A Lua Crescente

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Afogar as mágoas

Rebeca segurou o frasco com a poção de proteção que preparou na casa da avó. Pingou as gotas em seu pescoço assim que acordou: "Dei-nos uma noite leve, que descarregue as tensões e transborde sensações boas". Sem perceber conjurava um feitiço mais forte do que o esperado para aquela poção.

O dia passou arrastado. Rebeca tentou adiantar os estudos para as avaliações da semana, mas seu pai não dormiu em casa na última noite e nem deu notícias. Regina passou o dia deitada na cama, entorpecida e apática. Caio e Rebeca cruzaram seus olhares no corredor sem saber o que dizer, isolaram-se em seus quartos ansiando que a noite e a festa os anestesiassem por algum tempo.

− Isso não está certo – resmungou Caio quando fechou a porta de casa rumo à festa.

Rebeca preferiu ficar muda, concordava com ele, mas não gostaria de alimentar seu rancor.


 Nessa hora, Marina que terminava de se arrumar, olhou a prima através do espelho e perguntou:

− Priscila você tem certeza de que ela irá à festa usando os brincos?

− Já disse que sim! Ela não os tira das orelhas — confirmou Priscila enquanto reforçava o lápis de olho.

− É hoje que eu tiro isso à prova. Você trate de ficar atenta e faça o que eu mandar.

Priscila se assustou ao ver Marina segurando seu lápis de olhos e lhe encarando a poucos centímetros de distância.

− E o que você pretende? Vai roubá-los? — Perguntou Priscila apertando a boca para segurar o riso.

− Vou testá-los, se forem verdadeiros... – Marina desviou o olhar e caminhou até a janela, sorriu como a lua que crescia.

− Então, não se esqueça de que foi graças a mim... Que fui eu quem os encontrou.

Igor deixou o salão com pouca luz e muito espaço para dançar. Apenas a mesa de sinuca estava bem iluminada. As pessoas iam chegando, colocando os petiscos sobre outra mesa e as bebidas na geladeira. A reunião planejada há tanto tempo estava tão morna quanto aquela noite de verão. Por diferentes motivos, muitos ali carregavam algum peso no coração. Até mesmo o anfitrião não disfarçava a decepção e a angústia por causa da ausência de Thaís.

− Você conseguiu falar com ela hoje?

− Não. Parece que o atestado dela termina na segunda-feira. Espero que ela volte às aulas.

Rebeca parou de falar, Marcos entrava no salão. Seu coração disparou: "Quem sabe Gustavo resolveu aparecer?" No entanto, apenas Lavínia acompanhava o amigo.

− Tumtum... Tumtum... – brincou Igor − Dá para ouvir seu coração. Ainda bem que ele não veio, senão teria um infarto fulminante esta noite.

Rebeca franziu a testa e o empurrou com um meio sorriso nos lábios.

− Cadê o Miguel? – Quis saber Marcos.

− Aquele babaca está se fazendo de difícil ultimamente! – remendou Caio.

− Eu liguei para ele antes de vir, parece que ele saiu com o padrasto – respondeu Igor.

− Galera! – gritou Priscila entrando no salão carregando um garrafão de vinho tinto – Cheguei. – Os garotos logo olharam a bebida que ela trazia − Eu sei que eu sou gostosa, mas podem tirar o olho! Esse vinho aqui é exclusivo para as meninas.

Os Olhos da Deusa (completo)Where stories live. Discover now