Capítulo 46

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Os dias que se seguiram após a morte da minha mãe foram repletos de tristeza e muito silêncio. Pietro ficou ao meu lado o tempo inteiro. Nós dávamos apoio um para o outro e tentávamos nos manter fortes.

No velório e no enterro, fiz questão de ficar de braços dados com ele. Eu sei que Giancarlo ficou magoado com aquilo. Eu pude ver nos olhos dele. Mas eu ainda estava indignada por ele está tentando livrar a mãe dele da prisão. Aquela mulher... eu sentia tanto ódio dela que eu nem gostava de ouvir seu nome. Pietro compartilhava do meu sentimento. Mesmo que ele estivesse magoado com a rejeição da nossa mãe assim que nasceu, ele queria ter a conhecido mais. Eu sentia isso.

Depois do enterro meu pai me entregou uma foto minha e da minha mãe. Eu ainda era bem pequena e a minha mãe era idêntica a mim. Senti raiva por chorar tanto vendo aquela foto. Quem me visse acharia muito normal uma filha sofrer tanto por ter perdido a mãe. Mas eu mal a conhecia! Por que doía tanto?

- Com o tempo, essa dor vai melhorar, minha filha - disse meu pai, antes de sair e me deixar sozinha com a foto em mãos.

Deixei a foto de lado depois de um bom tempo e me obriguei a sair do quarto também. Estava muito cansada de chorar e precisava sair um pouco.

O novo motorista se ofereceu para me levar, mas eu recusei educadamente e disse que eu mesma iria dirigir. Isso era uma das coisas que eu não havia esquecido com o acidente. Fui até a garagem da mansão e escolhi um BMW. Eu queria ver meus filhos. Queria saber como estavam Isabella, Pietro e Fabrizio e se daqui a uma semana eles realmente iria poder ir para casa.

O trânsito estava muito calmo, de modo que eu consegui chegar no hospital em menos de meia-hora. Meus filhos estavam muito bem. Pareciam saudáveis e um pouquinho agitados. A enfermeira falou que aquilo era um bom sinal, pois significava que eles estavam cada vez mais preparados para voltar comigo para casa.

Pietro e Fabrizio acabarm dormindo, mas Isabella continou acordada. Era engraçado, os meninos se pareciam muito comigo: cabelos castanhos e olhos claros, mas a minha garotinha era a imagem de Giancarlo. Os fios dos seus cabelos eram negros, e seus olhos também eram escuros. Ela era a menina mais linda do mundo, para mim.

Fiquei conversando coisas aleatórias com ela e foi incrível o jeito que ela parecia prestar atenção em cada palavra que saía da minha boca. Naquele momento eu soube que além de uma filha, eu havia ganhado uma grande amiga.

Pouco mais de uma hora depois, eu estava de volta ao BMW. A visita aos meus filhos foi extremamente relaxante. Serviu para que eu esquecesse um pouco a dor de ter perdido a minha mãe.

Enquanto eu dirigia, notei dois carros me seguindo. Aquilo me deixou em alerta, mas poderia não ser nada e a minha cabeça paranoica estava me pregando peças. Já estava anoitecendo e quando eu entrei em uma rua praticamente deserta e muito escura, o meu carro simplesmente parou.

- Maldito carro... - resmunguei, ao mesmo tempo que descia do veículo para tentar ligar para alguém.

- Letty? - a voz de Pietro me respondeu do outro lado da linha.

- Oi. Será que você podia me buscar? O carro parou e não quer voltar a funcionar de jeito nenhum.

- Claro, onde você está?

Me virei para procurar o nome da rua. Soltei um grito assustando quando um homem mascarado me agarrou com força e pressionou um pano no meu rosto. Deixei o celualr cair, mas pude ouvir Pietro chamando o meu nome, desesperado.

Aos poucos fui perdendo a consciência a acabei desmaiando.

*     *    *

Acordei com um tapa forte. Meus olhos imediamente se encheram de lágrimas por causa da dor no lado esquerdo do meu rosto.

Minha visão ainda estava nublada, mas percebi que estava em uma espécie de porão. E lá havia apenas dois homens mascarados. O que me bateu se afastou para conversar com o outro em francês. Eu não conseguia entender do que eles falavam, mas logo uma porta foi aberta e uma mulher entrou.

Ela era loira e muito bonita. Mas tinha um sorriso de cruel satisfação no rosto. Pude ver no brilho dos seus olhos o ódio que ela nutria por mim e não demorei a perceber que aquilo tudo havia sido armado por ela.

- Quem é você? - perguntei, erguendo o queixo e tentando mostrar que eu não estava com medo.

- Não lembra de mim? Acho que estou ofendida por isso.

Não respondi e ela se aproximou mais. Usava um elegante vestido vermelho que chegava pouco mais depois dos joelhos e era ridiculamente colado ao corpo. Seus sapatos de salto alto de marca fizeram um barulho irritante no piso a cada passo que ela dava.

Quando estava suficientemente perto, falou com todo o desprezo possível.

- Olha só para você... Quem diria que uma simples brasileira sem graça iria chegar onde chegou? Casada com o presidente do Group Agnelli. E como a esperta que é, tratou de arranjar não um, mas três filhos para garantir uma boa herança.

Suas palavras me encheram de raiva. Ela estava insinuando que eu só havia engravidado por interesse e por mais que eu não lembrasse bem da minha gravidez, sabia que não tinha sido nada daquilo.

- Isso não é verdade! Se eu engravidei, não foi por interesse. Foi por amor. Giancarlo me ama e eu sei que eu o amo também - respondi e ela deu uma gargalhada sem humor.

- Ah, claro... Giancarlo te ama. Não sei quais artifícios você usou para isso, mas ele só havia amado uma mulher em toda a sua vida e esta mulher era eu. Nós estávamos juntos quando você apareceu para estragar a nossa vida e o tirou de mim! - seus olhos azuis lançavam faíscas de ódio e seu sotaque francês parecia mais carregado pela raiva que ela estava sentindo.

Então ela foi uma antiga namorada de Giancarlo? Eu o havia tirado dela? Maldita memória! Eu não conseguia me lembrar de absolutamente nada referente a isso.

- Não lembra mesmo de mim, Letícia?

Sua voz me fez erguer o olhar para fitá-la.

- Sou eu, Adèle St. Clair.

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Quem é vivo sempre aparece não é verdade? O que será que Adèle pretende fazer? Caso não se lembrem dela, ela aparece no capítulo 14 e no capítulo 18.
O próximo capítulo será o penúltimo da história. Sim, está acabando. Se der, eu postarei ele até sexta-feira, então fiquem de olho.
E no último capítulo vai ter uma surpresinha...
Beijinhos,
Nick.

Era Uma Vez Em Florença Onde histórias criam vida. Descubra agora