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Os dias passaram e só voltei a sair de casa quando senti melhor controlo sobre os enjoos. Estava mesmo mal. Chegava quase ao ponto de não conseguir comer com receio de vomitar. Felizmente parou por uns dias e era mesmo disso que eu precisava. Liguei a Yuna e combinei encontrar-me com ela num jardim.

- Layla!

Vejo Yuna a acenar ao longe. Ela deslumbrava com um simples vestido cinzento de verão e uns óculos de sol debaixo do sol quente de outubro. A simplicidade que ela brilhava na rua já não me impressionava. No entanto, o facto de uma mulher como ela ir encontrar-se comigo nas minhas roupas simples, invisível na multidão, impressionava-me sempre que a via. O contraste entre nós era incrível.

- Tive saudades tuas, Layla. - Levanto-me e abraçamo-nos antes de voltarmos a sentar no banco de jardim. - Não pareces assim tão boa? Estás doente.

- Wow. Que observadora. - Tossi um pouco forçado. - Tive uns dias maldisposta. Mas estes últimos dias tem sido melhor. Por isso queria encontrar-me contigo hoje.

- Já percebo porquê a ligeira emergência. Desde que estejas bem agora, tudo bem por mim. E então? Do que querias falar?

- Preciso da tua ajuda para o presente para o Chris. - Ela sorri maliciosa, provavelmente a pensar em algo pervertido como presente. - Tem calma, sim? Eu já tenho uma ideia. O meu irmão aconselhou-me a gravar algo no relógio, mas tenho tido alguma dificuldade em arranjar uma boa frase.

- Um relógio? Ele não é muito de relógios, mas usa sempre um. Não sei se será pela imagem de homem rico. Mas se lhe ofereceres um, ainda por cima com uma mensagem gravada, tenho a certeza que ele vai adorar. Ótima ideia. - Respirei de alívio.

- Ainda bem que aprovas...

- E como é o relógio? Espero que não seja digital ou desportivo.

- Não é nada disso, não te preocupes. É um rolex preto com umas faixas douradas. A corrente é metálica.

- Parece-me bem pela tua descrição bastante simples.

- É um relógio. Não sei bem o que dizer mais. É à prova de água. Tem mais três pequenos relógios. O Pete disse-me que eram para contar as horas, minutos e segundos.

- Isso é o básico de um bom relógio caro. Adiante. E quanto à frase. Não tens nenhuma ideia? Nem uma hipótese sequer?

- As poucas que me surgiam eram grandes ou lamechas. Achei muito piroso para por num relógio.

- Hei, tu é que vais oferecer. Tu sabes melhor que eu como é a tua relação com o meu irmão. Pensa em algo que logo vejo se consigo ajudar.

- Yuna, eu pedi a tua ajuda mesmo para a criação da gravura.

- Não é como se tivesse planeado ficar aqui sentada ao teu lado sem fazer nada. - Ela sorri e ajeita-se melhor no banco. - Mas diz lá a tua lista de hipóteses. - Puxei da minha mala e tirei um bloco. - Oh, escreveste mesmo uma lista.

- Não queria correr riscos de me esquecer e vendo a dificuldade que estava a ter em arranjar mais, achei melhor guardar de alguma forma.

- Sim, foi uma boa ideia, não digo o contrário. Pena é que maioria não se aproveite. - Riu embaraçada e eu suspiro desanimada.

- Eu sei... Preciso da tua ajuda, Yuna.

- Tem calma, querida. E que tal esta? É simples, mas mostra obviamente ligação entre a vossa relação e os vossos sentimentos.

- Mas não é lamechas demais? Parece piroso levar isso escrito num relógio caro.

- E que tal se fizermos assim. O Chris não tem o nome em japonês como eu, mas ele tem a mesma paixão pelo Japão e pela cultura japonesa que eu. E se for escrito em caracteres japoneses?

- Ele vai perceber a mensagem e se for preciso pode mentir e dizer que é outra coisa para não ficar envergonhado. - Parecia mesmo uma boa ideia. Afinal valeu a pena pedir ajuda a Yuna. Já estava a pensar o contrário.

- Isso tem uma lógica um pouco estranha. Mas acho percebo o que queres dizer. Então, fica assim?

- É perfeito, Yuna. Obrigada. - Dei-lhe um grande abraço.

- De nada, querida. - Abraçou-me de volta. - Bom, o objetivo deste encontro acabou demasiado rápido. E que tal dar uma volta por aí?

- O quê? - Não gostava muito da ideia já que da última vez que dei um passeio inofensivo, vomitei num café. - Não sei se será a melhor ideia.

- Anda lá, Layla. Não me vais obrigar a ir embora após ficar contigo uns dez minutos, vais? - Suspirei a ver a minha derrota muito perto.

Em pouco menos de uma hora já estávamos de volta a minha casa. Pete abriu a porta e assustou-se ao ver-me a correr até à casa de banho. Suspirou meio aliviado por ver que era só mais vómitos. Contudo, ver-me de volta colada à sanita não era uma imagem agradável a ninguém. Infelizmente, tinha virado hábito.

- O que aconteceu?

- Não fizemos nada praticamente. Estávamos a dar umas voltas pelas ruas e eu quis mostrar-lhe uns perfumes. Mas mal passamos pela porta, a Layla tapou a boca e saiu a correr até a um café.

- Outra vez. Pensei que já estivesse a ficar melhor.

- Outra vez?

- Ela não te contou? Nesta última semana tem sido sempre assim. Ela finalmente tinha acalmado. Por isso é que combinou falar contigo hoje quando estava mais saudável.

- Ela contou-me que esteve maldisposta, não com vómitos.

Pete foi ter comigo e ajudou-me a segurar no cabelo e a dar-me apoio. Após tantas vezes nós já sabíamos bastante bem o que fazer. Depois de beber uns copos de água, fui para a sala onde Yuna olhava para mim com uma cara de preocupada. Respirei fundo e sentei-me ao lado dela.

- Tem calma. Não tiveste culpa. O Pete já te explicou.

- Sim, mas eu acho que sei o que tu tens.

- Uma má disposição, não é? - Ela olha para o Pete e de novo para mim.

- Digamos que já passei por isso. Tenho alguns conselhos que te vão ajudar imenso, acredita.

Ouvi com toda a atenção e tentei memorizar tudo. Pete já se tinha apercebido onde Yuna estava a chegar enquanto eu só percebi quando ela contou. Não queria acreditar ao início, mas as provas estavam ali mesmo. Tinha que esperar mais uns dias para ter a certeza. Depois de os vómitos acalmarem outra vez, Pete levou-me ao médico.

Depois de saber a verdade, estava à espera que os meus dias voltassem ao normal, mas não. Mais uma vez, fiquei presa em casa com enjoos demoníacos e vómitos incomodativos. Felizmente, desta vez tive uma grande ajuda. Graças aos conselhos de Yuna que segui à pala, as experiências desagradáveis eram cada vez menos e a má disposição parecia estar a passar. Contudo não ia arriscar e sair de casa quando nem sequer tinha necessidade. Ficaria em casa a tentar recuperar a minha boa saúde antes dos anos de Chris.

Criada de um MilionárioWhere stories live. Discover now