Lua Crescente I

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À primeira vista

Rebeca atravessava a rua em frente ao colégio. O brilho do sol manchou de dourado e branco a sua visão. Alguém vinha ao seu encontro, não conseguia distinguir sua imagem, aliás, não distinguia nem o outro lado da calçada. Então, trombou com o rapaz. Ele distraído, com o celular na mão, ela cega pelo sol. Não foi possível conter o sorriso e muito menos a atração. O sorriso nos lábios imensos dele e os olhos que sorriam nela. Naquele embaraço, tentaram sair do caminho um do outro, mas davam passos para o mesmo lado.

− Então, eu paro e você escolhe para onde vai − disse ele.

− Então, eu vou por aqui − respondeu Rebeca, sorrindo e apontando a direita.

Ele se divertindo, deu o passo cercando-a propositadamente. Carros começaram a passar atrás de cada um deles, estavam exatamente no meio da pista.

− Você nos prendeu aqui! − disse Rebeca.

"Você me prendeu", pensou ele. Um carro buzinou atrás de Rebeca, ela atravessou correndo com o susto. Olhou para trás quando chegou ao meio-fio. Ele parado, braços estendidos sorrindo para ela. "Que tipo de encontro com um desconhecido era aquele?", pensou Rebeca enquanto acenava um adeus.

***

Rebeca parou diante do prédio de três andares com um estreito jardim florido. Olhou para cima e viu que a cortina de seu quarto bailava com o vento bem-vindo no calor do verão. O quarto da sua mãe permanecia com as janelas e cortinas fechadas, sustentando a atmosfera de tristeza e rancor que a envolvia.

Enquanto encontrava as chaves para abria o portão doprédio, voltava a pensar no rapaz que encontrou em frente ao colégio. Divertiucom a cena e distraiu-se das dores sempre presentes e insistentes na sua vidaem família. Quando entrou em casa, encontrou Caio, seu irmão gêmeo, entrando nobanho.   

− O presente do Igor chegou, o Marcos mandou foto no grupo. Combinei com a Carol às... − Rebeca não conseguiu mais prestar atenção no que Caio dizia.

Ela olhou a foto do Cadilac em miniatura em cima de uma mesa e atrás, no reflexo do espelho, dois rapazes. Um deles era o Marcos, o outro, era o cara com quem acabara de cruzar na faixa de segurança na porta do colégio. Seu coração palpitou sem aviso. Até então, achava que, se tivesse muita sorte, cruzaria com ele um dia qualquer novamente, e agora, naquela tarde, aconteceria o reencontro. Era Gustavo, o irmão de Marcos.

"Ele está na lista de Priscila..." Pensou Rebeca dando uma longa baforada de decepção. "Que se dane Priscila e sua mania de se apropriar de todos os caras interessantes que conhecemos." Ela quase sentiu remorso dos desejos que tomavam conta do seu pensamento.

Carol, a namorada de Caio, já conhecia Gustavo há um tempo. Quando ele terminou o longo namoro, ela comentou: "Está aí um bom partido. Tudo bem que esse foi comentário meio machista, mas  Gustavo é do tipo educado, gentil, mas com o olhar penetrante. Daqueles caras bons em todos os sentidos.". Caio que não a ouvisse falando assim, com certeza renderia uma cena de ciúmes.

"Aquele encontro enigmático não pode ser só gozação. Rolou uma atração visível entre nós. Eu não sei como foi quando Priscila o conheceu, nem me interessa. Primeiro porque não dá para confiar no que ela diz, segundo porque ela falou que vai passar o fim de semana com o tal André... Quer saber, eu estou disposta a conhecer o Gustavo melhor". Os pensamentos formulavam-se em sequência na cabeça de Rebeca.

Isso poderia soar muito estranho, não mais do que os enigmas de sua avó. Aquelas palavras e lembranças que retornavam aos eu pensamento a cada instante. Há um dia deixou o sítio da avó para voltar para a cidade, em breve as aulas retornariam. Ao se despedir dela, com um abraço que significava um tempo prolongado sem se verem, ela sentiu uma energia poderosa. Não era capaz de traduzir exatamente do que se tratava, e a avó a fez entrar no carro antes que perguntasse alguma coisa.

Os Olhos da Deusa (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora