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Uns minutos depois, Chris propõe irmos tomar o pequeno almoço. Já estava bem acordada, não vi razões para recusar. Chris veste uns calções apenas e eu mando-lhe olhares de seguida. Ele não está mesmo a pensar em usar apenas aquilo, está?

- Eu sei que sou lindo. Se queres algumas coisa basta pedir, querida. - Ele pisca o olho.

- Já a seguir, mestre... - Ele ri e vai à casa de banho.

Sento-me na cama e suspiro. Eu nunca imaginei que isto acontecesse. Apenas posso agradecer por ter este trabalho. Se não fosse a "gentileza" do Chris, não receberia tanto dinheiro. Tenho que, de uma vez por todas, mentalizar-me por que razão estou aqui, por que razão sofro isto sem pensar sequer em ir embora.

- Tudo por eles... - Murmuro antes de suspirar outra vez.

- Não queres vestir-te? - Pergunta ao sair da casa de banho. - E ainda reclamas comigo. - Vai em direção ao espelho e ajeita o cabelo. - Não é que me incomode ires assim. - Ele sorri ao analisar-me de alto a baixo.

- Lamento desaponta-lo, mestre, mas não posso sair do quarto nestas condições. Não acho uma boa ideia mostrar-me ao resto do pessoal num estado destes fazendo-os questionar a nossa relação e passarem a duvidarem de mim. E não pudemos esquecer da sua irmã. Ela sabe tudo o que se passa cá dentro, correto? - Começo a fazer a cama.

- Isso não é inteiramente correto. - Sinto os seus toques na minha cintura enquanto me debruçava na cama para ajeitar os lençóis. - Ela não sabe o que fazemos. - Viro-me para ele e tiro as suas mãos da minha cintura.

- E podemos agradecer a Deus por ser esse o caso. - Sorrio e continuo com os meus deveres.

Chris ri de leve e vai ao armário. Enquanto tratava da cama, não conseguia evitar e desviar a atenção algumas vezes para ele. Apenas o via a mexer na roupa do armário. Oiço-o a fechar as portas do armário e acabo de arranjar a cama. No preciso instante, vejo-o a pousar uma camisa branca na ponta da cama. Olho para ele meio desiludida. Lá estava ele, encostado à porta como se estivesse à minha espera, ignorando o meu olhar.

- Que desilusão... A recorrer a algo tão cliché... - Suspirei ao ver onde os meus pensamentos estavam a virar. - Mestre, as criadas...

- Não te preocupes. - Ele interrompe-me. - Ninguém estará em casa durante algum tempo. Com a partida antecipada da minha irmã e do Terry, muitas tarefas foram riscadas da lista. - Chris leva o telemóvel ao ouvido. - Temos a casa apenas para nós dois até bem mais tarde. - Ele sorri antes de sair ao ser atendido.

Olho para a camisa pousada na cama. Sei bem do sucesso da imagem da mulher usar apenas uma camisa de homem. Apenas não esperava uma coisa destas vinda dele. Ele costuma ser mais maturo nestas questões. Na realidade, não sei bem como é ser infantil ou adulto num momento supostamente íntimo e pessoal.

- Ele não é parvo para deixar-me sair com isso vestido... Ele deve saber algo que eu não sei. - Pus-me presa em pensamentos.

Abanei a cabeça deixando os pensamentos e imagens que começavam a surgir na minha cabeça para trás. Rendi-me e comecei a vestir a camisa. As mangas eram grandes e tive que puxá-las até um pouco acima do pulso. Contudo, ao ser grande, permitiu tapar maioria do meu tronco e um pouco da minhas ancas tendo um decote que ficava acima do sutiã. Há calções que tapam menos que isto.

- Idiota... - Pensei ao ver-me ao espelho, corada.

Levei as mãos à cara embaraçada com os pensamentos que vinham à minha cabeça. Algo tão simples como isso deitou-me abaixo como se fosse nada. Ao vestir não tinha reparado mas, ao encostar a camisa ao meu nariz, um aroma doce e familiar invadiu o meu nariz. Hipnotizada por aquele cheiro adocicado, perco a noção do tempo. Aqueceu-me em poucos instantes e o pouco stress que tinha desapareceu.

