Capítulo 35

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Quase vinte e cinco horas depois, eu estava em casa. Mas por que me sentia como se faltasse algo? De qualquer forma, ignorei esse pensamento e foquei na bela imagem do Rio de Janeiro pela janelinha do avião. Estava um dia ensolarado, como é praticamente o ano todo aqui no estado.

Dona Marta estava muito empolgada conversando com uma senhora que havia sentado ao seu lado. Meu pai olhava a paisagem com uma mistura de nostalgia e felicidade. A minha cara estava praticamente igual as das minhas amigas. Nós três tivemos que deixar Florença e os homens que amamos para trás.

Coloquei a mão na minha barriga, como estava me acostumando a fazer quando ficava preocupada ou triste. Era como se meus bebês pudessem me dar consolo. Eu tentaria, por eles, viver minha vida novamente e esquecer de uma vez por todas Florença.

*     *     *

Quando abri a porta da nossa pequena casa, milhares de lembranças atravessaram minha mente. Era tão bom e ao mesmo tempo, tão estranho estar de volta.

- Se você não se importar, filha, eu gostaria de tomar um banho e dormir um pouco. A viagem foi muito cansativa - meu pai suspirou.

- Tudo bem, pai. Pode ir - dei um beijo em sua testa e meu pai foi andando até nosso pequeno banheiro.

Estava tudo exatamente do jeito que tínhamos deixado há pouco mais de três meses atrás. Parecia ter se passado uma eternidade desde que saímos do Rio de Janeiro.

Peguei o meu celular e não sei se fiquei triste ou conformada por não haver nenhuma chamada ou mensagem de Giancarlo. Talvez fosse melhor assim. Ele estaria livre para viver a vida dele e em questão de alguns meses, estaríamos divorciados.

Camila me mandou uma mensagem quando cheguei ao meu antigo quarto, disposta a guardar todas as minhas roupas no pequeno guarda-roupa.

"Você não está com oito semanas de gravidez?" - Camila.

"Sim. Por quê?"

"Acho que já passou da hora de escutar os coraçãozinhos dos bebês. Que tal irmos agora mesmo?" - Camila.

"Agora? Não pode ser outro dia? Estou cansada."

"POR FAVOR, LETTY" - Camila.

"Tá bom. Vou passar na sua casa."

Eu não estava entendo o porque da insistência de Camila em escutar os corações dos bebês agora. É claro que eu estava ansiosa para isso, mas só estava pensando em ir na semana que vem, quando toda essa loucura de volta ao lar tivesse passado.

Peguei a minha bolsa e avisei ao meu pai que eu estava de saída. Fui andando, já que a casa de Camila ficava bem próxima a minha. Bati palmas no portão e em menos de um minuto ela saiu.

- Por que toda insistência para ouvir os corações dos bebês hoje? - perguntei assim que ela fechou o portão com a chave e fomos andando pela rua.

- Quero me distrair. Se eu ficar em casa, vou pegar meu celular e passar todas as fotos minha com o Matteo até chorar feito criancinha.

- Liga para ele, se sente tanta falta. Não vejo nenhuma dificuldade - dei sinal para um táxi que estava se aproximando e quando ele parou, entramos nele. Pedi para que ele me levasse para um hospital público mesmo, mas Camila interviu.

- Não. De jeito nenhum. Nos leve ao melhor hospital particular do Rio de Janeiro, por favor - ela sorriu amavelmente e o taxista assentiu.

- Que ideia é essa, Camila? Por que não posso ir à um hospital público? - sussurrei.

- Por que agora você é rica, Letícia. E o atendimento dos hospitais públicos nesse país, infelizmente é lamentável - ela sussurrou de volta.

Dei o assunto por encerrado e fizemos todo o trajeto em silêncio. Quando o taxista estacionou em frente ao hospital mais caro do Rio de Janeiro, paguei o dinheiro da corrida e saímos. Logo na entrada no elegante e moderno prédio, podemos ver gente rica de toda a cidade desfilando em suas roupas caras e de grife. Eu e Camila reviramos os olhos.

A doutora que me atendeu se chamava Patrícia Cavalcante. Ela era uma mulher lindíssima. Deveria ter uns trinta e cinco anos, mas aparentava ter menos, com seu cabelo loiro amarrado em um rabo de cavalo e a maquiagem leve.

A doutora tirou todas as minhas dúvidas em relação aos bebês e explicou como funcionaria as nossas consultas dali em diante. Gostei imediatamente dela. Era simpática e atenciosa. E ao contrário de outros médicos daquele hospital, ela não parecia está fingindo.

Quando me deitei na espécie de cama, ao lado da máquina, Camila pegou minhas mãos entre as suas e fez um sinal positivo com a cabeça.

- Pela sua aliança e seu anel de noivado, você é casada, não é? - a doutora perguntou e eu assenti. - O pai não pôde vir?

- Não. Nós vamos nos divorciar em breve - falei simplesmente, ignorando a dor que aquelas palavras me traziam.

- Sinto muito. Não quis ser indelicada e intrometida - as bochechas claras da médica assumiram um tom rosado.

- Está tudo bem. Só estou ansiosa para ouvir o coração dos meus bebês.

A Dra. Patrícia assentiu e deu início ao que quer que fosse fazer. Ela colocou o aparelho em minha barriga e começou a mexer. Em pouco tempo pudemos escutar o barulho lento, mas nítido de um coraçãozinho batendo. Depois mais outro e outro começaram a bater e minha lágrimas rolaram sem que eu pudesse contê-las. Logo as batidas ficaram um pouco mais aceleradas e eu não conseguia acreditar que realmente estava escutando pela primeira vez a prova de que meus três bebês estavam comigo.

Camila também estava chorando, emocionada e eu não pude conter o sorriso que dei. Estava tão feliz por ela está ao meu lado compartilhando tudo aquilo comigo.

*     *     *

Saímos do hospital e eu me sentia renovada. Como se fosse uma nova mulher. Me senti como se pudesse realizar todos os meus sonhos e então, algo me passou pela cabeça.

- Camila? - chamei.

- Sim? - ela perguntou confusa enquanto olhava se algum táxi estava vindo.

- Vamos à uma imobiliária?

- Pra quê?

- Para comprar o meu próprio apartamento. Vou realizar todos os meus sonhos possíveis - sorri e ela retribuiu.

Era isso. Uma nova Letícia estava nascendo.

Era Uma Vez Em Florença Where stories live. Discover now