A notícia

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Lucas não entendia porque aquilo estava acontecendo com ele. Seu coração estava despedaçado, sua vontade era de fugir daquele lugar, esquecer de todos, voltar de onde tinha saído. Não fazia parte daquele mundo, e se sentia um idiota por deixar se enganar facilmente.

Não conseguia sentir ódio por Felipe, muito menos por David. Eles eram o que eram, e não mudariam por causa dele.

Correu para o quarto, e abriu a gaveta, tirando suas roupas, e pondo em cima da cama. Suas mãos tremiam. Talvez seu pai estivesse mesmo certo, quando tentou avisá-lo para sair daquele lugar... talvez o seu pai pressentira algo de ruim que aconteceria com ele.

As suas férias letivas estavam sendo um desastre. Iria voltar para a cidade com seu pai, que com certeza já estava a caminho para busca-lo. Pegou a mala e foi abrindo-a.

As lágrimas de raiva começavam a descer, sua mão tremia, e com um ímpeto de fúria pegou a mala com força e jogou contra a parede, e se atirou de bruços na cama, socando o colchão.

Felipe era infiel até com David, seu amigo, porque seria diferente com ele? Alguém que acabara de conhecer?

E David, um cara tão enigmático, durão, orgulhoso, e que deixava ele confuso, e que queria saber mais dele, mas a medida que conhecia ficava arrependido.

Ambos eram farinhas do mesmo saco e se mereciam. Pegou o celular e apagou a foto que comprometera Felipe e Camila. Não interessava mais aquilo, e que não iria se envolver.

Resolveu tomar uma ducha, talvez o banho deixasse-o mais calmo, para pensar no que iria fazer, se iria para casa de sua mãe e esperar por seu pai lá, ou se iria esperar sua mãe chegar e falar para ela de sua decisão... mesmo sabendo que se ficasse ali teria que confrontar o senhor Olavo, que certamente iria brigar com David, suspeitando que ele seria a razão por ele querer ir embora.

Estava num fogo cruzado. Não queria atrapalhar a vida das pessoas, e mesmo que David não tivessem os melhores amigos do mundo, ainda assim, ele gostava deles, e era tudo que mais queria, tê-los a sua volta, e ele não poderia estragar tudo.

No banheiro, se despindo, ele adentrou debaixo da chuveirada e refletia que a melhor solução era esperar por sua mãe, dizer que seu pai ligara e que estava vindo para visitá-lo na casa de sua mãe. Ele iria para lá, encontraria seu pai, ouviria melhor o que ele não explicou no celular, e se fosse necessário ia ir embora com ele, mesmo que tivesse que ficar sozinho enquanto seu pai ainda trabalhava fora. Já era de maior de idade mesmo, não seria a primeira vez que dormiria sozinho em casa, e para não sofrer mais por pessoas que não mereciam sua atenção, ele logo se recuperaria e iria tocar a vida.

Depois de uma ducha demorada e bem quente, ele se enxugou e vestiu. Foi para o quarto e tentou se distrair vendo TV. O seu celular começou a tocar, e ele mais que depressa abaixou o volume da TV e esticou a mão para o aparelho, torcendo que fosse seu pai. Mas era sua mãe.

— Oi mãe — ele disse, também sentindo aliviado por ela estar ligando, iria poder explicar a ela que iria para sua casa, sem ter que encarar o senhor Olavo, que ficaria tentando convencê-lo a ficar. — Eu estava mesmo querendo falar com você, é sobre meu pai, ele... — Lucas parou de falar, e depois retornou. — O quê? Ele já ligou para você?

— Não Lucas, ele não... — respondeu sua mãe do outro lado da linha, com a voz arrastada e triste.

— Mas a senhora disse que recebeu a ligação dele agora pouco.... — dizia Lucas.

— Era do celular dele Lucas.

— Mãe... o que a senhora quer dizer? — ele estava ficando preocupado. Silêncio. — Mãe?

— Lucas... eu não sei... mas por favor, eu quero que fique aí.

Lucas estava ficando assustado.

— Mãe o que está acontecendo? Quem é que ligou para a senhora? E porque estava com o celular do meu pai? Ele ligou para mim e a ligação caiu, o que aconteceu?

— Filho... o seu pai... ele... — a voz de sua mãe era sobrecarregada de tristeza. Lucas tremia, sentia o celular escorregar da sua mão crispada. — Seu pai Lucas... sofreu um acidente.

O coração de Lucas disparou.

— U-Um acidente?

— Ele não resistiu filho — disse ela finalmente.

A última fala causou uma avalanche sobre ele. Sua mãe estava falando a sério? Estaria ela errada, ou apenas querendo assustá-lo? Não... ela não falaria aquilo por brincadeira... a ficha não estava caindo. Seu pai não podia estar morto... ele estava vivo e vindo para busca-lo. As lágrimas escorriam sem parar agora, e a garganta quase fechada custava produzir algum som.

— Não... a senhora não pode dizer isso... NÃO O MEU PAI ESTÁ VINDO ME BUSCAR, ELE DISSE ISSO PRA MIM!!!! — Lucas gritou e jogou o celular para longe, com medo de ouvir a voz repetindo o que ele jamais queria admitir.



O Filho da BabáWhere stories live. Discover now