Dawn || Luke Hemmings

Stay

Dawn

Os olhos de Luke transbordam toda curiosidade que ele não pode mencionar em voz alta. Ele estuda cada pedaço de mim, procurando qualquer parte vacilante que prove o quanto eu quero ir embora e o quanto me arrependi de ter dito que ficaria. Eu não pude fazer nada, de fato. Depois de tantos anos, algumas coisas não mudaram em Luke e nem minhas reações à elas. Ele continua tentando me testar e me levar ao limite, enquanto eu continuo tentando não ceder. Se Luke acha que eu gosto, eu digo que não. Se Luke diz que eu tenho medo de algo, eu reúno toda coragem que tenho.

Se Luke tenta me provocar a ir, eu fico.

— Então o que faremos enquanto minha mãe não chega? —  ele mal pode conter o sorriso prazeroso.

— Almoçamos primeiro, certo?—  permaneço inabalável.—  Vamos pedir pizza. 

— Você quer o número do delivery? — ele se levanta do sofá com um pulo.

— Já ouviu falar em pedir pela internet?—  puxo o celular do bolso da calça jeans.—  Gente famosa usa métodos estranhos ou só o único e exclusivo Luke Hemmings? 

— Eu quis facilitar as coisas—  Luke resmunga e torna a sentar.

— Você sempre quer.

— E você sempre age como se estivesse sempre certa, mesmo quando não há um lado certo.

— Há um lado certo quando uma das pessoas acaba com o coração partido—  percebo a grande besteira que fiz quando termino a frase.

Luke engole em seco sem desprender seus olhos dos meus. Alguma coisa em seus olhos me incomoda muito, desde que ele voltou. Não consigo parar de prestar atenção neles e não consigo parar de pensar que há algo faltando ali. Continuam azuis, mas brilham de uma maneira diferente do que eu me lembrava. Como se faltasse algo em Luke.

— Se o seu método prático vai demorar tanto, acho melhor ligarmos— ele lembra-me de que não fiz o pedido.

Apresso-me pelo aplicativo e peço a pizza de pepperoni. 

— Pronto—  anuncio.

— Então eu não merecia decidir o sabor da pizza?

— Não precisa ser muito inteligente para saber que você escolheria pepperoni—  reviro os olhos.

— Parece que alguém não esqueceu meus hábitos—  ele sorri sugestivamente.

Os sorrisos de Luke me irritam de uma maneira inexplicável. Eu não posso entrar no jogo dele e ele sabe disso, portanto continua. Hora ou outra, eu vou querer contrariá-lo por puro capricho.

— Você não mudou tanto quanto acha que mudou, Luke—  devolvo seu sorriso.

— Eu acho que você vai descobrir o contrário— ele dá de ombros.—  O que faremos durante este longo e agradável dia que passaremos juntos? Você quer sair de casa?

— Me aventurar pelas ruas movimentadas com você? Sem chance. Não preciso de mais um site de fofocas fantasiando um relacionamento que não temos.

— Não seria tão ruim pra você.

— Não seria tão ruim pra você —   meu tom sai mais agudo que o intencional, apenas transmitindo meu desespero ao considerar um relacionamento com Luke.

Espera, quem está considerando?

— Ficamos em casa, então—  ele ri.—  Podemos passar a tarde assistindo Netflix. 

— Juntos? —  franzo o cenho. Tudo com Luke parece incerto demais para concordar na primeira vez. 

— Já chega, Dawn—  Luke suspira.—  Aparentemente, estamos mesmo fazendo isso, então vamos fazer com que seja agradável. 

— O que estamos fazendo? 

— Isso—  ele aponta para o próprio peito, então para mim e para si de novo. 

Não faço ideia do que é isso, mas balanço a cabeça de qualquer maneira. Luke assente para mim, certificando-se de que concordamos, então encontra o controle da televisão, procurando qualquer coisa no catálogo da Netflix. Considero participar da escolha quando assisto-o passar vagarosamente por cada título, quando a campainha toca.

— É sua casa—  dou de ombros, esperando que ele atenda.

— Eu não posso atender o cara da pizza—  ele faz parecer ser óbvio.

— Por que não?

— Eu sou famoso.

— E aí?

— Dawn, abra a maldita porta antes que nossa pizza vá embora.

Lanço-lhe um olhar mal criado antes de ir até a porta de entrada e abri-la. Uma garota baixinha me encara, como se procurasse algo em meu rosto. Um crachá pendurado em sua blusa vermelha diz que seu nome é Nara. Ela arregala seus olhos puxados brevemente, em um reconhecimento que me deixa preocupada. Depois de sair em sites de fofocas, não é surpreendente que garotas de dezessete anos andem me reconhecendo por aí. Principalmente Nara, que aparenta ser uma aluna de colegial que entrega pizzas para bancar roupas novas semanalmente.

— Eu conheço você?

— Não — rio com simpatia e coloco o dinheiro em cima da caixa de pizza que ela segura.

— Conheço sim— ela diz enquanto me assiste pegar a caixa de suas mãos.

— Não, Nara, você não conhece. Pegue o dinheiro— estico a caixa para que a garota pegue o dinheiro.

Nara pega o dinheiro com relutância, mas continua me encarando. 

— Você é a namorada do Luke Hemmings!— ela se empolga antes que eu possa fechar a porta.

— Bom trabalho! —   volto para casa e fecho a porta, deixando Nara para trás.

Luke aparece com duas latas de refrigerante em mãos e me fita com curiosidade.

— O que aconteceu?

— A entregadora de pizza era uma adolescente que provavelmente viu uma foto minha no Facebook.

— Ótimo— Luke revira os olhos. —  Em menos de um dia eu vou ter que sair da casa dos meus pais. Obrigada, Dawn.

A caixa de pizza se parece mais com uma arma letal no seguinte em que Luke revira os malditos olhos. Eu poderia girá-la como um disco e assisti-la chocar-se contra a cabeça de Luke, espalhando molho de tomate e queijo pela sua cabeça, sujando seus fios loiros bem tratados.

Eu continuo segurando a caixa.

— Não é minha culpa! 

— Nunca é sua culpa! —  Luke estende as mãos.—  Você sempre está tão certa, Dawn. 

— Você não me conhece mais, Luke—  balanço a cabeça. — E é por isso que não entraremos nessa discussão.

— Você não mudou tanto quanto pensa— ele resmunga.

— Tem razão. Eu ainda prefiro o Michael—  respondo antes de voltar para a sala.

Luke demora mais que o esperado para aparecer e, quando o faz, sua expressão é ressentida. 

— Pode comemorar, então—  seu tom de voz é frio.—  Michael e os outros também estão voltando.