Assustei-me ao ouvir o toque do telefone. Fui até ele mas hesito em pegá-lo. Quando o agarro, Chris já tinha atendido noutro lugar da casa sem eu reparar. Levo o telefone ao ouvido e mal ia abrir a boca escuto a voz de Chris.

- Bom dia, quem fala?

- "Bom dia, Chris. Há quanto tempo não falamos." - Oiço o riso leve de Chris.

- Há demasiado devo dizer. E a quem devo agradecer por estar a ouvir a tua voz no começo do meu dia, Daphne?

- "Ao meu lindo império." - Eles riem. Sinto-me um pouco a mais agora... - "Então explica-me lá por que razão, após tantos anos sem contacto, vejo uma mensagem tua no meu email privado?"

- Não deves andar muito ocupada então. Tinha acabado de te enviar isso. - Ela tosse forçado, talvez à espera da resposta. - E quanto ao conteúdo, não tenho mais nada a dizer. Fui bem claro no que quero. - Oiço um suspiro.

-" E eu que fiquei com esperanças que querias conversar, como os bons tempos." - Suspira novamente. - "Então, uma viagem para dois com o melhor quarto e atendimento, hum? Deves pensar que o meu atendimento é geralmente medíocre. E eu não faço o que tu queres apenas por que sim, sabes?" - Ele ri.

- Estás a dizer que não queres voltar a ver-me, Daphne? - Uns momentos de silêncio seguiram-se ouvindo-se apenas uma leve estática.

-" Maldito sejas, Christopher Morrison. É mesmo por isso que eliminava os teus pedidos... Que tola que fui."

- Tu é que sabes. - Ela irrita-se e termina a chamada. - Vou optar isso como uma confirmação.

Pousei o telefone lentamente e sentei-me na cama. Mas que raio de conversa foi aquela? Comecei a pensar na viagem para dois, na forma como eles falaram um com o outro, na sua relação, no seu passado. A minha cabeça estava ocupada a processar aquela informação toda e a minha imaginação sensível não ajudava a situação.

Após recuperar o meu eu, levanto-me e saio do quarto. Ao descer as escadas, começo a escutar a voz de Chris. Parecia que ainda estava ocupado com telefonemas. Ele estava distraído na conversa na sala e aproveitei para ir à cozinha buscar qualquer coisa para comer. Eu não tinha lá muita fome mas, ao abrir o frigorífico, só comecei a ouvir o meu estômago a roncar enquanto me deliciava com a vista.

Alguns minutos depois, Chris estava sentado na mesa de jantar com o telemóvel no ouvido, alguns livros ao seu lado, um jornal à sua frente e um bloco de notas do outro lado. Enquanto conversava ao telemóvel, uma mão esfolheava o livro ou jornal e a outra apontava as notas que fossem necessárias. Apareci com um tabuleiro nas mãos e pousei um pouco mais afastado dele. Cruzei os braços à espera que ele acabasse. Ao ver-me, ele termina a chamada pouco depois.

- Alguma coisa, Layla? - Nem deve ter reparado no tabuleiro que trouxe.

Aproximei-me dele e comecei a guardar as suas coisas. Ele ficou a olhar para mim a pousá-las numa ponta da mesa de jantar sem percerber bem a razão de eu estar a fazer isso. Só quando aproximei-me do tabuleiro é que ele apercebeu-se da sua existência. Dei-lhe alguns dos pratos que tinha trazido: uma caneca de leite com chocolate, um croissant com queijo, uma mini tarte de morango e uma maçã. Ele sorriu de leve até levar o croissant à boca.

- E de onde veio esta tua generosidade sem que eu te pedisse algo?

- Sou a tua criada pessoal e um dos meus deveres é tomar conta do meu mestre. - Tirei outra maça do cesto. - Também estava com fome. - Sorri e trinquei a maçã.

Assim começou uma conversa normal entre nós os dois. Por vezes esqueço-me qual é a nossa relação. Tanto temos aquelas alturas pervertidas como conversamos como pessoas normais. Não me importava de passar mais vezes como esta com ele. Ignorando o vestuário, este foi o primeiro pequeno almoço que tomámos sozinhos.

Criada de um MilionárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora