra alguém...

- Muito prazer em conhecê-la. Me chamo Pietro Agnelli, e sim, eu sou irmão de Giancarlo.

Eu fico ainda mais perplexa. Como não percebi antes? A mesma pele morena, cabelos e olhos negros, feições idênticas... Mas Pietro parecia mais jovial, mais divertido.

- Vo-você é irmão do Giancarlo? - pergunto e ele assente, - Ah, minha nossa! E, você vai ser o meu professor de italiano?

Ele ri.

- Bom, eu sou fluente em muitas línguas... Inglês, Francês, Espanhol, Russo, Português... - ele me olha divertido.

Eu apenas assinto. E então, ele faz sinal para que eu sente em uma poltrona em frente a que ele acabou de sentar.

Eu ando relutante, e então sento-me em frente à ele.

Ele ri ainda mais quando eu começo a encará-lo e analisá-lo dos pés à cabeça.

- Ora, minha querida. Por que tem que ser noiva do meu mal humorado irmão? - ele pergunta sarcástico. Seus olhos estão carregados de diversão.

Não entendi o que ele quis dizer com isso, porém, antes que eu pudesse exigir alguma explicação, ele me pega se surpresa:

- Já sabe falar alguma coisa em italiano? Qualquer coisa?

- Cara, amore mio. - falo sem pensar e lembro-me imediatamente de Giancarlo.

Não sei porque, mas bateu uma saudade. Isso já é paranóia da minha cabeça. Saudades daquele homem? Não, não mesmo.

- Bom, teremos um pouco de trabalho então. - Pietro fala, e pisca para mim. Eu enrubesço.

* * *

Depois de quase três horas de aula, Pietro finalmente foi embora e eu consegui respirar aliviada. Não é que eu tivesse algo contra ele, mas as vezes ele me olhava de um jeito estranho e murmurava alguma coisa em italiano tão baixo, que eu fiquei me perguntando se não era a minha cabeça me pregando peças.

Mas até que a aula tinha sido muito boa, eu aprendi algumas palavras e frases em italiano que são as mais usadas por aqui, segundo o meu "cunhado".

Subi até o quarto do meu pai, e ele já me esperava, sentando em uma poltrona próxima a janela.

Santino fez questão de nos acompanhar, e eu achei até bom. Meu pai parecia gostar da amizade dele e isso poderia ajudar na hora dos exames.

Chegamos ao Firenze Medical Center em menos de uma hora. Meu pai estava muito calmo, ao contrário de mim, que estava uma pilha de nervos.

- Ficará tudo bem, senhorita. É apenas alguns exames. - Santino me acalma e eu sorrio.

Entramos na clínica que era muito elegante, sofisticado e discreta.

Santino foi conversar com a recepcionista, já que eu e meu pai não entendemos absolutamente nada de italiano, e hoje eu só tive a minha primeira aula. Ainda tenho muito o que aprender.

Um médico todo bonitão aparece e fala conosco. Para a minha sorte, ele fala inglês, e eu quebro o galho com o idioma.

- Acompanhe-me por favor. - ele fala. Eu e o papai vamos com ele, mas Santino prefere ficar na recepção.

A sala do Dr. Luca Salvatore é tão elegante e bonita quanto o resto da clínica. Ele senta-se em sua poltrona e indica as outras duas à sua frente para eu e meu pai façamos o mesmo.

Depois de conversármos sobre como o meu pai perdeu a visão e de alguns exames, o Dr. Salvatore nos diz:

- Acredito que daqui a dois dias já poderemos internar seu pai para a cirurgia, pelo o que vejo, ele está muito bem, mas amanhã quando eu pegar o resultado dos exames, veremos se será possível mesmo.

- Muito obrigada, Doutor! O meu maior sonho é que o meu pai possa voltar à enxergar. - eu digo emocionada.

- Não precisa agradecer, sei que o sonho de toda noiva é subir ao altar com o pai. Por isso, me dedicarei para que seu pai possa apreciar o seu casamento como merece. - o médico diz e sorri amavelmente.

Eu fiquei um pouco confusa, mas depois percebi que a notícia do meu noivado não devia ser novidade para mais ninguém na Itália.

Agradeci e fomos embora.

Pelo menos, algo bom sairia de toda aquela loucura.

Era Uma Vez Em Florença Место, где живут истории. Откройте их для себя