A Lua Crescente I

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Sonhos

A lua crescente expandia-se no céu. Não era mais um fino traço, o brilho da lua já iluminava mais da metade de seu formato total. Não era apenas ela quem crescia, Rebeca, Caio, Thaís e Miguel também sentiam a transformação.

Rebeca segurava as pedras Olhos da Deusa em suas mãos quando tomou a decisão de se limpar daquela angústia que a perseguiu durante aqueles dias posteriores ao festival. Enquanto cultivava suas rosas em seus pequenos canteiros na área externa do apartamento, manipulava a terra e arrumava as pedras ornamentais, deixava sua intuição trabalhar. As palavras conjuravam o feitiço por pura intuição, derramando sob a terra a culpa por não ter intervindo mais rapidamente sobre a tempestade evitando tanta tragédia.

A qualquer momento Thaís e Miguel chegariam em sua casa e Caio precisaria de ajuda para revelar seus sonhos. Ela sabia que agora precisava concentrar suas forças e controlar suas emoções para o que estava por vir, por isso pedia pela influência do elemento terra.

***

Caio dedilhava a guitarra em seu quarto, tentando relaxar a ansiedade para aquele encontro. Diante da possibilidade de se reunir aos outros e desvendar os sonhos que não cessavam de lhe perturbar. Abandonou o instrumento e jogou a cabeça para trás. Apoiou as mãos no colchão e deixou os dedos escorregarem no vão entre o colchão e a cabeceira de sua cama, movimentou o pescoço para estalar quando seus dedos tocaram em um objeto. Lá estava o isqueiro há tanto tempo perdido por Carol. Um objeto aparentemente sem graça que produzia o elemento mais intrigante.

Caio não sabia que tinha tanto do elemento fogo. Suas contradições, ações e movimentos, seu desejo e força. Ele ficou ali, hipnotizado pela chama que produzia até sentir o dedo queimar. Então acendia o objeto novamente e observava as cores do fogo bailarem uma musica misteriosa.

***

Thaís caminhava até a casa da amiga. Recusou a carona do namorado porque tomou antipatia do padrasto de Miguel depois das descobertas. Mas havia outro motivo, a noite estava fresca e iluminada pela lua e estrelas. Precisava respirar o ar da noite e sentir o vento balançar seus cabelos. Aquela liberdade que conquistava a cada sopro de vento e que lhe abria mais canais de comunicação com a Deusa e seus mistérios.

Ainda sentia seu coração palpitar de angustia quando pensava na batalha anunciada para o carnaval ou quando o julgamento de sua mãe lhe invadia o pensamento. Nesses momentos ela corria para o ar livre, sentia seu frescor acalmar suas aflições.

***

Miguel ainda precisava que o padrasto lhe levasse de carro onde quer que ele fosse. Os ferimentos não estavam curados. O silêncio dentro do carro era melhor do que a ironia. Eles encerraram as discussões e mergulharam num silêncio doloroso e perigoso. Ambos sabiam que precisavam encontrar logo uma solução para a dívida com Lâmina. O carro já estava a venda, mas não cobriria nem um terço da dívida.

Naquele instante, Miguel optou por esquecer aquele assunto. Preferia se concentrar na lenda e em Thaís, seu porto seguro. Descobrir que ela era capaz de lhe enviar mensagens era fantástico, pena que era uma via de mão única, ele precisava manter sua mente completamente vazia, então não poderia pensar em respondê-la porque perdiam a conexão.

Uma conexão alcançada através do elemento água. É o elemento que carrega a sensibilidade e as emoções, por isso a habilidade empatia psíquica de Miguel era fortalecida por esse elemento.               

***

Quando os quatro se reuniram, estavam tão concentrados que bastou que dessem as mãos sob o luar da lua crescente para que a Deusa agisse. Imediatamente Caio mergulhou no vazio capaz de lhe dar acesso aos sonhos e revelações. Já não tinha medo de estar lá, entendia sua missão.

Os Olhos da Deusa (completo)Where stories live. Discover now