A Lua Cheia IV

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O pentagrama

Estela assistia ao pôr do sol no lago. O horizonte avermelhado se encontrava com as montanhas verdes acinzentadas e as águas prateadas do lago. A qualquer momento, o evento esperado poderia ser observado. Caio deixou Carol adormecida no quarto e saiu da casa. Rebeca e Thaís já estavam se aproximando da avó. "Eles sabem, você age dentro deles minha Senhora. Eu não preciso nem convidar."

− Mamãe está dormindo. Eu acho que aqui, com você, ela vai se recuperar mais rápido – alegrou-se Rebeca.

− O tempo de cada um é um mistério. E pertence só a nós – Estela olhou para Thaís. – Sentem-se. Em alguns minutos, vamos presenciar algo raro.

Rebeca observou a forma como as cadeiras estavam dispostas na beira do lago. Era uma espécie de círculo, com um pentagrama desenhado com pedrinhas dentro do círculo. Cada cadeira colocada em uma ponta da estrela.

− É um pentagrama. Eu li sobre isso na internet. É um símbolo da antiga religião pagã – disse Rebeca.

− Isso mesmo. Representa os quatro místicos e antigos elementos: o fogo, a água, o ar e a terra, coordenados pelo espírito. As origens do pentagrama estão perdidas no tempo, foi utilizado em diversas representações e significados ao longo da história. Mas, para nós, é o símbolo de toda criação mágica. Na antiga religião, é a natureza em harmonia – explicou Estela.

− Eu li que o pentagrama para os celtas representava a deusa Morrighan, a Deusa da guerra – disse Rebeca.

− Não só da guerra, mas também do amor e da morte. Seu nome significa a "Grande Rainha" – Estela olhou para os três sentados em cada ponta do pentagrama e uma cadeira vazia. – A morte não era o fim para os celtas, sim o início de um novo ciclo: a entrada para um mundo novo. Por isso, vocês estão aqui hoje. Após essa batalha, e ao longo dela, partes valiosas de suas crenças, certezas, desejos e laços afetivos vão morrer. Está no destino de vocês.

A angústia nasceu no peito de Rebeca. Ela tentava entender o que morreria dentro dela. Caio pensou no amor agonizante pelo pai e por Carol.

− Mas, eu já perdi demais para a morte – disse Thaís, em pânico.

Estela aproximou-se dela, passou as mãos ao longo de seus cabelos, desde a raiz até a última ponta. Thaís foi perdendo o medo, até ele escoar inteiro para a terra. 

− Essa morte vai lhes trazer vida. Não tentem prever ou contabilizar perdas. Serão amadurecimentos necessários para a vida de cada um de vocês. – Estela virou-se para o céu acima do lago. – Vejam que belo encontro: Júpiter e Vênus.

Os três admiraram a visão: as duas estrelas mais brilhantes do céu tocavam seus raios. "É perfeito", pensou Rebeca, admirada com a beleza.

− Caio, venha para o centro do pentagrama – Estela colocou a adaga em sua mão. –  Esse ritual é para você. O quinto elemento é a força espiritual que vai te conectar com a Grande Deusa, que está presente na natureza, na forma potente da lua cheia e nos atributos de Vênus. Ela se uniu a Júpiter porque ele rege a visão. Ele é capaz de estimular sua habilidade para nos revelar a quarta parte que falta nessa lenda.  

Caio fechou os olhos e subitamente foi arrastado para longe da consciência. Sentia-se cego, num lugar vazio, oco. Após as primeiras tentativas, sem sucesso, de enxergar e entender onde ele estava o pânico cresceu rapidamente dentro dele. Atravessou para outra dimensão e não tinha ideia de como seguir, nem de como voltar. Um frio de doer os ossos tomou conta de seu corpo.

Eu quero voltar! Eu não sou capaz! – suplicou Caio, com o corpo trêmulo e olhos cerrados em transe.

O corpo de Caio estava com elas na beira do lago, mas seu espírito vagava por uma dimensão completamente desconhecida para ele. A angústia era visível, Rebeca teve o impulso de agarrar seu irmão e buscá-lo para a realidade, mas Estela não deixou.

Os Olhos da Deusa (completo)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang