Capítulo 32

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Eu ainda estava em choque após ler aquela carta. Não faço a menor ideia de quem a mandou, mas algo muito forte me diz que só pode ter sido a minha mãe. Mas como isso é possível se ela está morta?

Não consegui dormir a noite inteira pensando nisso e nas palavras duras que Giancarlo disse para mim. Eu não poderia de jeito nenhum continuar nessa casa e me sujeitar a esse tipo de tratamento. Eu iria ter os meus filhos sim, e nós quatro ficaríamos bem longe dele. Nunca odiei tanto alguém, como odeio ele agora.

Fui para o closet e comecei a escolher algumas roupas. Infelizmente, teria que levar as roupas que foram compradas com o dinheiro dele. Mas quer saber? Isso é o mínino que eu posso fazer depois dele ter distruído meu coração daquela maneira. Com as malas já prontas, coloquei um vestido branco e um par de sandálias. Nem me preocupei em olhar no espelho. Eu sabia que estava horrível.

Já eram quase sete horas da manhã, provavelmente todos estariam dormindo e é melhor que seja assim. Não quero que ninguém tente me fazer mudar de ideia.

Saio do quarto e desço pela últimas vez os degraus da escada que leva ao salão principal da casa. Respiro fundo quando vejo a porta da frente. É tão estranho ir embora daqui depois de já considerar esse lugar a minha casa. Mas não era. E nem Florença. Eu tinha que voltar para o Brasil assim que o meu pai estivesse recuperado. Agora eu não era mais uma morta de fome, eu tinha toda a fortuna da herança da minha mãe para cuidar dele e dos meus filhos.

Decidida, abro a porta e saio daquela casa, disposta a deixar todo o sofrimento para trás. Vai ser melhor assim. Eu sinto que vai.

- Senhora Agnelli? Para quê essas malas? - Domenico pergunta atrás de mim.

Respiro fundo e me viro para responder.

- Estou indo embora, Domenico.

- Indo embora? Para onde? Aconteceu alguma coisa.

- Aconteceu, mas não quero falar sobre isso. Tudo que eu quero é ficar o mais longe possível de Giancarlo e daqui - falei com amargura.

- E o senhor Agnelli já sabe dessa sua decisão?

- Ele vai descobrir logo. Tenho que ir, Domenico. O táxi está me esperando.

- Mas senhora... - Domenico parece totalmente aterrorizado, olhando de mim para as malas em minhas mãos como se eu estivesse louca. - Não pode fazer isso. É muito perigoso.

Eu sorrio.

- Adeus Domenico. Gostei muito de te conhecer.

Antes que ele falasse mais alguma coisa para me convencer a ficar, lhe dei as costas e comecei a andar. A cada passo que eu dava, meu coração doía mais e mais. Era horrível deixar Giancarlo para trás, mas ele não me merecia. E os nossos filhos também não podem ficar perto de um homem que não os queria.

Quando chego perto do táxi, o motorista abriu o porta-malas e colocou minhas bagagens lá. Em seguida abriu a porta de trás do veículo para eu entrar e perguntou:

- Para onde posso levá-la, senhora?

*     *     *

Eu sou tão burra! De todos os lugares que eu podia ter pedido para o taxista me levar, peço logo para ele me trazer para o lugar mais óbvio do mundo: a casa de Pietro.

Não sabia explicar, mas senti que Pietro me protegeria. Ele não deixaria Gincarlo entrar lá se eu não quisesse. Era estranha a ligação que eu tinha com ele. Eu confiava em Pietro como confiava em minhas amigas. Resolvi parar de pensar tanto e toquei a campanhia.

Não demorou muito e uma mulher com uns cinquenta anos, usando uma saia até os joelhos azul escuro, uma camisa de abotoar branca e um quande laço combinando com a saia no pescoço abriu a porta.

- Posso ajudá-la? - ela perguntou com um sorriso amável.

- Olá, eu sou a cunhada do Pietro. Ele está em casa?

