Homeless (Parte 2)

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Nota rápida: aconselho a releitura de Homeless (Parte 1), para que haja a melhor compreensão deste capítulo.

Luke - 2013

"— Não. É exatamente o que você pensa e nunca teve coragem de dizer — Dawn em um tom tão frio e calmo que faz meu sangue parecer congelado. — Leve tudo embora, Luke. Eu não preciso de você.

Meu coração desmancha e apodrece em meu peito. Acho que estou morto. Tão morto que, quando Dawn esbarra em meu ombro ao passar por mim, eu não tenho qualquer reação.

Deixo-a partir. Não consigo me virar para vê-la ir embora, ou dizer a ela que não quis dizer nenhuma das coisas horríveis que disse a ela. Dawn nunca me prendeu, nunca me atrasou. Ela estava lá quando eu era Hemmo96, e estava lá quando criamos a banda.

Tudo começa pela minha cabeça, mas, quando percebo, atingiu todo o meu corpo, e eu me dou ao luxo de sentar-me no chão, porque é a última coisa que posso fazer com a estabilidade que me resta.

Eu sei que não posso consertar agora. Eu sei que estraguei tudo desde que Dawn escreveu "Chamas" e me entregou e eu, como o idiota que sou, só parti seu coração mais vezes do que posso contar. Não há conserto.

— Luke — mãos afagam meus ombros.

Tento focalizar algo e enxergo Michael agachado à minha frente. Seu rosto está tão próximo e me lembra de quando Dawn esteve apaixonada por ele, e me lembra de como eu me senti traído e abandonado, como ela se sente agora.

— Luke, você precisa ir atrás dela — Michael diz bem devagar, o suficiente para que eu entenda e absorva todas as palavras. — A Dawn precisa de você agora.

— Mas eu a quebrei — respondo.

Eu a quebrei em vários pedaços e sei disso. Fiz tudo errado. Tomei as decisões erradas.

— E só você pode consertar — ele diz. — Não pode ir embora sem se despedir dela. Precisa fazer isso agora.

Michael me puxa para cima e me obriga a ficar de pé. Os garotos estão em volta, prestando atenção, e eu me esforço para dar alguns passos.

— Luke, precisa fazer melhor que isso se quer recuperar a garota — a voz de Ashton é como um empurrão.

Corro. Dobro os quarteirões e corro, perdendo o fôlego e sentindo as pernas queimarem. Corro tão rápido que faria inveja aos atletas da escola.

A casa de Dawn surge, uma imagem alegre e aconchegante, como a minha própria casa. É como o meu segundo lar.

Entro pela porta da frente, sem bater, porque sei que disse algo sobre seus pais jantarem e passarem a noite fora, e conheço bem as saídas do Sr. e Sra. Byne. Só estarão de volta pela manhã.

Subo as escadas da casa de Dawn, dois degraus por vez, me apegando às lembranças das vezes em que corremos escada acima e de quando ela quebrou o braço quando éramos pequenos.

Estou queimando quando alcanço seu quarto e abro a porta, decidido a consertar tudo que eu fiz, porque Michael e Ashton botaram alguma coisa em minha cabeça com seus olhares e eu sei que não posso partir se a última lembrança que tiver dela for com uma expressão de mágoa pelas coisas que eu disse.

— Dawn?

Ela está no chão, perto da cama, pressionando um tecido preto contra o chão, enquanto faz uma careta de choro.

As minhas próprias lágrimas pingam do meu queixo, e percebo que estive chorando desde o segundo em que ela foi embora da casa de Michael e me deixou sem nada, no chão.

Como ela está agora.

Ajoelho-me a sua frente e seguro suas mãos sobre o tecido preto. É a minha camisa do Nirvana. Emprestei a ela num outro dia e ela esteve usando isso por tanto tempo que pensei que jamais poderia tocar no tecido de novo.

— Você precisa parar — ela soluça e se encolhe.

Quando quebrou o braço, Dawn trincou os dentes e grunhiu, jogada no chão da sala, enquanto se encolhia e pedia para que eu fizesse a dor parar. Eu era uma criança, assim como ela, e não sabia o que fazer além de chorar junto dela e deixar que segurasse minha mão até seus pais chegarem para ajudar. Ela encolhia os ombros e emitia um som tão desesperado que achei que estivesse prestes a perder o controle.

Como faz agora.

Seguro seus ombros e encosto minha testa na dela. Derramo mais lágrimas.

Poderia ser simples. Eu podia ir embora e nos falaríamos pelo FaceTime, lidando com uma amizade a distância como amigos normais. Ela poderia se formar e compor, como sempre quis.

Mas eu não posso lembrar de um dia da minha vida em que não vi Dawn, pelo menos desde que temos idade o suficiente para nos levarmos um ao outro sozinhos. Não posso me lembrar de um dia em que não a vi sorrir, ou tive seus olhos presos nos meus, ou suas mãos nas minhas. Não posso me lembrar de um dia sequer em que estive longe dela e sei que ela é tão vital para minha vida quanto meus órgãos, ou meus sonhos.

Os sonhos que me levam para longe dela. Os meus sonhos, aqueles que ela não pode seguir, não importa o quanto eu deseje que sim.

Eu sou o órgão vital dela que é arrancado com brutalidade.

— Eu não aguento mais — ela diz entre dentes. — Você precisa parar de me machucar.

Tento puxá-la para perto, mas ela não deixa. Ao invés disso, pressiona a camisa contra o meu peito com força.

— Eu disse para levar tudo.

Soluço. Mais lágrimas molham minhas bochechas, mas não posso me dar ao luxo de romper quando sou eu o vilão.

— Eu quero que leve tudo embora. Não pode sobrar nada de você.

Ela se levanta e caminha pelo quarto, abrindo as portas do armário e arrancando de lá tudo que é meu, ou tudo que eu dei a ela.

Ela joga inúmeros CDs no chão, presentes de aniversário. Joga roupas, assim como objetos aleatórios, que fazem vários pedaços de mim morrerem mais uma vez, mas é pior do que quando fui ao chão no gramado de Michael.

E então ela meche nos livros. Tira flores secas de cada um deles e começa a arremessa-las pelo ar, mas elas sacodem em volta dela e rodeiam seu pé ao cair. Dawn pisa cada uma delas, fazendo-as se desfazerem. Fazendo tudo em mim se desfazer.

— Eu não quero nada seu. Eu não quero seus sonhos, eu não quero nada seu.

E então ela procura por fotografias. Joga-as para mim e, no fim de tudo, tenho uma pilha de lembranças ao meu redor. Um mar dolorido em que estou me afogando.

— Não pode ser assim — tento me defender e alcança-la no meio da escuridão de sentimentos.

— Eu te odeio, Luke Hemmings.

Faço o possível para recolher tudo com o mínimo de consciência, então deixo-a para trás e perco-me em algum lugar entre o inferno e a sua casa.

Quando sinto algo novamente, os meus dois dias já se expiraram, e Dawn não está comigo quando embarco no avião do aeroporto. Então eu desligo novamente, duvidando de que um dia vou voltar a ver ou sentir alguma coisa de novo. Não faço ideia do que estou fazendo ou do propósito disso tudo.

Sem ela, não há lugar para mim."

Dawn || Luke HemmingsNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