Capítulo 2

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— Tomara que você esteja certo. — ela respira fundo. — E as outras duas vezes?

— A segunda vez, ela acha que foi depois de uma noitada em uma balada, na qual ela tinha bebido muito, e tinha quase certeza de que tinha esquecido de tomar a pílula no dia seguinte por causa da ressaca. E a terceira foi em uma viajem que fizemos como nossa segunda lua de mel. Ela disse que não entendia porque tinha ficado grávida, já que estava tomando o remédio certinho, e que daquela vez não tinha tomado medicamento nenhum que pudesse ter cortado o efeito do anticoncepcional. Nunca imaginei que ela tivesse engravidado outras vezes, mas me lembro que por duas vezes, ela me disse que algumas amigas iriam viajar, e eu incentivei que ela fosse junto, já que eu estava trabalhando demais. Então, tenho quase certeza que foi nessas "viagens" que ela fez os abortos na clinica de um dos amantes dela. — suspiro. —Ela relatou tudo isso com muita calma, e depois começou a rir, como se fosse a coisa mais normal e natural do mundo..

— Eu sinto muito por tudo o que você passou. — ela me dá um beijo e recosta no sofá para eu poder continuar.

— Quando ela terminou de falar, me subiu uma raiva, um ódio, eu já tinha ouvido mais do que o suficiente, e eu entrei no quarto. Depois que o cara saiu correndo, ela conseguiu falar, e como eu já falei, ela veio com aquela ladainha de que podia explicar, que não era nada daquilo que estava parecendo. Ela disse que me amava, que ela tinha sido uma fraca em ir para a cama com outro homem, que ela tinha feito aquilo porque estava magoada por eu tê-la deixado sozinha para ir socorrer o meu pai no dia do nosso aniversário de casamento.

Cala a boca. Cala essa maldita boca. Pouco me importa com quem você vai para cama, ou com quantos já foi, que pelo que eu pude escutar foram muitos. O que está me matando é ter descoberto que você matou o meu maior sonho. Como você pode fazer três abortos? Você é cruel, Vitória. Você não tem coração.

— Não fala assim. Eu te amo.

— Não. Você não ama ninguém, a não ser você mesma.

— Não. Eu te amo sim, e fiz tudo isso por nós. Uma criança, só iria atrapalhar nosso casamento.

— Essas palavras fizeram meu sangue ferver ainda mais. Como ela pôde dizer uma coisa dessas? Uma criança é uma benção. Comecei a gritar para ela sair da minha casa, e falei que o ódio e a dor que estava sentindo por ela ter feito os abortos era tão grande, que eu seria capaz de cometer uma loucura. Ela implorou mais uma vez e disse que eu tinha entendido tudo errado. Perguntei o que eu tinha entendido errado. Se era o fato dela ter feito três abortos, matando meus filhos, ou eu tinha entendido errado, e os filhos não eram meus, já que pela maneira como ela estava se gabando há pouco tempo atrás, dizendo que desde que havíamos mudado para São Paulo ela me traía, e os bebês poderiam ser de qualquer um. Ela teve a cara de pau de se sentir ofendida quando eu disse isso, e falou que tinha certeza que eu era o pai, já que era só comigo que ela não usava camisinha.

— Isso é tudo tão absurdo.

— Completamente. Ela ainda me disse que era bobagem eu ficar daquela maneira, que ela não tinha feito nada demais e que muitas mulheres faziam isso, que o corpo era dela e era ela que tinha que decidir se queria ou não continuar com a gravidez. Quando ela disse isso, eu me controlei ao extremo para não voar em cima dela e matá-la. Juro para você Sam, se eu tivesse colocado minhas mãos nela, eu teria feito isso e não iria me arrepender nunca. Foi então, que ela viu que eu estava muito nervoso e se afastou e eu resolvi sair de lá, antes que eu fizesse uma loucura. — respiro fundo. — Essa é a história toda.

— Quem sabe dessa história? — ela pergunta secando mais uma vez o rosto lavado de lágrimas.

— Minhas irmãs, meus cunhados e a Martha, mas pedi para eles não contarem nada para ninguém. 

Caminhos Traçados 2ª EdiçãoWhere stories live. Discover now