A Lua Cheia

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Ludibriada

Nós precisamos da colaboração de sua prima, devemos deixá-la distrair-se com o rapaz, mas não o suficiente para desviar-se do interesse que ela começa a nutrir pela bruxaria. Para isso, você deverá impedir que o feitiço se realize. Siga-os e, quando eles estiverem prestes a se beijar, lance sobre ele o pó preto, isso fará com que ele tussa interminavelmente rompendo o processo. Faça com que ela acredite que ele tem alergia à baunilha. Será suficiente por hora. Ela entenderá que um feitiço simples pode ser muito eficaz, mas você a mostrará que há feitiços obscuros muito mais poderosos, ou melhor, infalíveis. Saberemos à hora certa de usar isso.

Perla

Passaram-se os dias, e a água de perfume já estava sendo preparada. Priscila descobriu onde comprar leite de cabra e já estava com a essência de baunilha. Faltavam dois dias para a data, e ela deveria começar a encontrar um jeito de convencer Gustavo a encontrar-se com ela em plena quarta-feira. Então, telefonou para ele, fingindo-se despretensiosa.

− Priscila, tudo bem e você? Quer falar com o Marcos? Ele foi para a aula de guitarra.

− Não! Na verdade, eu queria falar sobre o Marcos. Ele anda pior que o normal ultimamente. Quero dizer... Mais ranzinza, não é verdade?

Gustavo demorou a responder, estava surpreso com aquela suposta preocupação dela. Afinal, eles viviam se bicando. Ela ficou embaraçada com a desculpa que encontrou para o telefonema.

− Sei lá... Pensei que você pudesse me dizer se eu fiz alguma coisa que o magoou... — continuou Priscila.

− Bem, Marcos sempre foi muito fechado e mal-humorado. Não acho que seja só com você.

− Eu tenho algumas teorias sobre isso, pensei que contar a você pudesse ajudar. Será que podíamos nos encontrar amanhã para conversarmos?

Priscila já estava cheia de raiva da sua própria burrice, aquela invenção não podia dar certo.

− Amanhã eu marquei de ir ao cinema com a minha mãe. Ela quer ver um filme francês que está em cartaz.

− Eu soube desse filme! Quero muito ver, mas estou sem companhia... Você acredita que as minhas amigas só gostam de filme americano?

− Pode ir com a gente, se quiser... — respondeu Gustavo sem graça.

Priscila comemorou: "Dane-se que a mãe dele vai também, dane-se que eu inventei uma desculpa maluca! Na hora eu dou um jeito nisso tudo!". O que importou para ela foi que o encontro ficou marcado.

Às 18h30, Priscila estava em frente ao cinema esperando por Gustavo. Ela ajeitou inúmeras vezes o cabelo escorrido. Gostaria de impressioná-lo logo à primeira vista, por isso vestiu uma saia justa preta com uma camiseta de cor vinho. Ela tinha certeza que esta roupa lhe favorecia. "Prender seu olhar em mim".

Priscila avistou Gustavo se aproximando. Por trás dele, via-se o dia adormecer cor de laranja forte. Ela se agitou, mexia os cabelos, sorria, principalmente porque a mãe não o acompanhava. Isso devia ser um bom sinal.

Rebeca rabiscava no caderno de português, não conseguia se concentrar. Relembrava comemoração de Priscila enquanto contava à metade das amigas que Gustavo a convidou para o cinema. "Será que eu sou tão ingênua em ler sinais? Ele parecia estar muito mais interessado em mim do que nela no samba!" Ela tentava rever todas as cenas com cuidado e não enxergava que ele estivesse tão afim dela. "Eu sou uma boba delirante, não sei de nada".

Quando Gustavo encontrou com Priscila e beijou-lhe o rosto, uma rajada de vento passou por eles, causando arrepios, sorrisos e olhos que se encontram intensamente. "Ela está muito bonita.", pensou ele. O que não lhe agradava eram seus gestos exagerados e repentinos, mas alguma coisa estava diferente, interessante. Ele era solteiro, por que recusar a sedução de uma garota bonita? De repente, a conexão foi interrompida, a moça à frente deles na fila do cinema sacudiu os cachos de seu cabelo castanho, e isso lhe lembrou Rebeca. Era como se, por magia, os pensamentos deles se encontrassem.

Os Olhos da Deusa (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora