Capítulo 38

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Algumas horas depois da transfusão de sangue, finalmente fomos liberados para visitar Pietro. A mãe dele disse que não podia ficar, pois tinha um compromisso e foi embora. Fiquei me perguntando que tipo de compromisso era mais importante do que ver o filho que quase morreu.

Pietro ainda estava meio fraco, mas conversou com todos nós.

O momento que mais me emocionou foi quando ele viu a minha barriga e pediu para tocá-la. Ela já estava grande demais, e de alguma maneira os três bebês sentiram o toque do tio.

- Estou tão feliz por te ver melhor - falei e ele abriu um pequeno sorriso, logo substituindo-o por uma carranca de dor.

- Melhor eu não estou, mas vou ficar bem. Me desculpe por ter te preocupado tanto a ponto de você voltar para Florença. Sei que não era isso que você queria - Pietro murmurou.

- Não, está tudo bem. Esqueça isso, ok? Tudo que eu mais quero é ver você longe desse hospital. Ah... e Renata também - acrescentei como quem não quer nada.

- Renata? Ela está aqui? - seus olhos brilharam.

Pietro levantou o olhar para além de mim e por um momento fiquei chateada por não trazê-la comigo.

- Ela está no Brasil, mas está muito preocupada com você, mocinho. Você deu um grande susto nela - Camila falou por mim e eu sorri agradecida.

Pietro não disfarçou sua decepção por Renata não está presente, mas sorriu mesmo assim. O médico apareceu e nos pediu para que o deixasse descansar.

Já era muita tarde e todo mundo concordou em ir para casa. Pietro já estava fora de perigo, então podíamos respirar aliviados agora. Giancarlo insistiu para que eu fosse para a nossa casa e eu não recusei.

Depois de pegar minhas malas no carro de Matteo, me despedi de Camila, que iria dormir na casa do namorado para matar a saudade e fui até o carro de Giancarlo. Fizemos o caminho em silêncio, ambos dominados pelo cansaço.

Ao ver o enorme portão da casa, senti uma grande nostalgia. Sentia mais falta daquela mansão do que gostaria de admitir. Tudo continuava do mesmo jeito. Parecia que eu nunca tinha ido embora e que esses meses longe, nunca foram reais. Mas eu fui embora, sim.

- Senhora Letícia, que alegria em vê-la novamente! - Domenico veio me cumprimentar e eu o abracei.

Ele tomou cuidado para manter uma distância generosa da minha barriga com receio de me machucar.

- Também senti sua falta, Domenico. De todos vocês, na verdade.

- A senhora voltou para ficar, então? - ele perguntou, esperançoso.

Olhei brevemente para Giancarlo,que parecia o mais interessado em ouvir a minha resposta. Aquilo era tão complicado... eu não tinha a mínima ideia.

- Eu... não sei. Ainda tenho muito no que pensar - respondi, simplesmente.

Domenico ficou cabisbaixo mas logo se recompôs quando ouviu o som do telefone tocando. Ele pediu licença e saiu para atendê-lo.

- Vou levar suas coisas lá para cima. Quer alguma coisa? - Giancarlo perguntou, prestativo.

- Hm... não. Vou dar um passeio pelo jardim e depois volto. Estou com tanta saudade dele! - sorri e ele retribuiu o sorriso.

- Está bem.

Giancarlo subiu os degraus da escada com as minhas malas e eu fui pelo caminho conhecido até o jardim.

*     *     *

A noite estava um pouco fria, mas mesmo assim isso não me importei. Andei um pouco até parar embaixo de uma árvore. Ela tinha uma balanço que eu adorava. Me sentei nele e me balancei devagar, sempre tomando muito cuidado.

Uma movimentação estranha chamou minha atenção e me virei a tempo de ver uma pessoa atrás de outra árvore. Me levantei, desconfiada.

- Quem está aí? - perguntei, mas não houve resposta.

A pessoa - ou pelo menos, o que parecia ser uma pessoa - não se moveu nem um centímetro e eu logo concluí que era coisa da minha cabeça. Já estava na hora de voltar para dentro.

Tropecei em uma pedra no meio da grama e quase caí. O susto foi enorme. Caso eu tivesse caído, teria muita chance de ter me machucado seriamente ou de até perder os meus bebês.

- Meu Deus, você está bem? - uma voz feminina aflita perguntou atrás de mim.

Me virei para ver quem era, pois imaginei ser uma das empregas da casa.

O ar me faltou. O chão parecia que iria desmoronar a qualquer momento. Me senti tonta, o meu equilíbrio acabaria e eu viria ao chão.

Não podia ser.

Só podia ser algum equívoco, um sonho, uma miragem... mas não era real. Não podia ser real!

Na minha frente estava a mulher que eu conhecia muito bem, graças a diversas fotos que eu tinha em casa.

- Mãe? - sussurrei, incrédula.

- Fique calma, Letícia... isso pode não fazer bem par...

- V-você está viva? Como isso é possível? - a interrompi enquanto lágrimas grossas rolavam pelas minhas bochechas mas eu não ligava para elas.

Tudo que me importava era a mulher na minha frente, que parecia tanto comigo. Os mesmos olhos verdes e cabelos castanhos que eu tinha. Era como ver uma versão de mim, só que mais velha.

Dei um passo hesitante em sua direção, mas quando percebi que iria cair se tentasse dar outro, me detive. A mulher - ou a minha mãe - veio na minha direção lentamente e quando finalmente estava em frente a mim, pude ver as lágrimas que ela segurava em seus olhos.

- Mamãe - solucei antes de abraça-la e deixar todas as minhas lágrimas rolarem.

Ela retribuiu o meu abraço com a mesma urgência e sussurrou com carinho:

- Sou eu, filha. Eu voltei para você, Letícia.

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O capítulo ficou curto, mas é porque eu ando tão ocupada que mal tenho tempo para escrever. Prometo que tentarei dar um jeito nisso.
Uau! Kátia voltou! E agora? O que será que vai acontecer? Por que ela fingiu que estava morta? Será que vamos descobrir no próximo capítilo? Haha
Beijinhos,
Nick!

Era Uma Vez Em Florença Where stories live. Discover now