A mulher arregalou os olhos em reconhecimento e deu espaço para que eu passasse. Quando virei para vê-la, suas bochechas estavam coradas.

- Me desculpe por não reconhecê-la antes. Eu sou Isabella, a governanta do senhor Pietro. Eu vou avisar que a senhora está aqui. Quer alguma coisa?

- Não. Obrigada, Isabella - sorri para ela.

A governanta subiu as escadas e eu continuei esperando no mesmo lugar, coloquei minhas malas aos meus pés e admirei o salão da casa de Pietro. Cada canto aqui gritava que a casa era dele. Era tudo muito moderno e estiloso como ele. Não demorou muitos e ouvi passoa descendo as escadas com pressa.

- Letícia, está tudo bem com você? É alguma coisa com os bebês ou seu pai? - Pietro perguntou com preocupação correndo até mim.

Eu o abracei com força e enterrei meu rosto no seu abraço. Me senti como uma criança, já que ele era bem mais alto que eu. Mas o abraço dele me confortou muito. Me senti mais calma.

- Ei, fica calma. Está tudo bem, Letty. Me diz o que aconteceu - ele pediu, baixinho.

- Giancarlo bebeu e... quando voltou para casa me disse coisas horríveis. Disse que não me queria e nem queria os bebês. Eu não podia ficar mais lá, Pietro. Eu não sabia para onde ir, então vim para cá. Por favor, não me mande voltar para ele. Por favor! - eu falei entre soluços. Não consegui controlar o choro. Não sei se foi o abraço de Pietro ou a lembrança do que Giancarlo falou que me deixou assim.

- Ele disse isso? Como o Giancarlo pôde ser tão idiota!? De jeito nenhum vou te forçar a voltar para ele. Pode ficar aqui o tempo que você quiser, Letty. Vou te proteger como se fosse minha irmã.

Eu sorri e o abracei mais um pouco. Agora sim, eu sentia que estava segura. Fiz uma boa escolha em vir para a casa de Pietro e estava feliz por isso. Principalmente porque agora era só questão de tempo para eu sair da Itália e voltar para o Brasil, disposta a esquecer todas essas loucuras que vivi em Florença.

*     *     *

Uma hora e meia depois, meu celular não parava de receber ligações de Giancarlo, Camila e Renata. Eu sei que elas estavam preocupadas comigo, mas depois eu avisaria à elas onde eu estou.

- Giancarlo acabou de me ligar. Está desesperado procurando por você. É claro que eu disse que qualquer coisa que soubesse sobre você, diria à ele. Acho que ele merece isso depois do que te disse - Pietro falou sentando ao meu lado no sofá na sala de estar.

- Obrigada Pietro. Nem sei como te agradecer.

- Você é da família, Letícia. E não se esqueça que é a mãe dos meus sobrinhos - ele sorriu e acaricou a minha barriga. - Sua barriga está tão pequena que nem dá para perceber que está grávida.

Eu também sorri.

- Daqui à alguns meses, ela vai está tão grande que nem vou conseguir me levantar.

- Eu acho que serão meninas. E você?

- Não sei... Só quero que venham com saúde. Vão ter amor de sobra da minha parte, pelo menos.

Pietro assentiu e olhou para o relógio e seu pulso. Depois se levantou, pegou sua pasta e colocou a alça em seu ombro.

- Eu tenho um compromisso agora. Você vai ficar bem? - ele perguntou e eu assenti. - Qualquer coisa que precisar, pode pedir a Isabella ou me liga.

Eu assenti novamente.

Ele deu um beijo na minha testa e saiu apressado pela porta. Mais uma vez fiquei grata pelo seu carinho e sua proteção comigo. A maneira que ele me tratava, me lembrava muito o jeito que um irmão mais velho cuida da irmã mais nova.

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Hmmmm... Esse negócio de irmão ainda vai dar muito o que falar. Esperem só para ver kkkkk
Mais uma vez obrigada por ler esse capítulo e acompanhar a minha história.

Beijos,
Nick Ackles.

Era Uma Vez Em Florença Where stories live. Discover now