O Filho da Babá

Selfie

Todos estavam à mesa, sendo servido, e apreciando a boa refeição.

— Sinceramente ver a família assim toda reunida me deixa feliz — comentou a senhora Maria Lurdes. — Da até vontade de usar aquela coisa no celular para tirar fotos e postar no facebook... — dizia ela. — Como é que se chama aquilo mesmo?

Todos estavam olhando para ela. David respondeu.

— Selfie, mãe.

— Isso mesmo querido.

O senhor Olavo riu.

— Essas coisas são para os jovens amor, a gente não faz esse estilo.

— Oras a gente pode começar a fazer parte desse estilo — sugeriu.

Camila pegou o celular e se levantou, foi até a frente da mesa, no meio do casal Odebrecht e esticando o celular para o alto, disse.

— Vamos experimentar então — ela tentava pegar a todos na tela de captura. Lucas sentiu sem jeito e se afastou, mas Olavo percebendo sua intenção, esticou sua mão e puxou o braço de Lucas, fazendo ele voltar a sua posição.

— A família toda — disse ele, e Lucas sorriu agradecendo.

— Amorzinho você precisa se aproximar mais — pediu Camila ao namorado.

— Podem tirar eu não quero sair — disse ele ignorando os presentes que se aglomeravam para sair na foto.

— Venha David, deixa de ser chato — pediu sua mãe.

— Esse negócio de selfie em família não é comigo — respondeu ele, e se levantou.

Lucas também se levantou e todos pararam e olharam para eles.

— Não quer tirar a foto por minha causa? — perguntou Lucas sem se importar com os demais observando-o. Camila abaixou o celular e olhou desconfiado para seu namorado e depois olhou para Lucas com uma raiva disfarçada.

David ficou levemente surpreso.

— De onde tirou essa ideia hem? — e depois riu irônico. — Não incomodo tirar a foto com você, só não estou a fim, entendeu?

O senhor Olavo suspirou e bebeu um gole de seu suco.

— Tudo bem, se não quer participar então vamos deixar a foto para outra ocasião — desistiu a senhora Maria Lurdes, ficando desanimada.

Lucas esforçou o máximo para não discutir com David por sua insensibilidade, e viu David se virando e saindo da mesa.

— É essa é a nossa família — comentou o senhor Odebrecht erguendo a taça de suco em um tom de brincadeira, para amenizar o momento embaraçoso que ficou pairando no ar.

— Os senhores podem me dar um minuto? — pediu Lucas se dirigindo ao casal na mesa, que sem entenderem, concordaram balançando a cabeça.

— Filho, por favor... — começava a falar a mãe de Lucas, quando viu o mesmo começar a sair.

— Deixe ele, não se preocupe — interrompeu Olavo e Lucas não se deixou ser impedido por mais ninguém, e saiu atrás de David que estava indo para fora.

— Hei, seu idiota quer me esperar um minuto? — falou em voz alta e David parou olhando por cima do ombro.

Lucas lhe aproximou tanto que a intenção era obvia demais. David se esquivou do soco que Lucas aplicara.

— Quer lutar comigo é? — disse David e se afastou, se posicionando, levantando os punhos, sorrindo, chamou Lucas pra a briga. — Vem pra cima seu viadinho.

Lucas sentiu o rosto arder de raiva pelo jeito que David falara, e pulou para cima dele, mas foi facilmente imobilizado, e tentando se soltar dele, sentiu sendo posto de joelhos.

— Você se acha né seu valentão egoísta! — disse Lucas antes de sentir a sua cara encostar-se à grama.

— Posso fazer você comer grama se eu quiser... — riu David por trás segurando os braços de Lucas com força. — Ao menos que me peça perdão não vou te soltar.

Lucas riu de raiva.

— Vai se ferrar, prefiro comer grama!

Lucas sentiu a cara se apertar na grama com força quando David largou uma de suas mãos e pressionou o lado de seu rosto no gramado. Lucas aproveitou e conseguiu rolar de lado, e ergueu o pé acertando as partes íntimas de David.

— Seu filho da puta! — rolou David de dor para o lado, e Lucas se levantou, sem pensar, pulou sobre ele, e com punhos fechados tentava acertar ele. Um de seus socos acertou seu rosto, e David reagiu empurrando-o de cima dele, e Lucas caiu de costas.

Os dois se levantaram ao mesmo tempo, e David massageando o local mais afetado, olhava com raiva para Lucas que estava coberto de grama, e a cara suja.

— O que está esperando... venha pra cima seu... seu estúpido arrogante! — gritou Lucas.

— Se eu te socar pra valer vai desmaiar, melhor sair de perto de mim sua bichinha! — ameaçou.

— Prefiro ser uma bichinha do que um filho idiota que não sabe valorizar os pais que tem! — retrucou com raiva.

David ficou encarando ele, e Lucas caiu sentado no gramado, de cabeça baixa.

— Você está bem? — David se aproximou dele, e se apoiou com o joelho no gramado.

— Sai daqui... me deixe em paz, por favor — pediu com voz chorosa.

— Vai chorar agora feito uma menininha é? — riu e deu um toque no ombro dele, tentando fazê-lo rir.

— Para de me chamar assim, seu grosso! — Lucas afastou a mão dele quando tocou sobre seu ombro, e virou para o lado.

David se levantou.

— Mas você acaba de confessar que é, o que posso fazer?

Lucas se levantou, limpando as gramas que ficaram na sua calça.

— É eu disse, mas foi na raiva — disse.

David sorriu.

— Mas você é ou não, diga aí.

— Vai se foder David!

Ele gargalhou.

— Nervosinho desse jeito não adianta negar mais.

— Seu babaca — forçou um riso ao ver David rindo da sua cara. — Você sabe ser insuportável o tempo todo, ou só faz isso para me irritar?

— Talvez para te irritar, já que não quer me perdoar.

Lucas ia xingá-lo, quando parou e pensou.

— Eu só te desculpo se você voltar comigo para a mesa, e tirar a selfie em família.

David fez uma careta.

— Isso é chantagem.

— É uma troca justa não acha? — propôs Lucas.

— Talvez...

— Vai logo decida! — Lucas estava impaciente.

— Tudo bem, só porque está louco para me perdoar e não quer que eu perceba.

Lucas riu ironicamente, e depois pensou.

— Talvez...

Minutos depois os dois adentraram e todos na mesa se assustaram com o estado em que eles se encontravam. Ambos sentaram nos seus lugares, e David sorrindo para a família disse.

— E aí a Selfie vai rolar?