Capítulo 45

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Uma longa semana passou e eu finalmente recebi alta do hospital. Mas essa não era a única notícia boa. Eu estava começando a lembrar de algumas coisas, por exemplo, do meu pai e de coisas que fazíamos quando eu ainda era uma criança, de Camila e das noites em que ela dormia na minha casa ou eu na dela. O mais estranho, é que isso aconteceu depois que eu conversei com ele pelo telefone. Ele parecia tão aflito, preocupado e apavorado. Giancarlo disse que iria comprar a passagem para que ele viesse me ver em alguns dias.

Eu voltei para a casa de Giancarlo e fiquei imensamente feliz ao constatar que lembrava onde ficava cada cômodo e principalmente de alguns empregados. Em especial, de Domenico. Ele me recebeu com um grande sorriso no rosto e falou que estava ansioso para conhecer os trigêmeos.

Os bebês ainda ficariam no hospital por mais três semanas, segundo o médico que cuidava deles. Eu estava louca para tê-los perto de mim.

O especialista que eu consultei afirmou que a minha memória poderia voltar completamente em poucos meses e e eu contava com isso. Giancarlo não precisou me dizer, mas eu percebi que ele ficou chateado ao ver que eu estava começando a lembrar de todos, menos dele. Aquilo me matava, porque ele era a pessoa que eu mais queria lembrar.

Tudo no seu devido tempo...

*     *     *

Era tarde de sábado. Papai havia chegado horas antes e depois de se certificar de que eu estava fisicamente bem, cumprimentou Giancarlo e tentou fazer o mesmo com Pietro, mas o meu irmão o ignorou. Eu não podia culpa-lo. Se eu entendi bem, o motivo de nossa mãe tê-lo abandonado, foi para ficar com o meu pai.

Giancarlo, Pietro, Camila, Matteo, papai e eu, estávamos na área externa da mansão sentados em volta de uma mesa aproveitado o tempo agradável e os saborosos lanches da tarde que a cozinheira havia preparado.

- Ah, eu tenho algo para contar - meu pai falou, um pouco constrangido.

- Aconteceu alguma coisa? - Giancarlo  perguntou. Ele estava sentado ao meu lado, com os dedos entrelaçados nos meus. A sensação era tão boa que não me incomodei. Afinal de contas, ele era meu marido.

- Eu... E Marta.... nos casamos - papai falou e Camila cuspiu longe o chá que estava tomando.

- O quê!? - ela exclamou, totalmente surpresa.

Eu não lembrava quem era Marta, por isso apenas franzi a testa e esperei o meu pai dar alguma explicação.

- Nós nos casamos há pouco mais de um mês. Queríamos ter falado antes, mas decidimos aproveitar esse momento antes de revelar - ele olhou para Camila e sorriu um pouco envergonhado.

- Eu... eu... - Camila olhou para mim e eu dei de ombros. - Marta é a minha mãe, Letícia.

- Ah, nossa! - exclamei. - Quer dizer que agora somos... irmãs? - perguntei confusa.

Era estranho. Eu me tornava irmã de qualquer pessoa que conhecia. Primeiro Pietro e agora, Camila. Não que eu achasse ruim a ideia de tê-los como irmãos, mas isso era um pouco confuso.

- Eu acho que sim - Camila sorriu e virou-se para o meu pai. - Não precisava ter demorado para nos contar. Eu e a Letícia, por mais que ela não lembre agora, sempre torcemos para que vocês ficassem juntos. Estou tão feliz pela minha mãe. O senhor sabe que ela sempre foi apaixonada...

Camila continuou falando sem parar e era impressionante a maneira que Matteo a olhava. Com tanto amor e devoção. Os dois estavam juntos há alguns meses e era incrível a sintonia que eles tinham como casal. Com certeza, nasceram um para o outro.

Neste momento eu virei para olhar Giancarlo e ele já me olhava. Acabei corando quando percebi que o jeito que ele me encarava era idêntico ao jeito que Matteo fitava Camila. Abri a boca para falar alguma coisa, mas o celular dele tocou e ele pediu licença antes de levantar para atender. Senti uma coisa estranha no peito, uma má  sensação. Era como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.

- Você está bem? - Pietro perguntou e eu assenti.

- Estou. É só uma sensação ruim. Tenho certeza que daqui a pouco passa.

Ele me olhou por alguns segundos e depois sorriu.

- Sabe, todos os casais estão ficando juntos... Acho que estou sobrando aqui.

Acabei sorrindo também.

- Você é bonito demais para acabar solteiro. Tenho certeza que as mulheres fazem fila na porta da sua casa, irmãozinho - zombei e ele gargalhou.

- A única que eu quero está muito longe da minha porta - falou, olhando para o pedaço de bolo em seu prato.

- Longe quanto? - perguntei, pois estava curiosa a respeito disso.

- Digamos, que a um oceano de distância - ele abriu um sorriso meio triste e eu fiquei com pena do meu irmão. Ele parecia gostar de verdade dessa mulher.

Giancarlo voltou a se juntar a nós e ele estava com uma expressão surpresa e perplexa ao mesmo tempo. Me levantei e fiquei ao seu lado. Ele não parecia nada bem.

- Giancarlo, o que houve? - perguntei e todos na mesa pararam para nos ouvir.

- Sua mãe... A minha mãe... - não conseguia formular a frase. Engoliu em seco e me olhou nos olhos. - Eu sinto muito, Letícia. Sinto muito mesmo.

*     *     *

Passei correndo pelas portas do hospital. Pietro vinha logo atrás de mim. Aquilo não podia ser verdade. Eu não queria acreditar que algo assim estava acontecendo e tudo o que eu queria era que meu marido estivesse comigo, mas Giancarlo teve que ir para o departamento de polícia.

Os médicos não me deixaram passar de imediato, mas depois de eu ter gritado e feito um verdadeiro escândalo, eles cederam e me deixaram vê-la.

A minha mãe.

Morta.

Assim que vi o corpo sem vida da minha mãe, caí de joelhos no chão e lágrimas pesadas rolaram pelo meu rosto. Só percebi que Pietro estava ali quando ele também se ajoelhou e me abraçou. Não sei por quanto tempo ficamos chorando, mas tudo que eu precisava naquele momento era o abraço que estava recebendo do meu irmão.

- Ela morreu, Letícia! E a última coisa que eu disse foi que a odiava! - ele soluçou e enterrou o rosto no meu cabelo. Eu o abracei com mais força.

- Não, Pietro. Ela sabia que não era verdade. Ela sabia que você não a odiava, e que você só estava com raiva - tentei consolá-lo.

Continuamos no chão, chorando. Ambos sem ter coragem de encarar o corpo sem vida da mulher que nos trouxe ao mundo. Eu nem sequer lembrava dela, mas doía muito saber que havia perdido a única mãe que eu tinha. Agora ela se foi e morta com um tiro no peito disparado por ela.

Giordana matou a minha mãe. E eu a odiava mais do que qualquer coisa por isso.

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Faltam pouquíssimos capítulos para o fim da história e eu me sentindo tão mal pela Letícia e pelo Pietro. Coitados, não é? Perderam a mãe dessa forma... E para piorar, foi a mãe de Giancarlo que matou. Quem poderia imaginar?
No próximo capítulo tem mais!
Beijinhos,
Nick.

Era Uma Vez Em Florença Onde histórias criam vida. Descubra agora