Capítulo 02

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POV Anthony

Olho para o teto branco do meu quarto, acho que estou assim tem horas e meus pensamentos são os mesmos. Porque ainda estou aqui? Porque eu estou vivo? Porque eu também não morri?

A vida tem sido uma tortura sem fim, triste e lenta. Não sei o que é dormir há anos, não sinto fome, nem sede, nem vontade de ir trabalhar, nem de viver. A morte seria minha salvação pra esse sofrimento. É o que eu mais desejo.

Muitas vezes tentei colocar um fim em minha dor, mas sempre desisti. Eu sentia como se eu tivesse uma missão aqui, como se algo estivesse me aguardando mas que nunca consigo encontrar.
Bobagem, não sou nada especial. Nem Deus deve me achar especial.

Eu perdi a pessoa que eu mais amava, e o pior de tudo, eu matei ela. Eu estava dirigindo aquela droga de carro, estava correndo feito um louco só pra fazer graça.

Eu sempre corria quando a estrada estava vazia, era só pra ouvir minha mãe brigando comigo e me chamando de "moleque" no final. Eu só fazia isso porque amava ver e escutar o riso dela depois que eu diminuía a velocidade.

Mas aquele dia... aquele dia tudo deu errado.

Foi por um segundo. Eu estava fazendo a brincadeira idiota de sempre, mas um caminhão que estava do outro lado da pista perdeu o controle. Eu tentei desviar, mas a velocidade não ajudou e a parte em que a mamãe estava foi atingida com tudo, em cheio. Capotamos e depois minha vida acabou. Minha alma, tudo de bom que eu já fui, morreu com minha mãe naquele dia e só restou esse merda.

Tenho vinte e sete anos e nenhum um ânimo para a vida, eu faria tudo para trocar de lugar com a minha mãe. Eu daria a minha vida pra ela se eu pudesse.

Faz três anos que tudo aconteceu, que eu matei minha mãe, que larguei meu emprego na fábrica da família e que me larguei por completo.

Eu amava ir pra fábrica trabalhar, sempre passava no galpão onde o chocolate era fabricado só pra sentir o cheiro do cacau. Amava sentir aquele cheiro, era puro amor pelo que fazia. Até que chegou um dia em que não fui mais trabalhar, comecei a odiar aquele lugar porque ele me lembrava a mamãe. Trazia lembranças.

Meu pai e minha irmã tentam o tempo todo me convencer de que eu não fui o culpado, que foi apenas um acidente, mas eu não aceito, sei que eu fui eu sim.

Terapia nenhuma vai me ajudar, eu sei disso. Nunca perdi meu tempo indo nas sessões que meu pai marcava para mim.

Escuto meu celular tocar, ignoro. Eu sempre ignoro.

Não gosto de falar com ninguém.
Minha família e meus antigos amigos não passam de conhecidos agora.

O toque para, fica uns minutos assim até que o toque volte e ignoro de novo. Seja quem for, eu não gosto de atender.

Odeio escutar as vozes de pena que escuto do outro lado da linha. Sempre que alguém da família me liga é a mesma coisa, as vozes são carregadas de pena. Odeio isso.

Olho para a janela aberta do meu quarto e vejo o dia do lado de fora. Sol. Vida.

Vida que eu não sinto.

Me levanto da cama e fico tonto, bebi demais na noite passada. Além da conta.

Olho para o meu quarto e se eu fosse o antigo Anthony sentiria vergonha de ver o caos que o meu quarto está.

Tem garrafas de cerveja espalhadas em todos os cantos, a cama deve estar com esse lençol tem uns dois meses. Ainda tem cacos de vidro no chão por causa de um surto de raiva que tive e acabei atirando um quadro no espelho.

Duologia: Curados Pelo Amor - Um Novo ComeçoWhere stories live. Discover now