O rapto

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Foi o grito da empregada Antônia que fizeram todos correrem apreensivos até onde ela estava em prantos, ao lado do corpo do Alfredo, o mordomo.

Melinda chegou primeiro ao local, e assustada correu de volta pra dentro da mansão, passando ao lado de Olavo Odebrecht que ficou sem saber para onde ir, depois que viu a babá cortando ao seu lado em tamanha velocidade fora do comum.

A sra. Maria Lurdes encontrou Melinda no corredor, vindo apressada.

— Melinda, o que está acontecendo? — mas a babá passou por ela sem falar nada, indo para o seu quarto. Estava bastante angustiada. Ao entrar, seus olhos fez uma varredura por ela...  Ana Clara.

— Minha filhinha... onde está?... — era assustador. Um momento de terror. Maria Lurdes seguiu Melinda, e adentrou o quarto.

— Melinda, por favor, o que afinal está?... — mas ela parou de falar quando viu Melinda, a babá sentada na beira da cama segurando um pedaço de papel enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela ficou tensa e se aproximou dela, tremendo. — O que aconteceu?... onde está Ana Clara, Melinda?...

Lá fora os empregados da mansão estavam ao redor do corpo do mordomo, e Olavo Odebrecht ajoelhado verificando se havia pulsação no corpo do amigo e fechou os olhos por alguns segundos, em pesar por ele. Depois suas mãos verificaram os bolsos do uniforme encontrando um aparelho de celular, pegando discretamente, se levantando.

— Devemos chamar a polícia, senhor? — indagou um empregado.

Olavo Odebrecht o olhou por um longo momento, e balançou a cabeça negativamente.

— Ainda não, vamos esperar um pouco.

A empregada Antônia estava abraçada com a cozinheira Sônia, em soluços, enquanto ia sendo consolada.

A sra. Maria Lurdes vinha descendo aos gritos e em lágrimas, chamando atenção de todos. Olavo foi em sua direção, e via que ela estava atribulada em sua mão havia um papel.

— Querido... nossa filha... foi... ooh não! — ela tentava dizer entre os soluços e o desespero quando o marido a abraçou sem saber o que estava acontecendo.

— Querida, por favor, o que está acontecendo? — ele tomou a folha de papel da mão de sua esposa e começou a ler.

Não pode ser... — murmurou mais atribulado ainda, ao saber que Ana Clara, sua filha foi raptada e que a teria de volta quando entregasse Lucas.

David desembarcou do avião e já havia um carro a sua espera no aeroporto.

— Boa noite senhor — cumprimentou o motorista ao abrir a porta para ele, e fechar em seguida, partindo para a mansão.

Pelo caminho David pensava em Lucas, e pegou seu celular e resolveu ligar para ele, avisá-lo que havia pousado. Ficou esperando Lucas atender, mas a ligação caiu na caixa postal.

Longe dali. Lucas estava caminhando numa calçada, do outro lado do prédio onde estava hospedado. Seu celular havia descarregado a bateria sem que percebesse.

— Hei garoto? — uma voz o fez sobressaltar de medo no mesmo lugar, e olhou para o lado. Viu um homem sentado, com uma espécie de manto enrolada no corpo. Era um mendigo. — Estou com fome, tem alguma coisa para eu comer?

Lucas recuperou do susto e se afastou com medo, mas querendo ajudar o pobre homem.

— Bem, eu... eu tenho algum dinheiro aqui comigo.

— Olha, desculpe te incomodar, sei que está assustado, mas eu não como a horas — disse ele.

Lucas sentiu comoção por ele. Olhou do outro lado da rua, e viu uma lanchonete aberta.

— Se quiser eu posso pedir um lanche para o senhor, aceita?

— Claro que sim, agradeceria — disse o homem sentado.

Lucas sorriu e resolveu atravessar a rua, quando estava fazendo a travessia, uma vã preta apareceu acelerando rápido, e Lucas no meio da pista recuou para trás assustado de ser atropelado. O veiculo derrapou os pneus, parando ao seu lado. A porta se abriu e dois homens altos e desconhecidos saltaram de dentro, com as mãos estendidas agarraram Lucas pelos braços, não dando tempo para ele correr, enquanto gritava sendo forçado para dentro do carro. O mendigo se levantou apressado de onde estava, na calçada, arrancando o manto e jogando de lado. Correu em direção a porta aberta, e se jogou, sentando ao lado onde Lucas se agitava nos braços de um outro cara, que tentava imobilizá-lo. Lucas teve a boca tampada, e tentava morder o sujeito.

O mendigo fechou a porta da vã e o motorista acelerou, indo embora.

— Lucas me ouça! — o mendigo se dirigiu a ele, e Lucas ficou assustado ao perceber que o mendigo fazia parte daquele plano, e que o havia enganado. — Não vamos machuca-lo, mas se forçar a barra, teremos que usar a força para se acalmar, entendeu.

Lucas olhava para ele de lado, com os olhos arregalados e a boca ainda tampada. Estava sem saída, e só única solução era concordar para ganhar a confiança deles, e num momento de descuido que eles tivessem, usaria para tentar escapar.

O homem que o segurava soltou a mão de sua boca. Lucas respirava pesado, olhando para os homens ali ao seu lado, vigiando-o atentamente.

— Vocês... o que irão fazer comigo?...

— Não temos permissão para falar nada — um deles disse e Lucas não pôde ver bem o seu rosto.

O mendigo falso comentou.

— Fique calmo, e quieto.

— Por favor, me deixe sair... eu juro que não comento nada disso com a polícia... por favor — Lucas começou a implorar.

Um dos homens sentado no banco do carona, disse ríspido.

— Droga, eu disse que era melhor ter sedado ele, não quero ouvir choro!

Lucas engoliu o choro, com medo de ser sedado e assim ficaria impossível tentar escapar.

— Tudo bem, eu... vou me calar — disse Lucas na esperança de conseguir ficar consciente.

— Acho bom mesmo, se não vamos apagá-lo! — respondeu o cara de mal humor, fazendo seus companheiros rirem.

Lucas ajuntou as pernas, estava tremendo. Ele não sabia o que ia acontecer com ele, mas temia que Camila estivesse alguma coisa haver com aquilo, e seu pavor intensificou mais ainda. Em outras palavras ele estava perdido.

Olhou discretamente para a trava da porta. Mas como estava sentado no meio de dois homens, e na sua frente mais um cara, seria difícil alcançar a trava e abri-la. Um passe em falso, e sua chance de escapar estaria perdida.

De repente Lucas ouviu a voz do homem que estava no banco do carona dizer no celular.

— Senhor, estamos com ele e indo para o esconderijo.

Do outro lado da ligação, afastado do corpo de Alfredo, que ia sendo carregado pelos empregados a pedido dele, o senhor Olavo Odebrecht ouvia a confirmação dos homens contratados por Alfredo, a fim de concluir seus planos futuros, mas o contratempo que apareceu colocaria seu plano de longos anos a ruínas se não encontrasse uma saída rápida.


O Filho da BabáWhere stories live. Discover now