Girls Talk Boys

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Dawn

— Falar sozinha é bem natural da sua parte — ouço a voz conhecida atrás de mim.

Giro-me e encontro Luke ao lado do carro, o que indica que ele provavelmente veio por outra saída do aeroporto.

— Podemos ir? —  Luke tenta sorrir, mas acaba fazendo uma careta forçada. —  Daqui a pouco surgirão muitas pessoas.

— Certo. —  balanço a cabeça. —  A mala?

Luke pega sua mala do chão. A bagagem única me surpreende, mesmo sendo grande. Eu esperava que ele levasse mais coisas para uma turnê. Entretanto, conhecendo Luke como conheço, ele provavelmente foi embora com muitas coisas, mas esqueceu metade delas por todos os lugares em que passou. 

Bom, eu conhecia Luke. Conhecia.

— Eu vou deixá-la no banco traseiro, acho que não cabe no porta-malas —  ele coloca sua mala onde indicou.

Espero Luke entrar no carro antes de me dar conta de que devemos partir. Não é conveniente ficar em pé bem no estacionamento, afinal. Entro no carro e ligo-o, fazendo o rádio ligar junto. A música Closer do The Cainsmokers toca mais alto que o esperado. Luke alcança o botão do volume, abaixando-o. 

A música não poderia ser mais adequada, poderia? Quer dizer, quatro anos e nenhuma ligação soa bem familiar para mim.

Deixamos o aeroporto em silêncio, embora Luke permaneça cantarolando baixinho a música ao meu lado. Remexo-me desconfortável em meu assento e desejo que isso acabe o mais rápido possível. A minha casa parece ótima para mim agora, longe de Luke e seus ruídos que parecem costumeiros de mais para mim, como se eu tivesse passado os últimos quatro anos ouvindo-o cantar.

Bem, a quem eu quero enganar? É impossível não ter ouvido Luke cantar nos últimos quatro anos. Ele toca na rádio pelo menos uma vez ao dia.

— Então agora você trabalha para meu pai? —  sua voz puxa-me de volta à realidade.

— É, no escritório —  mantenho um tom casual.

— Desde quando? —  ele inquere.

— Dois mil e treze. Comecei junto com a faculdade, no começo do mesmo ano. Trabalhar lá fez com que eu me formasse dois anos antes por crédito extra.

— Além das notas boas da escola — ele acrescenta.

— Além das notas boas da escola — repito.

— E o que você faz lá? Atende telefonemas? Recebe pessoas?

Uma onda de raiva me atravessa instantaneamente. Não tenho certeza se quero socá-lo por insinuar que ser recepcionista é algo ruim ou por insinuar que sou uma, o que seria ruim para ele.

— Na verdade eu traduzo livros para o francês e edito livros também —  contenho-me para não explodir com ele e apenas mostrar-me superior. —  Além disso, devo publicar um original meu no primeiro semestre do ano que vem.

Luke vira-se para mim e olha diretamente para meu rosto. Sustento seu olhar por alguns segundos antes de voltar a focar na estrada, mas continuo ciente de seus olhos sobre mim.

— Bom, deve saber o que fiz nos últimos anos. Engraçado — ele força uma risada.—  em dois mil e quinze eu estive de volta, mas não a vi por aqui, além de todas as outras pequenas visitas. Onde você esteve se divertindo tanto?

— Na verdade eu ainda estava na faculdade —  balanço a cabeça.—  Não soube das suas vindas.

— Os garotos não avisaram? Calum? Michael? Até mesmo Ashton avisaria, eu acho.

— Não, Luke. Você levou todos eles junto com você. Fez um excelente trabalho em me deixar sem nada, como disse que iria fazer.

Repentinamente, Luke começa a rir. A risada mais sonora que escutei nos últimos anos. Em seguida, ele passa a balançar sua cabeça no ritmo de Girls Talk Boys, a música da própria banda, que toca na rádio.

— Pelo que eu me lembre, foi você quem gritou aos quatro cantos do mundo que eu deveria ir embora com todos os meus sonhos podres de enriquecer e levar os garotos comigo, já que "eu contorci o amor deles pela música, tornando tudo apenas vontade de fazer dinheiro"—  Luke repete o que eu lhe disse no dia em que brigamos pela última vez e torna a balançar a cabeça. Acrescenta: — Essa parte realmente ficou boa... "It's something I don't understand, no, no..." 

Como reflexo, desligo meu rádio, interrompendo a cantoria animada de Luke. Ele não tem o direito de cantar no meio de uma discussão.

— Eu lembro das coisas de maneira diferente, Luke—  falo pausadamente. Qualquer deslize e eu começarei a gritar com ele. Pior, eu posso começar a chorar a qualquer comento.—  Você me fez promessas e você as quebrou. E então quando eu já não aguentava mais, você disse que enquanto você se prendesse a qualquer laço comigo, eu sempre o puxaria para baixo e você nunca ficaria famoso. Você disse que nunca ficaria famoso cumprindo as promessas que me fez e foi aí que eu disse que você deveria escolher nossos sonhos ou sua fama e você disse que não poderia manter nossos sonhos. Foi que eu mandei você embora, Luke — engulo o nó que se forma em minha garganta, obrigando-me a continuar colocando tudo para fora. — Você disse que levaria cada sonho que nós construímos com você e então você tirou tudo que eu tinha.

— Para de falar como se fôssemos grandes coisas naquela época. Éramos crianças —  posso vê-lo revirar os olhos sem mesmo olhar diretamente para ele. —  Não construímos coisas juntos, Dawn, nós apenas fantasiávamos. E eu não tirei nada de você. Os garotos não foram embora comigo porque eu os obriguei. Tiveram escolha.

— É uma escolha muito razoável ter que decidir entre uma amiga em Sydney e um contrato milionário.

— Então você sabe que eu não poderia ter escolhido você ao invés de toda a minha carreira —  ele suaviza o tom de voz.

— Eu só pedi para que você me incluísse, Luke. Que ficasse, terminasse a escola e então eu seguiria você até o inferno, como eu sempre fiz —  como era esperado, algumas lágrimas escapam, deixando minha voz embargada. 

— Eu não tinha esse tempo —  ele justifica. 

— E que diferença faz? — forço uma risada e enxugo o rosto com as costas da mão direita. 

A rua de Luke parece ficar mais longa no silêncio, até descermos do carro. Ele puxa sua mala e me espera sair do carro e trancá-lo, antes de abrir a porta da frente da casa de seus pais. 

Andrew surge pelo comprido corredor, com um grande sorriso para Luke.

— Meu Deus, garoto! Você está ainda maior! — vejo-os se abraçar em cumprimento. — Onde estão aqueles três moleques?

— Eles devem chegar à Austrália em algum momento da próxima semana —  Luke explica entre sorrisos. —  Onde está mamãe?

— Na cozinha — Andrew agita as mãos, indicando o corredor. —  Ela está terminando de assar o carneiro.

— Mamãe fez carneiro? — Luke ri, seguindo para a cozinha atrás de Liz. 

Andrew vira-se para mim, que estive de pé, tão imóvel quanto o sofá da sala. 

— A volta de Luke sempre nos deixa assim — ele sorri com condescendência, o que me leva a pensar sobre minha cara de choro. —  Você sabe como é, não sabe? Sempre estar esperando para que alguém volte para casa e sentir medo de quando irá embora novamente. 

Com isso, Andrew se junta à Liz e Luke na cozinha, deixando-me para digerir os acontecimentos da última hora. 

Dawn || Luke HemmingsWhere stories live. Discover now