Lua Negra IV

130 24 21
                                    




           

Segunda-feira

O céu amanheceu revolto e indeciso. Nuvens cinzas e pesadas deslocavam-se rapidamente, escondendo ou desvelando o sol alternadamente.

− Hora de acordar, Priscila – chamou Marina com uma xícara na mão.

− Ai, parece que eu estou zonza... — respondeu Priscila esfregando o rosto e encostando-se a cabeceira da cama. Em um segundo toda a noite de sábado tomou conta de sua mente — Por culpa de vocês: suas malditas bruxas! Eu não vou à escola de jeito nenhum. Faz ideia de como as pessoas vão olhar para mim? Vão me chamar de louca...

− Cale a boca! – Interrompeu Marina − Tome esse chá.

− Não vou beber nada. — rejeitou a xícara com uma das mãos —  E Gustavo, o que deve estar pensando de mim? E Rebeca, com aqueles Olhos da Deusa! Você tem noção do poder que ela tem? Acabou para mim...

− Se continuar a falar assim, eu vou desistir de você! Começo a desconfiar de que é louca, aliás, que é burra, já não me resta dúvida.

− Loucas são vocês! Só podem estar me usando para alguma magia negra. Cansei — Priscila voltou a se deitar na cama.

− Escute uma coisa – falou Marina enquanto segurava a prima, fazendo-a beber o chá – isso vai te acalmar. Você vai praticamente nem perceber que estão olhando ou falando sobre você. Em pouco tempo terão esquecido o ocorrido.

Priscila terminava de engolir o chá quando sua mãe entrou no quarto.

− Oi filha, está sentindo-se melhor? – Ela passou a mão em sua testa − A febre passou, que ótimo. Você me preocupou, nunca te vi daquele jeito, tão grogue e febril.

− Eu disse tia, aquele remédio era tiro e queda — Marina abriu um sorriso doce.

− Você será uma excelente médica – completou Carmem enquanto saía do quarto.

− O que aconteceu ontem? Febre? Eu só me lembro... Eu me lembro do que você estava fazendo no quintal e nada mais — Priscila permanecia encolhida na cama.

− Você desobedeceu às ordens de Perla: bebeu álcool e perdeu o controle. A magia não perdoa deslizes. Você pagou um preço alto pela sua burrice. – Marina aproximou seu rosto ao de Priscila, tocava testa com testa. − A energia invertida precisava sair do seu corpo. Você teve febre o dia e a noite inteira, até que o suor evaporasse, devolvendo a energia ao universo.

A garota fez uma careta, sentia um grande medo. Estava cada vez mais claro para ela o poder em torno daquilo tudo. A cabeça de Marina também fervia, se aqueles brincos forem verdadeiros Olhos da Deusa, ela teria que consegui-los. Precisava testá-los antes de tomar uma atitude. Isso precisava acontecer o mais rápido possível.

A escola parecia lenta aos olhos de Priscila. Ela mal percebeu que os amigos se preocuparam mais com a ausência de Rebeca do que com sua tão descarada passividade. Caio limitava-se a responder que a irmã quisera ficar um dia a mais no sítio da avó.

− As pessoas andam tão estranhas ultimamente que nada mais me espanta − comentou Carol com Igor na hora do primeiro intervalo.

O rapaz não respondeu, olhava a carteira vazia de Thaís. Carol olhava a porta fechada da sala do namorado, pelo menos nos últimos dias ele parecia ter retornado da tormenta, voltou a se interessar por ela, apesar de ainda ter ausências muito estranhas. Na noitada de sábado, ele oscilou entre grosseiras e rompantes apaixonados.

Na outra sala de aula, o professor não deu intervalo. Caio observou Lavínia ajeitar o coque e recolocar os óculos, que só usava dentro da sala de aula. Ele não soube colocar em palavras o que sentia, era um vazio tão grande. Naquela manhã, Carol o esperou na esquina para seguirem juntos para o colégio, ela já não tinha paciência para esperá-lo há algum tempo. Preferia gastar os minutos antes da aula fofocando com Priscila. Hoje não, queria estar com ele e ele também quis estar com ela.

Os Olhos da Deusa (completo)Where stories live. Discover now