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~~ ESPECIAL HALLOWEEN ~~

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~~ Terry ~~

Vamos embora depois de amanhã, apenas eu e a minha mãe. Yey... É claro que preferia ficar com o tio e jogar o tempo todo. A Layla provavelmente iria impedir que isso acontece-se com o seu "dever de criada". Agora que penso nisso, ela está aqui quase há um mês. Comparado com as outras criadas, não é nada, mas ela conseguiu fazer com que parecesse que sempre cá esteve. Nem acredito que fiquei tão próximo dela mesmo depois daquele primeiro encontro. A minha primeira impressão foi uma mulher ignorante que pensa que sabe tudo. Ai, como estava errado.

- Terry, vai para a cama. - Oiço a minha mãe a reclamar enquanto andava de um lado para o outro na entrada.

- Claro. Já vou. - Mudei de canal e comi mais um pedaço de chocolate.

- Terry. - Olho para cima e vejo-a com a cara normal de "não estás a fazer o que te pedi".

- Que foi? - Voltei o olhar para a televisão e tirei mais um pedaço de chocolate.

- Já é quase meia noite. Todos ou já foram para casa ou já estão a dormir. Queria saber por que razão estás a ver televisão a estas horas enquanto devias estar na cama.

- Erg. Lá vem a conversa outra vez. - Pausei o filme e virei-me para a minha mãe. - Primeiro, até parece que tenho alguma razão para me levantar cedo amanhã. Segundo, é apenas um filme e está quase a acabar. Terceiro, não estou a irritar ninguém. Quarto, estou a aproveitar os bons momentos com algo de jeito na televisão antes de passar a ver séries italianas. Quinto... - Fui interrompido.

- Estás a exagerar um pouco nas desculpas não? - Ela suspirou e olhou para o ecrã do telemóvel. - Adiante, desliga a televisão quando isso acabar e vai para a cama. Não quero que passes as noites todas assim. - Dito isto saiu da sala e atendeu o telemóvel. - Então, como vão as coisas aí?

Foi a única coisa que ouvi depois. Ela subiu para o escritório, suponho. Também não quero mesmo saber das coisas de adultos. Afinal, a minha experiência dizia que a nossa viagem não era apenas lazer. Era um pouco impossível. Eles os dois andam muito ocupados, e quando é algo de moda, é claro que a minha mãe não vai lá por que lhe apetece. Voltei a pôr o filme em andamento e comi o resto do chocolate.

- Agora que penso nisso, ela viu sequer o chocolate? - Pensei no assunto mas encolhi os ombros pouco depois. - Que importa.

O filme acabou num instante. Mesmo estando a meio quando disse à minha mãe que estava perto do fim, nem dei por o tempo a passar. Desliguei a televisão e sou sugado por uma escuridão. Tinha-me esquecido completamente que estava tudo desligado, apenas a luz da televisão iluminava o espaço. Sem ela, fica tudo num ambiente sombrio.

Olho em volta, ainda com o comando na mão. Oiço um chiar num lado da casa. Os meus olhos viram-se imediatamente para lá. Voltam-se para o lado oposto ao escutar um ruído leve de fundo. Por instinto, o meu dedo pressionou o botão do comando. Suspiro de alivio ao ver novamente.

- Que medricas que virei... - Desliguei a televisão outra vez e pouso o comando.

Subo as escadas e vou para o meu quarto. Suspiro ao fechar a porta. Abano a cabeça a tentar enganar o meu coração de cobarde. Olho para o relógio em cima da mesa e pouco passava das duas da manhã. Tiro a roupa e meto-me debaixo dos lençóis. Olho para o lado, para o candeeiro ao lado da minha cama. Não sei o que se passa comigo agora, mas cheguei a pensar em deixá-lo aceso. Mudei de ideias logo a seguir.

- Já não sou bebé. Não preciso de luz de presença nem tenho medo do escuro! - Pensava para mim próprio, talvez a tentar convencer-me de que era esse o caso.

Mal apago a luz, viro-me e fecho os olhos. Por momentos esteve calmo e relaxei ao ver a minha espera pelo pior ser desnecessária. Uns minutos depois, já com os olhos pesados. Oiço um chiar. Ao início ignorei mas volto a escutá-lo, novamente, e mais uma vez. Era pausado, assemelhava-se a uma passada lenta. Mas essa comparação não era grande ajuda para mim. Os meus olhos já estavam bem acordados e aquele chiar continua, lentamente, a suar nos meus ouvidos. Parecia aproximar-se, a seu passo, do meu quarto. Quis jurar que era apenas a minha imaginação mas um raspar continuo esclareceu a minha mente.

- Não aconteceu nada. Não se passa nada. Não estou ouvir nada. - Repetia continuadamente tentando esquecer aqueles ruídos que não saiam da minha cabeça.

Tapo os ouvidos com as mãos, mas não parecia ter o mínimo de efeito sonoro. Os sons eram cada vez mais altos, o arranhar contínuo continuava, como se estivesse a arranhar as paredes antigas de uma casa de madeira. Começava a dar em doido com isto tudo. Encolhia-me coberto pelos lençóis à espera que aquilo acabasse.

Num instante para o outro. Não conseguia ouvir mais. Nenhum som entrava no meu ouvido. Apenas conseguia escutar a minha respiração. Acalmei-me passado um pouco, só que ainda sentia-me desprotegido. Espreitei por debaixo dos lençóis. Observei todos os cantos do quarto, do teto ao chão. Respirei fundo ao ver o normal. Levantei-me e dirigi-me à porta. Estiquei o braço e vi a minha mão tremule a agarrar a maçaneta e girá-la lentamente. Abro a porta com um olho fechado. Suspiro ao ver o escuro corredor, sem nada por trás da porta para parar o meu coração. Olho para os dois lados do corredor.

- Ela ainda deve estar a tratar de algumas coisas sobre o trabalho. - Associo ao ver a luz debaixo da porta do escritório da minha mãe.

Olho para a outra ponta e vejo uma leve luz na porta do quarto do meu tio. Olho para trás à procura da explicação para haver luz apenas naquele quarto.

- Talvez seja da lua. - Penso e volto para dentro do quarto. Estava prestes a fechar a porta quando oiço um grito do outro lado do corredor.

- CHRIS!

Paro no instante. Volto para trás e olho para a porta do quarto do Chris. Posso jurar que vi uma silhueta a tapar a luz por uns breves instantes. A minha curiosidade era demasiado grande e fui em direção à porta. Ia agarrar a maçaneta quando oiço. Os sons estavam de volta. Conseguia escutar ao fundo do corredor, os passos lentos. O raspar não tardou para aparecer. Os meus olhos não largavam aquele canto que nunca me apercebi o quão era sombrio. Esqueci-me da razão por estar ali e fui a correr para um sítio seguro.

- Sim, eu falei com o Rodrigo. Ele aceitou o meu pedido. Era para preparar uma zona para ele. Todas as condições que ele pediu e eu aceitei, vou enviar para o teu email. Só para certificar que não aborrecemos a grande mente artística do Rodrigo. Ah, espera aí um instante, Cloe. - Ela virou-se para trás e pousou o telemóvel. - Que cara é essa, Terry?

- Podemos ir embora? Amanhã mesmo? - Ela sorriu para mim e beijou a minha testa.

Quando dei por mim, já estava no meu quarto, deitado na minha cama. Olhei para cima e vi a mão da minha mãe a esfregar a minha cabeça. Ela sorri e sussurra ao meu ouvido. Apenas foi embora quando adormeci.

- Desculpa lá, Cloe. O meu filho viu um filme de terror sobre um ser maléfico que assombrava a vida de um casal. Clássico filme de terror suponho. Tenho apenas um palpite que vai ser o último que ele viu. - Ela ri e volta a conversar ao telemóvel.

No dia seguinte, de manhã, nós fomos embora antes que qualquer criado tivesse chegado. Apenas parámos para despedir de Chris e fomos para o aeroporto. Ainda tinha o acontecimento da noite passada e tentei dormir durante a viagem. Agora só acordo em Milão.

Criada de um MilionárioWhere stories live. Discover now