Capítulo 06

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POV Anthony

Entro em casa pensando no quanto fui idiota de chamar Pietra para almoçar, eu sou péssimo com essas coisas e de alguma forma eu sempre estou sendo mal educado com ela.

Eu devia me afastar, fugir e correr pra longe, mas ao invés disso só fico procurando uma forma de me aproximar, mas chega, hoje foi a última vez, vou evitar qualquer lugar que ela esteja, vou fazer o meu melhor para me afastar. Ela não merece uma pessoa estragada como eu por perto.

Pietra desperta algo em mim, como se meu antigo eu quisesse aparecer por causa dela. É incrível e ao mesmo tempo me assusta.

Tomo um banho rápido e me sento no sofá, ligo no canal que está passando um jogo da Itália contra a Alemanha e fixo meu olhar na TV. Pego uma cerveja para me fazer companhia e vou bebendo enquanto assisto a partida.

Eu não sou muito fã de futebol por incrível que pareça, assisto apenas as vezes e quando não tem nada pra fazer, como agora. Não consigo mais ter emoção assistindo isso como quando eu assistia com meus amigos.

Na minha infância eu até gostava mais, dizia que iria ser o melhor jogador no mundo e coitado de mim, eu nem sabia chutar uma bola direito.
Mamãe ficava louca atrás de mim pela casa, brigava para eu não jogar bola na sala, pedia inúmeras vezes que eu fosse para o Jardim e eu como um bom pirralho desobediente fazia tudo ao contrário.

Lembro de seu sorriso quando me via chegar de umas das minha aventuras, ela ficava emocionada, me abraçava e beijava meu rosto. Adorava a sensação.

Mamãe era mais nova que meu pai, a diferença entre eles era de dez anos e na época quando engravidou de mim foi um escândalo na família do meu pai. Ninguém conseguia aceitar que ele engravidou uma moça de dezesseis anos.
Mas meu pai não desistiu de provar para as pessoas que ele gostava da minha mãe, casou com ela.

Ele com 26 e ela com 16 anos e grávida, ninguém acreditava no amor mas eu convivi com eles a vida toda e sei que era verdadeiro.

Acredito nisso até hoje mesmo com meu pai tendo casado dois anos após a morte da minha mãe.

Ele tem uma pessoa legal ao lado dele, Gabriela o ajuda em tudo que precisa e ela parece ama-lo. Não conheço ela muito bem, nem tenho o costume de ir muito lá, sempre que apareço na fazenda é de quatro em quatro meses mas
Anna adora a Gabriela, sempre diz coisas boas sobre a mulher e fala como é tratada com amor também.
Gabriela tem três filhos, um que mora na Argentina e está cursando Medicina e dois gêmeos de dezessete anos, todos bem criados.

É claro que sinto culpa de não ir visitar meu pai com tanta frequência, mas é que toda vez que o vejo é como se fosse uma facada, vejo o quanto ele mudou desde a morte da mamãe, ficou mais triste, doente... É meu pai mas sempre fraquejo quando o vejo, por isso evito.

Quando olho ao redor tem muitas garrafas de cerveja pela sala. A casa toda desarrumada de novo.

Olho para a janela e é quase noite, penso em Pietra indo embora sozinha por ruas escuras e quando vejo já estou de pé, vestindo uma camiseta e saindo do meu loft com pressa.

Olho no relógio e são quase sete horas da noite. Apresso o passo.

Ela não precisa saber que vou acompanhá-la, vou ficar de longe. Pietra não vai nem se quer me ver.

Na esquina do bar eu a procuro com os olhos, estou escondido no beco e ela não me veria mesmo que ficasse horas procurando.

Ela está atendendo as mesas, o cabelo amarrado em um coque e o rosto sorridente. Uma bandeja em sua mão e acho bonito como se locomove pelo lugar sem se envergonhar de estar servindo as pessoas. Tão bonita, tão alegre.
As sete em ponto ela some, retorna às 19h10 e a vejo passar pela banda que toca Tarantela para os turistas.
Ela roda perto do senhor de idade que toca um acordeon e depois acena para algumas pessoas se despedindo.

Duologia: Curados Pelo Amor - Um Novo ComeçoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora