Jogo

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Dawn

Estamos de volta ao meu carro e Michael não para de trocar as músicas da minha playlist, como se fizesse uma busca muito importante no meio das canções.

— O seu gosto se tornou meio duvidoso desde que fomos embora, Dawn. Precisamos sair mais vezes — ele diz e balança a cabeça.

— Michael tem um ponto muito importante. Ainda não tivemos a oportunidade de sair desde que chegamos aqui — Ashton vibra atrás de mim, no banco traseiro.

Contorço-me um pouco porque os joelhos dele estão contra as minhas costas no assento. Esses garotos são todos altos demais, mas poderia ser ainda pior se Luke tivesse sentado atrás de mim. Ele é enorme. 

— Acho que podemos sair hoje — Calum comenta. 

— É mesmo? Sua agenda não está lotada? — Ashton parece meio rabugento agora. 

Confiro pelo retrovisor e sua expressão é de alguém irritado, mas parece exclusiva para Calum. 

Os dois sempre tiveram uma conexão estranha. Lembro que quando Ashton surgiu para a banda, Calum era seu maior defensor contra a maior parte das brigas que eu arrumava. Minha amizade com Calum foi a que ficou mais distante, porque ele parecia se identificar muito com Ashton. Lembro das vezes em que eu reclamei com Luke ou Michael, porque eu estava tão enciumada que não cabia em mim. 

Não é estranho que Ashton tenha ficado rabugento de um segundo para o outro. Calum esteve distante nos últimos dias, visitando a família e andando por aí sem os garotos. Ashton provavelmente tem um coração partido agora. 

— Também acho que podemos sair hoje — tento amenizar a situação. — Preciso passar na empresa e dar alguma satisfação à pessoa que paga o meu salário, mas minha noite está livre.

Luke ri no banco de trás e se inclina para frente, enfiando o rosto entre Michael e eu, como uma criancinha. 

— Sabe que eu sempre posso pedir ao meu pai por mais dias livres — ele continua rindo. 

— Quero que ligue para seu pai semanalmente e peça por dias livres depois que for embora. Ele não é tão mole comigo quando você não está por perto, sabia? 

— Porque ele quer fazer de você a melhor secretária de todos os tempos.

Os garotos riem da piada estúpida de Luke e eu acabo por dar uma risada também. Era certamente irritante quando ele ainda tentava dizer isso com um tom pejorativo, mas acho que passamos sobre isso e se transformou em uma piada interna. 

Só que amigos fazem piadas internas. E eu tenho medo de me sentir parte demais deste grupo e acabar desolada quando forem embora.

— Podemos ao menos almoçar? Tipo nos velhos tempos? 

— Deus me livre — Calum diz. — Se for como nos velhos tempos, Dawn e Ashton vão acabar brigando. 

— Rae's? — ignoro o comentário de Calum. 

— SIM — Michael concorda mais alto que o necessário.

Giro o volante rapidamente, tentando não perder a rua e ter que dar uma volta. Ouço gemidos do banco traseiro e os olhos de Michael brilham ao meu lado. 

Michael Clifford é um ótimo copiloto. 

. . .

 Luke sacode a porta do estabelecimento algumas vezes, como se o sino fosse voltar magicamente. Enquanto isso, o resto de nós o abandona ali e então escolhemos uma mesa. Segundos depois, Jasey está bem próxima, sorrindo amigavelmente. 

— Crianças! — ela parece feliz em nos ver. — Estão aparecendo aqui com mais frequência nos últimos dias que nos últimos anos. Achei que só os veria pela TV. 

— Não há como fugir da sua comida por tanto tempo, Jasey — Luke surge atrás da mulher. 

Ela tenta conter um pulo, mas nós rimos discretamente do susto que levou. 

— Senta logo — ela reclama com Luke. 

Observo os olhos de Luke percorrerem os dois lados da mesa por um breve instante. Ashton e Calum estão do outro lado. E, embora Ashton esteja ocupando o lugar à minha frente, quem está ao meu lado é Michael, deixando o meu outro lado livre. Luke pode escolher ser legal com Ashton e se sentar ao lado dele. Ou...

Ele senta ao meu lado. 

Olho para Ashton, tentando decifrar de alguma maneira o que se passa pela cabeça dele. Ele sorri para mim, exibindo suas covinhas, e tudo que posso fazer é sorrir de volta. 

Não queria estar presa nesta situação. Prefiro sentar em uma mesa e comer sozinha a vê-los prender a respiração toda vez que têm que tomar uma decisão que me envolva, como se tudo girasse em torno de mim. 

É o que a droga da minha indecisão tem feito. Se eu pudesse escolher um deles e parasse de brincar com os sentimentos do outro, nenhum de nós passaria por isso. Só que eu não consigo ultrapassar esse impasse. 

— Bom... o de sempre? — Calum pede a Jasey.  

— O de sempre — ela parece contente por ter lembrado quais eram nossos pedidos de sempre. Como se fôssemos clientes frequentes novamente, comendo depois da escola. 

Meu celular vibra em meu bolso e perco alguma piada de Michael. 

Pego o aparelho e encaro a tela:

Ashton I.: Relaxa :)

Encaro-o do outro lado da mesa e respondo sua mensagem.

Para Ashton I.: Eu estou relaxada :p

Sorrio para ele e Luke se mexe ao meu lado. 

— Está perdendo a interação humana — Luke sussurra ao meu ouvido. 

Contenho um suspiro, tentando sobreviver a isso. Tentando sobreviver ao hálito quente de Luke no meu pescoço, e ao meu celular vibrando em minhas mãos com mais uma mensagem de Ashton. Eu poderia entrar em colpaso agora e não faria ideia se estou beirando o êxtase ou o pânico. 

Ashton I.: Não vou ficar chateado se aproveitar o momento com Luke. Apenas guarde uma dança pra mim mais tarde ;)

Para Ashton I.: Você tem direito a duas, ok? 

Ashton ri e Michael se empolga com o que estava falando, mesmo que Calum seja o único a prestar atenção nele e que Ashton estivesse rindo de mim e da maneira como eu admiti que havia um momento entre Luke e eu. 

E realmente há, porque sinto a mão de Luke contra a minha coxa sob a mesa. Prendo a respiração e num primeiro momento ele apenas a mantém ali, apoiada, o contato aquecendo-me mesmo com a calça jeans. E então ele desliza sua mão para a parte interna da minha coxa e eu faço todo esforço que posso para não arregalar os olhos ou suspirar. 

Eu quero que sua mão continue ali e ele a mantém, entrando na conversa de Michael e agindo com naturalidade, como se fosse algo que fizéssemos todos os dias. 

Sinto-me infringindo alguma regra. Tipo alguma lei que proíba garotas de ficarem excitadas em público ou de qualquer tipo de contato íntimo e, por mais que não tenha ninguém vendo, sinto como se a qualquer momento todos fossem levantar, apontar seus dedos indicadores para mim e gritar "AHÁ!", mas ninguém o faz, e minutos depois os hambúrgueres chegam. 

Luke tira sua mão e agarra sua comida, como se nada tivesse acontecido, um sinal de que devemos continuar com a programação normal. 

Então agora eu sei que isso virou um jogo entre eles dois. E também sei que Luke está jogando para ganhar.  

Dawn || Luke HemmingsWhere stories live. Discover now