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Saí do carro quando este parou no meu destino. Nunca custou-me tanto pagar a um estranho por me ter transportado. Tenho que arranjar outro sistema de deslocamento. Mas penso nisso mais tarde. Agora é hora de arranjar coragem o suficiente para tocar à campainha, mesmo sabendo que irei sofrer, com sorte, umas horas de longa tortura. A procura pela coragem demorou mais do que eu pensava. Fiquei o tempo suficiente à frente do portão, escondida atrás do pilar que o segurava, para que o sol queimasse a minha cabeça que até escaldava quando colocava a mão sobre o meu cabelo.

- Maldito sol. Parece que faz tudo para piorar o meu nada bom dia... - No meio dos meus múrmuros não reparei no carro que parou atrás de mim.

- Layla? - Assustei-me e virei-me para a fonte do som. Respirei de alívio ao ver quem era. - És mesmo tu!

- Bom dia, Hannah. - Cumprimentámo-nos com um abraço.

Não havia mais desculpas para não entrar e assim o fizemos. Ela tocou à campainha e o portão abriu-se pouco depois. Eu segui para a mansão até que dei por falta da Hannah. Virei-me para trás e vi-a conversar com o condutor do carro. Ela sorriu alegre e inclinou-se um pouco mais para a frente durante uns instantes. Poucos segundos depois, ela afasta-se do carro e este do portão. Ela manda daqueles beijos voadores com a mão e vem finalmente para dentro mal o carro sai da sua vista. O sorriso não saia dos seus lábios. Quando ela apanhou-me, já não era sem tempo, foi altura de fazer a pergunta que tanto queria sair da minha boca.

- Então, vieste de carro. - Ela estranhou o meu comentário. Afirmou apesar da sua confusão e continuou a andar. - E quem é que te trouxe? - Ela parou a poucos passos das portas brancas. Suspeitava que este pequeno questionário tinha segundas intenções. - Sê discreta. Disfarça. - Foi aí que surgiu-me uma ideia. - É que eu venho e volto para casa de taxi e isso é uma dinheirada pelo cano abaixo no meu ponto de perspetiva económica. Se não fosse grande incómodo, queria ver se alguém daqui podia ajudar-me. - Arrependi-me mal me calei. - Que vergonha! - Ainda bem que o choro é interno... Senti-me ainda pior quando oiço o seu riso leve.

- Porque não disseste logo? - Ela sorriu e continuámos a andar. - Aqui ninguém vai julgar-te pela tua situação económica. Somos todos família. - Ela bateu à porta e ficámos à espera que abrissem. - Mas ainda bem que falaste no assunto. Mais vale tarde do que nunca. Eu peço à minha irmã para fazermos uma paragem antes em tua casa. Assim não precisas de te preocupar com esse aspirador de dinheiro de quatro rodas. - Ela sorriu e demos umas pequenas gargalhadas. Esperava outra pessoa sem ser a irmã. É pena.

A porta abriu-se pouco depois e Yuna estava logo à nossa frente. Cumprimentámo-nos e pusemos a conversa em dia como se tivesse acontecido muito naquele pouco tempo que tivemos acordadas.

Era relativamente cedo, perto das oito e meia da manhã. O nosso trabalho não é algo que requere todas as horas que tivermos disponíveis. Então, tomámos um chá, a convite de Yuna, e continuámos a conversar. Prefiro isto que ficar a olhar para o ar ou para o pouco pó que apanho nos móveis. Qualquer tema que surgisse, qualquer facto, qualquer história era algo novo que aprendia e descobria sobre elas. Mal as conheci; não importa o que seja, tudo é novo para mim.

A conversa continuou, o tempo andou, como de costume, e quando reparei, já eram horas de almoçar. Mal o ajudante de cozinha apareceu na sala a pedir que Yuna fosse ver como estava a comida que iria ser servida no almoço, observei o relógio e espantei-me com a posição dos ponteiros. Como era possível o tempo passar tão rápido? De qualquer maneira, mais uma hora e o almoço vai ser servido e as criadas presentes foram ordenadas a preparar a sala de jantar. Ao que parece vão receber umas pessoas com quem Chris está a tentar fechar um acordo. De todas as pessoas da mansão, a que menos compreendo é aquela que mais tempo vou passar... Não faz muito sentido visto assim.

Estranhei a manhã passiva por isso perguntei a Hannah se sabia do meu mestre enquanto preparávamos a mesa de jantar juntamente com Rachel que chegou depois de nós. Segundo ela, ontem à noite, pouco depois de eu ir embora, ele pegou no seu carro e saiu e não voltou desde então. Ela questionou a Yuna hoje de manhã sobre o caso quando eu não estava presente. Ao que parece, Chris passou a noite em casa de um amigo próximo e, de manhã, iria voltar juntamente com os convidados. Contudo, ninguém sabe o que ele fez ao certo. Espero que ele não seja daqueles jovens ricos que passa a noite a ir a festas e discotecas e o dia a dormir e a chatear os outros. Bom, chatear lá isso ele faz.

Uma hora passou e devo dizer que aquilo não é trabalho para três criadas. Eu sou nova por isso explica o meu desempenho mas, tanto Hannah como Rachel estavam cansadas demais para um "simples" trabalho. Nós as três tivemos que pôr a mesa, ou seja, nove pratos e os respetivos utensílios, umas pequenas decorações no centro da mesa, arrumámos e limpámos os móveis da divisão inteira, tratámos da entrada mas nem dez minutos demorou e lavámos as janelas; tudo em uma hora. Como é possível isto tudo ficar sobre apenas três pessoas?!

Estava prestes a sentar-me numa cadeira da sala para descansar de leve quando oiço a porta a abrir e várias vozes a invadirem a mansão. Uma reconheci em breves instantes. O primeiro a passar pelas grandes portas brancas foi, nada mais nada menos como o meu mestre de cabelo arranjadinho, fato e gravata, tal como no outro dia. O seu cabelo brilhava num invejoso tom loiro, o sorriso branco refletia o brilho da manhã enquanto os seus olhos esverdeados enfeitiçavam qualquer alma que os observasse. O feitiço era de tal categoria que nem foi preciso ele olhar para mim que petrifiquei. Então quando o seu olhar foi de encontro à minha estátua, até o meu coração parou.

- Senhores, sigam sem mim. Tenho uns assuntos a tratar e, em breve, juntar-me-ei a vocês à mesa de jantar. A minha irmã irá acompanhar-vos à sala de jantar por mim. Yuna. - Ela aparece sorridente do fundo do corredor.

- Senhores, por favor, acompanhem-me. - Os convidados nem pensaram duas vezes em seguir a jovem loira.

Talvez tenha algo a ver com os géneros. Talvez o feitiço de Chris tem maior efeito nas mulheres e Yuna nos homens. Aqueles olhos são os verdadeiros feiticeiros. Despertei dos meus pensamentos quando vi o sorriso de Chris cada vez mais perto de mim. Como uma chama intensa, o abraço inesperado de Chris derrete-me e deixo de ser uma estátua.

- Bom dia, Layla. - Beijou a minha face e manteve o sorriso normal dele. - Tiveste saudades minhas? - Como é que deixo-me ser enganada por este demónio encantador...?

- Bom dia, mestre. - Abaixo a cabeça em sinal de submissão. - É claro que tive saudades suas, mestre. - Levanto a cabeça e vejo a sua expressão de convencido. Torna a sua humilhação ainda mais impulsionante. - Que criada não sentiria saudades da presença do seu amo? - Um sorriso cem por cento irónico apareceu nos meus lábios. A expressão de Chris mudou de leve mas rapidamente voltou àquele sorriso fingido.

- Assim espero. Depois do almoço, já tenho planos para que possamos aproveitar todos os segundos que nos forem dispostos. - Ele volta a aproximar-se de mim e beija o meu pescoço descoberto acariciando a minha cintura. Apenas pude morder o lábio e conter-me no meu cantinho. - A saudade desaparecerá num abrir e fechar de olhos. - Ela já desapareceu...

Criada de um MilionárioWhere stories live. Discover now