O susto

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Os amigos de David conseguiram alcançá-lo, e fizeram o máximo de silêncio quando encostaram atrás dele, que procurava encaixar a chave na fechadura da porta.

— Espera, deixe pegar meu celular para clarear melhor — sussurrou Gabriel atrás de David, já que não queriam arriscar acender a luz da varanda para não acordar os empregados que dormiam no térreo da mansão. — Pronto, peguei.

Com o celular lhe servindo de lanterna, David conseguiu encaixar e abrir a porta, fazendo um barulho ao destravá-la.

— Shiii! — Paulo pediu silêncio levando o dedo à boca. David nem estava se importando, e acendeu a luz do corredor, inundando os ambientes com uma luz claramente branca. — Desse jeito todos vão acabar acordando, David!

— Cala boca, os empregados estão dormindo é no quarto e não no chão dos cômodos! — resmungou, e caminhou para subir as escadas que levava para o segundo andar.

— Tudo bem, mas vê se não anda esbarrando nas coisas — pediu Paulo, o que tinha bebido menos, ou que pelo menos estava se recuperando mais rápido da embriaguez.

Hélio e Gabriel tropeçaram e caíram de cara no chão, por sorte não derrubaram nada. Paulo bateu a mão na testa, suprimindo a sua raiva, e ajudou-os a levantar.

— É melhor vocês tomarem cuidado ao subirem as escadas, eu não vou responsabilizar se caírem dela rolando abaixo — avisou Paulo, e seguiu David que já estava na metade do caminho.

David chegou ao corredor, e acendeu a luz dele também, e rumou para o seu quarto.

Paulo veio atrás, e parou na porta onde sabia que atrás dela se encontrava o filho da babá. Ficou tentado, e verificou se a maçaneta dela estava trancada ou destrancada. David escorou na parede, e olhou para trás, vendo a intenção do amigo.

Está aberta! — sussurrou Paulo ao verificar. Depois afastou-a lentamente, deixando que um pouco da claridade da luz do corredor adentrasse no quarto, e ele de uma pequena fresta da porta viu Lucas dormindo de lado na cama. Ele fechou a porta com todo cuidado, e andando a passos leves, chegou até David.

— Estou cansado, acho que vou deitar cara — murmurou David. Paulo estranhou.

— Não, não, a gente combinou, esqueceu?

Gabriel e Hélio apareceram no corredor se apoiando na parede. Eles estavam lutando para se manterem equilibrados. David se adiantou e segurou Gabriel de esborrachar novamente no chão.

— Eles mal conseguem ficar de pé Paulo, acho melhor deixarmos isso para outro dia, quando a turma toda estiver consciente.

Hélio entendeu o que David e Paulo estavam falando e disse.

— A gente vai assustar o moleque agora, sem esperar mais um minuto.

Paulo pediu que ele falasse mais baixo.

— É a gente combinamos — Gabriel disse com a voz engrolada, e David impaciente com a teimosia de ambos decidiu.

— Vamos logo terminar essa porra então! — ele por fim disse, entrando no seu quarto, com seus amigos atrás.

Hélio sentou na cama dele, enquanto Paulo abria a porta do closet, e de lá de dentro removia a caixa com Semíramis.

— Muito cuidado com ela — pediu Hélio. — Ela é minha xodó.

— Credo, acho tão feia! — respondeu Gabriel, fazendo cara de nojo, e Hélio se levantou furioso para bater no amigo, mas ao fazer o repentino movimento, se desequilibrou e caiu para trás na cama.

— Querem os dois pararem de se comportar como idiotas?! — Paulo ralhou para eles.

— Ele disse que ela é feia! — choramingou. — Ela não é feia, ela é linda!

Gabriel repensou.

— Feia não é — Hélio abriu um sorriso. — Na verdade é horrível.

David ficou irritado com a birra dos amigos, e pegou a cobra com as duas mãos, uma segurando entorno da cabeça dela, e a outra onde seria a região da sua barriga, não dava para ter uma noção exata em que parte começava a barriga e o restante.

Paulo sentou numa cadeira e abriu o notebook de David em cima da mesinha, e Gabriel e Hélio prestavam atenção enquanto ele teclava e agora a tela do notebook filmava o interior do quarto ao lado.

David segurava a cobra que media aproximadamente 1 metro e trinta de cumprimento, e passou metade do corpo dela no seu ombro, para que pudesse abrir a porta do quarto onde Lucas dormia. A ação real era assistida pelos amigos no notebook, e David olhou em direção a web cam e a viu ligada. Com passos silenciosos ele se aproximou à cama, e antes de repousar a cobra no espaço vago do colchão, reparou como Lucas dormia tão suavemente, com a respiração leve... ficou admirando ele por alguns instantes, e depois deu conta que precisava terminar o serviço.

Colocou a cobra com cuidado, e ela se enrolou. Alguns instantes depois David estava entrando para seu quarto enquanto seus amigos agora estavam de olho na tela do notebook, ansiosos.

— Ela vai começar a subir nele... nossa ela vai mesmo! — disse Paulo.

— Tenho medo dele machuca-la, se ele fazer algo com minha Semíramis eu mato ele! — avisou Hélio.

— Olha lá, ela está em movimento... — apontou Gabriel. — Vem David, vai perder a diversão.

David aproximou de seus amigos. Seus olhos avistaram a cobra deslizando e agora subia por cima de Lucas.

Lucas estava dormindo quando sentiu algo mexendo no seu braço. Ele levantou o braço, e a cobra deslizou para o lado, e agora Lucas se posicionara deitando de bruços, esticando sua mão que ao fazer esse movimento, tocou na pele da cobra.

Despertou por completo atento, se apoiando nos cotovelos, atordoado após sentir ter tocado em algo frio e mexendo. O quarto estava escuro, mas a câmera da web cam tinha visão noturna e conseguia captar imagens em movimentos mesmo em plena escuridão.

Lucas ficou atento, esperando ter certeza se sentira algo ou foi só sonho, e então se ajoelhou na cama, seus sentidos em alertas, e sentiu o lençol mexer, e rapidamente estendeu a mão às cegas em busca do abajur, tateando-o até acha-lo e liga-lo. Seus olhos estalaram ao olhar a imensa cobra ao seu lado.

— AAAAAAAH! — ele berrou alto, caindo da cama e seus pés enroscaram na ponta do lençol, puxando ele junto com a cobra que caiu por cima dele. — NÃÃÃOOOO! SOCORROOO! POR FAVOR, ALGUÉM ME AJUDE!

Gabriel e Paulo desatavam em gargalhadas, enquanto Hélio ficava preocupado com a segurança da cobra, que deslizava pelo chão assustada.

— Ele a derrubou! Ele a derrubou não chão! — Hélio exasperava alto, mas seus amigos não deram bola de tanto que riam. David porem não esboçava reação nenhuma, e escutava do quarto ao lado os gritos frenéticos do garoto.


O Filho da BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora