A Lua Cheia II

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Lealdade

Priscila abriu os olhos num quarto desconhecido. Não havia nenhum sentimento negativo a perturbando. Sentia-se leve. Caminhou pela casa, os outros quartos tinham as portas fechadas. Saiu para o jardim, verificou as cinzas da fogueira e deixou que as lembranças sobre a noite anterior reacendessem em sua memória. Era impressionante como fazia aquilo por simples intuição. Marina aproximou-se, enrolada numa toalha branca, cabelos molhados grudados na cabeça.

− Você está bem, prima? Seus olhos estão fundos, parece tensa — perguntou Priscila.

− Eu é quem pergunto Priscila, você está bem? – Marina estranhava a prima, sua postura, seu tom de voz. Sua expressão era tão suave que parecia uma máscara. Não conseguia reconhecê-la. Ficaram se encarando até Perla intervir:

− Priscila está mudada Marina, ela encontrou seu lugar no desejo da Grande Deusa. Enquanto você se perdeu nesse caminho.

− Foi o destino traçado pela Deusa. Eu precisava recusar para que Priscila revelasse sua habilidade — justificou Marina com a voz rouca.

− Não tente se explicar. Você descumpriu uma ordem minha, eu que sou sua grã-sacerdotisa — falou Perla com firmeza cruel.

− Reconsidere, por favor! – Marina caiu de joelhos a sua frente, as lágrimas rolavam pelo seu rosto quase sem cor. – Eu mereço o reconhecimento pela dedicação absoluta por tantos anos.

− Vejo que você encontrou a fonte de água corrente. Nos leve até lá – ordenou Perla, ignorando o pedido de Marina. Sabia que essa era uma prova importante no caminho que Marina escolheu.

Caminharam por cinco minutos por uma trilha entre árvores frutíferas. Só ouviam os sons das folhagens bailando com o vento e dos pássaros cantando. Perla decidiu testar se sua conexão com Priscila era tão forte que perdurasse fora do ritual.

"Nos siga em silêncio. Quando chegar até a água corrente, retire toda a roupa, reverencie a Grande Deusa em sua forma de natureza e mergulhe".

A voz de Perla não era audível conscientemente a Priscila. Funcionava no inconsciente, como se fosse seu próprio desejo agindo. Assim que avistaram a bica de águas cristalinas, Priscila fez exatamente o que Perla desejou. Marina não deixou que isso passasse despercebido: "Priscila ainda está enfeitiçada. Os Olhos da Deusa brilham, mesmo que com discrição, eles são capazes de ampliar esse poder.".

As águas da bica do sítio que Perla alugara, corriam por uma pedra grande e ornamentada por folhagens de diferentes tons de verdes e desaguavam em um pequeno poço escuro e fundo. Era um cenário perfeito para energizar-se. Perla e Priscila saíram da água com o corpo e o espírito mais leves. Marina, diferentemente, buscava energia para manter-se concentrada e atenta. "Vou lutar, Perla ainda não tem uma sucessora".

— Temos uma missão pela frente, nós precisamos encontrar quem está destinada a ser a sacerdotisa da lenda. Será Rebeca com os outros Olhos da Deusa? Ou será aquela menina desconhecida, que você encontrou a beira da fogueira? — Perla desviou o olhar de Priscila para Marina. — Ou será uma de nós?

− Do que se trata essa lenda? – perguntou Priscila.

− Trata-se em parte de um mistério da Grande Deusa, algo que talvez não nos será explicado, apenas executado com a nossa participação de acordo com o desejo Dela. A parte que podemos compreender trata-se do reencontro dos Olhos da Deusa, os dois pares separados há séculos. Eles se unirão em energias e poderes para o bel prazer da Deusa. — Perla expandiu os lábios e fixou brevemente os olhos em Marina. — Temos um dia longo de rituais. Apenas sigam as minhas instruções.

Os Olhos da Deusa (completo)Where stories live. Discover now