A lua nova

140 22 32
                                    


Noite

Thaís abriu os olhos com dificuldade, o ambiente tinha luz demais, barulho demais. Era difícil distinguir as imagens, a cabeça latejava e os olhos ardiam. Depois de alguns minutos conseguiu ouvir a voz de sua tia e aos poucos distinguiu as imagens de uma mulher vestindo um jaleco branco conversando com sua tia e de sua irmã teclando no celular ao seu lado.

− O que está acontecendo? — perguntou Thaís, assustada.

− Vai me dizer que você não se lembra de nada? − ironizou a irmã.

− Calma. Ela pode estar confusa, não estava totalmente consciente antes − interferiu a outra mulher.

− Oi minha filha, estamos no pronto socorro. Sua irmã te encontrou desmaiada em casa. Depois que chegamos aqui, você abriu os olhos e falou algumas coisas emboladas algumas vezes. Não conseguimos entender nada.

Thaís sentia-se confusa e exausta. Não fazia ideia do que aconteceu. Os olhos ardiam numa vontade imensa de chorar e manter-se fechados. Dentro de si muita dor, fora apenas temor.

− Thaís, eu sou a doutora Mara. Você está sendo medicada porque está com anemia e eu suspeito de depressão. Sua tia me contou sobre o que aconteceu com a sua mãe.

Ela não respondeu nada. Mal acordou e alguém, que nem conhecia, dizia que sabia de tudo. "Não, ela não sabe", pensou Thaís. A médica e a tia conversavam sobre atestado, acompanhamento psiquiátrico, medicação, então, sua irmã sussurrou ao seu ouvido:

− Nós não vamos nos mudar para a casa da tia. Você vai dizer que não quer.

Thaís fechou os olhos, tentava se proteger da insensibilidade da irmã. Então, as imagens emergiram a sua consciência: a chama ardendo na beirada da rua, as pedras faiscando, os estalos e, de repente, uma garota que lhe segurou. "Foi tão estranho, tinha algo no olhar dela, seus olhos ficaram avermelhados. Deve ser delírio, não aconteceu de verdade.", pensou Thaís tentando se acalmar.

− Thaís, eu avisei ao seu pai o que aconteceu. Ele quer que vocês morem comigo. Eu também liguei para o colégio, disseram que já te encaminharam para a psicóloga de lá, você não me disse nada. O psiquiatra vem te ver hoje, depois você provavelmente terá alta. Seu pai está com um trabalho novo e importante na Bahia, por isso ainda não voltou. Talvez tenha que passar mais tempo lá do que aqui...

Enquanto a tia falava sem parar, Thaís sentia o medo de encontrar com aquele homem novamente. Sabia que a tia era muito falante e cansativa, mas não queria voltar a morar naquela casa, preferia morar com ela.

− Sua irmã não quer, mas se seu pai decidiu, eu já estou arrumando um quarto para vocês lá em casa — continuou a tia.

− Eu vou, tia. Eu quero sair daqui hoje e ir para a sua casa — Thaís falou em um só fôlego.

Quando Rebeca entrou em casa, não escutou nenhum ruído, nenhum sinal de vida. A casa continuava escura e abafada, como se fosse uma casa sem alma. Agarrou-se ao frasco de sua poção, queria usá-la para não se perder, mas não era hora. À medida que se aproximava do quarto da mãe, o ar ficava mais pesado e o seu pulmão reclamava. Passou pela porta do próprio quarto, teria que purificá-lo, mas não agora. As duas próximas portas estavam fechadas, ficou indecisa para onde ir primeiro: "o irmão sufocado ou a mãe crucificada?".

Rebeca resolveu tentar o quarto do irmão primeiro, mas estava vazio. Então só restava o quarto da mãe. E lá estavam os dois deitados e adormecidos de mãos dadas. Rebeca quis sacudi-los, mas reteve seu impulso. Precisava ser mais esperta que isso. Correu para a cozinha, não tinha muito o que pudesse usar. Foi até o pequeno jardim de inverno, que a mãe já abandonara, mas que ela insistia em cuidar. Colheu na hortinha o que pudesse usar. "Uma sopa cheirosa para começar". Abriu portas e janelas, cantarolou, trouxe energia boa para a casa. Caio foi o primeiro a se levantar. Resistiu um pouco, mas logo se contagiou. Quando a sopa ficou pronta, Rebeca soube o que fazer:

Os Olhos da Deusa (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora