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- O que queres dizer com isso? O que sabes que eu não sei?

- A diferença é que eu conheço bem a minha irmã, ao contrário de ti. - Fiz umas leves massagens na cabeça como se isso fosse diminuir a minha irritação.

- Podes simplesmente ir embora? Não quero estar tanto tempo contigo... - Ele ri de leve.

- Primeiro, achas mesmo que vou embora assim tão facilmente? Segundo, eu sei bem o que queres, Layla. - Ele pousa a sua mão sobre a minha e começa a fazer pequenas festas com os dedos. - A tua cara diz-me tudo.

- Chris! - Afasto a minha mão e ele recua. - Hoje não estou com paciência. Podias fazer-me o favor de ires embora? Não quero ficar louca...

- Foi por isso que foste embora? - O olhar sério dele fez me encolher de medo. - Pensei que tinha sido claro na festa.

- Não foi assim tanto como tu pensas. E já que puxaste pelo assunto. O que foi aquilo?

- O quão desentendida podes ser, Layla? Não falámos sobre tanta coisa ao ponto de não perceberes.

- Eu lembro-me bem e sei bem que sabes do que estou a perguntar. Não te faças de idiota que sei bem que não és.

- Bom obrigada pelo elogio. - Irritei-me ao aperceber-me do que disse. - E o que tu queres saber é o mais óbvio. Afinal, eu respondi a essa mesma pergunta lá.

- Sê claro, por favor Chris. - Ele suspira.

- Eu beijei-te porque amo-te. Tinhas alguma dúvida disso? - Não me esforcei a conter o riso.

- Deves estar a gozar. Primeiro, enganaste-me ao fazer assinar um contrato que basicamente nos separava. Depois disso nunca mais falaste comigo, ou atreveste a olhar para mim. Era como se deixasse de existir para ti. Terceiro, quando finalmente tinha desistido de ti, veio aquele evento e aquele momento no armazém... Como esperas que eu consiga aguentar a tua brincadeira com o meu coração?

Chris perde a ideia de injustiça que julgava que estava a sofrer. Ele sabia que o que eu dizia era verdade. Visto daquela forma, ele parecia mesmo um otário mulherengo. Para piorar, ele sabia bem que havia mais situações que eu não sabia, como por exemplo as visitas da Samantha.

- Perdeste a fala, hum? - Rio para não ter que chorar. - Se vires a Yuna, diz que estou a apanhar sol.

Levantei-me de cabeça baixa. Não queria olhar para ele, para aqueles olhos esverdeados que tanto amava. Estava farta de sofrer de amor. Não podia ter-me apaixonado por pior pessoa.

Comecei a afastar-me, mas sou agarrada. Sabia bem que era ele que me impedia, mas não queria virar-me pelas mesmas razões que tinha ido embora. Ainda por cima... conseguia sentir as lágrimas a escorrerem pelo meu rosto.

- Layla, eu... Eu não tenho desculpas, mas deixa-me explicar. Deixa-me ser sincero e esquece aquele idiota que sai dentro de mim. Layla eu...

Respiro fundo e olho para ele. Apanhado de surpresa, ele larga-me ao ver o estado em que me tinha deixado. Viro-me devagar e retomo a minha passada. As lágrimas só aumentavam e a dor não mostrava sinais de acalmar. Comecei a correr e só parei na espreguiçadeira. Afundei-me na toalha e deixei as lágrimas escorrerem.

Entretanto, na esplanada, Chris perdia-se em pensamentos sentado onde estávamos antes. Yuna finalmente aparece com dois batidos na mão. Ela pousa um à frente do Chris e senta-se no outro lado. Ela olha séria para ele e começa a beber o seu batido.

- Idiota.

- Suponho que tenhas assistido a tudo...

- Eu e várias pessoas à nossa volta. Desculpa, mas sendo meu irmão, de certeza que sabias que eu tinha planeado isto. Porque raio é que não seguiste a porcaria do plano?!

Chris ainda estava abalado e pegou apenas no batido e começou a bebê-lo. Claro que Yuna ficou mais irritada e tentou acalmar-se um pouco antes de retomar o sermão.

- Vocês os dois são uns completos idiotas perfeitos um para o outro. Com a Layla não posso dizer nada que não a conheço assim tão bem para a julgar. Também sei bem que a defesa dela é forte graças aos ataques do meu otário irmãozinho que parece uma criança outra vez.

- Podias parar com os insultos? Eu sei a porcaria que fiz...

- E isso só piora. Eu sei que és inteligente e sei que tens noção disso. Mas então porque o fizeste?! Vocês confessaram que amam um ao outro, mas não! Separam-se! Por que isso é que duas pessoas que se amam deviam de fazer! - Chris suspira ao sentir o sarcasmo a cutucá-lo. - Que raio de novela é esta?!

- Peço desculpa se não estamos a seguir o guião, mana. Mas são as nossas vidas. Ao menos deixa-nos resolver os nossos problemas sozinhos.

- Pois, porque isso parece estar a dar resultado, não é?

Chris levanta-se arrastando a cadeira para trás. Ele olha sério para Yuna que continuava bastante irritada. Sem dizer nada, ele coloca os óculos de sol e vai-se embora. Yuna sai mais tarde depois de acalmar-se com o refresco do batido.

- Layla? - Abri os olhos e vi Yuna com um leve sorriso na cara. - Vamos embora?

Levantei-me e olhei em redor. A depressão voltou em poucos instantes quando memórias de poucos minutos atrás apareceram. Suspiro totalmente cansada. Olho para Yuna que ainda estava ao meu lado com uma expressão triste.

- Acho que já apanhei o suficiente de sol. - Sorrio na esperança que acalmasse Yuna. Mas não resultou.

- Desculpa, Layla... - Ela murmurou.

Poucos minutos depois, já estávamos no carro de Yuna a caminho de casa. Os meus olhos não largavam a janela do carro completamente perdida em pensamentos. Meia hora de viajem e chegámos ao nosso destino. Quando vi a casa que me deu tantas emoções e novas experiências em poucos meses à minha frente, senti os nervos a aumentarem.

- Para ser sincera, esperava nunca mais ver esta casa... - Yuna abre a porta da entrada e olha para mim.

- Não te preocupes que só cá estamos nós e o Terry. Hoje foi dia de folga para todos. - Entramos e ela fecha a porta. - Queria mesmo que fosses falar com ele.

- Claro. Afinal, somos amigas. Que mal tem eu fazer-te um pequeno favor. - Ela abraça-me e responde-lhe logo de volta.

O silêncio era algo tão estranho nesta casa. Raramente ficava em total silêncio com exceção das noites. Subi as escadas e, enquanto Yuna foi para o quarto dela, eu fui bater à porta do Terry. Bati algumas vezes, mas não ouvi resposta. Insisti um pouco mais e finalmente oiço o Terry a reclamar.

- Sou eu, Terry. A Layla. - Ele abre a porta de seguida e dá-me um grande abraço. - Então, pequenote. Ouvi dizer que andas a armar-te em criança. - Começo a rir.

Algum tempo passou sem eu dar muita conta por isso. Depois de conversar com o Terry no quarto e de ele desabafar comigo, fomos para o jardim e continuámos a conversar enquanto atirávamos uma bola ao Kouki.

O sol já se estava a pôr quando o chefe da casa finalmente tinha chegado. Ele liberta um grande suspiro antes de fechar a porta. Sobe as escadas e vai direto ao seu quarto. Na sua rotina normal, ele fecha a porta, deixa a mala num canto e, quando ia começar a despir-se, vê a silhueta ao pé da sua janela. Ele veste uma roupa lavada antes de ir ter com ela.

- O que estás a ver de tão interessante na janela do meu quarto?

- Apenas uma alegria de mãe ao ver o seu filho de volta ao normal, com um sorriso na cara. - Chris vê então nós os dois no jardim com Kouki a correr de um lado para o outro. - Não sei como é que ela conseguiu-o afetar assim tanto.

- Ela é estranha a esse ponto. Ficas encantado por ela sem saberes. Quando sabes, não percebes porquê. Com o tempo acabas por negar que tens uma fraqueza tão estranha. A fase final é a inevitável aceitação.

Yuna desencosta-se da parede e aproxima-se dele. Toca-lhe no ombro com um leve sorriso no rosto. Dá-lhe um beijo no rosto e sussurra.

- Essa não é a tua fase final, Chris. Ainda falta uma. Mas não tarda nada e ela chega. - Ela vai-se embora com um sorriso no rosto deixando Chris sozinho a observar a janela.

- Infelizmente, essa fase precisa da ajuda da outra pessoa. Ou nada feito...

Criada de um MilionárioWhere stories live. Discover now