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A noite antes amena e iluminada com luzes dos candeeiros e das estrelas era agora mais escura e sombria com uma brisa gelada a corria pelas ruas arrepiando dos pés à cabeça. Mesmo assim, preferia ficar sozinha nesta noite de inverno do que com Pete e Chris separados apenas por um portão grande de metal. A tensão era de tal maneira grande que eu conseguia senti-la a sair dos seus olhos e chocarem a meio caminho criando uma explosão de faíscas. Isto tem que mudar senão, nem quero imaginar nos possíveis acontecimentos.

- Senhor Chris, fico contente por ver não só que a minha amada Layla foi aceite na sua calorosa casa como, posso ver, que ela está em boas mãos. - Referiu-se à mão de Chris que agarrava a minha cintura impedindo-me de avançar para cima do portão. - Agradeceria ainda mais se permitisse que ela fosse para casa. Com certeza ela não veio preparada para ficar cá, no seu luxuoso lar. Além de mais, em casa, ela terá um outro certo conforto. - O seu sorriso de seduzir mulheres na rua ficou preso ao seu rosto sem sair um segundo sequer.

Algo que eu odeio em mim é a atração que os meus olhos têm por aquele sorriso maldito. Se o apanho no meu radar de visão, não o largo até desaparecer. E assim que Pete olha para trás fazendo sinais ao amigo que estava dentro do carro, eu desperto do transe e passo a olhar para cima do meu ombro esquerdo indo de encontro à expressão séria de Chris. Nem fez um dia desde que o conheci, não tenho qualquer impressão sólida dele. É pervertido, irritante e um irmão idiota e carinhoso, mas isso foi o que eu vi durante umas horas. Preciso de mais tempo para formar uma estrutura completa dele. E assim espero passar o tempo suficiente com ele até que consiga dizer que sei como ele é de verdade. Começa logo por surpreender-me com um riso baixo. Ele estava tão sério, mas ri? 

- Layla. - Ele sussurra. - Não te deixes enganar. - Disse ainda com um sorriso de canto. 

Ele vira-se para mim e sorri, aquele sorriso que passei a odiar tanto. Ele aproxima-se e sussurra ao meu ouvido. Corei no instante. Nem quis acreditar no que ele dizia, nem que ele estava mesmo a obrigar-me a fazer aquilo. No entanto, ele é o meu mestre e eu sua criada. Por muito estranho que ache, ordens são ordens, infelizmente. De cabeça decidida e vontade domada, fiz o que ele ordenou. Comecei por agarrar no colarinho da sua camisa e ajeitei-o abotoando, de seguida, os botões da camisa que ele não tinha posto. A gravata foi bem colocada tapada pelo colarinho da camisa e com um nó perfeito. O cabelo, foi o que deu maior desconforto. Não era a primeira vez que ajeitei a camisa de um homem, coloquei a gravata, ou mesmo ajudar a colocar o fato. No entanto, pentear ou sequer tocar no cabelo, nunca fiz tal coisa. Afinal, o Peter era bem comichoso quanto a isso.

- Eu não mordo, sabes? - Escutei a sua voz perto do meu ouvido. Concentrei-me e estiquei as mãos ajeitando o seu cabelo loiro. Esforcei-me para tocar o mínimo que conseguisse. O pequeno e leve risinho dele desanimou-me por completo. - Até que és fofa. - Corei e virei-me para o portão e comecei a anda.

- Que raiva que ele me dá! - A minha cabeça não explodiu não sei como. - Tanta coisa que acumulei num só dia e ainda consigo ter paciência. Devo ser abençoada. Talvez até demais...

Continuei a caminhada até ao portão quando paro com ele à minha frente. Estava prestes a contorná-lo quando sou surpreendida com um abraço. Não era apertado, não tinha intenções maliciosas como de costume, nem sequer parecia um ato dele. O abraço era de tal maneira carinhoso que era possível comparar com os de Pete.

- És mesmo fofa. - Manteve-me entre os seus braços enquanto beijava a minha testa.

- De novo com esse comentário!? Agora vou reclamar! - E ia fazê-lo só que, quando olhei para ele, preparada para mandar uma boca qualquer, esqueci-me do que ia dizer. Era apenas de canto mas, eu consegui ver um bocado daquele sorriso que tanto queria. Odeio admiti-lo mas, eu quero mesmo ver aquele sorriso mais uma vez. - Odeio-te.

Pouco depois ele largou-me e foi em direção ao portão. Este abriu-se pouco antes de ele chegar lá perto e apenas vejo-o a cumprimentar Pete. Eles trocam umas palavras, mas não percebi nada. Ler lábios não é o meu forte, devo dizer. Nem um minuto passou e Chris já estava de volta ao pé de mim. Ele sorriu e, mais uma vez, desanimou-me ao contrário do que ele queria. Fomos os dois, lado a lado, até ao portão. A poucos passos do limite, ele parou sem eu reparar. Estava demasiado alegre por ver Pete, fosse o que fosse, não iria reparar. Só depois de nos abraçar-mos e matar-mos levemente a saudade, é que olhei para trás. O meu sorriso desapareceu enquanto observava a casa por detrás do enorme portão negro fechado. Chris tinha desaparecido, apenas vi Yuma e a Hannah a acenar na porta branca da mansão.

- Para quê tanta preocupação? Eles vão aceitar-me de novo. Idiota. - Sorri e acenei de volta. Depois de elas voltarem para dentro é que virei-me para Pete e saltei para cima dele. - Tive tantas saudades tuas...! - Vontade de chorar não faltava.

- Também tive tuas, Lay. - Ele ergue-me do chão e agarra-me pelas minhas pernas enquanto eu agarrava-me a ele pelo pescoço. - Não estou habituado a chegar a casa e estar tanto tempo sem ti.

- Não foi bem isso que tu disseste de manhã. - Amuei e ele riu e beijou a minha face. Um sorriso incontrolável brotou nos meus lábios. Que maldita força é esta que impede-me de ficar minimamente irritada com ele.

- Também te adoro, Lay. - Até parece que lê mentes. - E, já agora, o que planeias fazer para o jantar mesmo?

- AHHH! Só podia! Eu sabia que tinha de haver segundas intenções! - Comecei a dar-lhe leves morros nos ombros. - Deixa-me ficar aqui que eles não me chateiam tanto como tu.

Continuei a debater quando sou impedida por um apertão. As minhas pernas que antes eram seguradas por duas mãos tinham apenas o seu braço como apoio enquanto o outro apertava-me contra ele. A pressão dos nossos corpos apertava com força o sentimento de saudade que me preenchia. O calor de Pete está impossível de ignorar. Nunca tive tanto afeto por um abraço.

- Pete... - Pronunciei-me finalmente. Sinto a força do aperto a diminuir juntamente com a minha. Já não conseguia controlar a força do meu corpo e fomos obrigados a voltar à posição anterior. - Pete... - A minha força caiu a pique mal o abraço quebrou-se e apenas conseguia dizer o seu nome. A força que me restou deu apenas para encostar a minha cabeça ao seu ombro. Ainda consegui ouvir um leve riso vindo dele.

- Vamos para casa, sim? - Ele beijou a minha cara e encostou a sua cabeça à minha.

- Desde que não me largues... - Sussurrei sem qualquer vontade de o largar. O seu riso era de facto uma música relaxante para os meus ouvidos. Não sei se é do tempo que não o oiço ou se sempre foi assim e só agora reparei. - Amo-te... - Foi a última coisa que disse antes de adormecer no seu colo.

Criada de um MilionárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora