Capítulo 09

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POV Pietra

Me jogo na cama depois de conversar com Anthony ao telefone, achei que ele não me queria mais por perto, não me ligou. Mas quando esclareceu o porque de não ter ligado  tudo a minha volta deu aquela clareada surpreendente.

Ainda não acredito em como a noite de hoje foi perfeita, Anthony me deixa com o coração sempre disparado, me faz sentir uma garotinha de quinze anos.

Seus lábios seguiram ávidos para os meus, foi mágico, romântico demais, coisa de filme mesmo...

Quando ele entrelaçou minha cintura para dançarmos eu já sabia que estava ferrada, que ia precisar me segurar pra não agarrar aquele homem lindo.
Eu devia me afastar dele, dizer que no momento eu não sou a melhor pessoa do mundo para se envolver, mas tenho a ligeira impressão de que se envolver também não é sua intenção.
Anthony é muito fechado, não parece o tipo que tem relacionamentos.

Porra Pietra, como sempre você fica tentando criar expectativa, precisa parar com isso ao menos uma vez na vida!

Acordo com uma baita preguiça de levantar, se eu pudesse iria mesmo era ficar dormindo aqui o dia todo.

Tomo um banho morno, visto uma roupa leve por conta do calor que ainda persiste por aqui. Meus cabelos ficam presos em uma trança meio bagunçada e passo uma base só pra disfarçar os sinais de uma noite mal dormida.

Quando chego a cozinha sinto um cheirinho de café e já corro para me servir de um pouquinho daquela belezinha.

Minha mãe está sentada na mesa, olha alguns classificados no jornal e vejo meu notebook aberto para ela.

- Bom dia! - beijo sua bochecha. - Acordou cedo.

- Estou vendo se consigo arrumar algum emprego. - ela me olha com seu semblante triste. - Estou cansada dessa vida Pietra, quero sair daqui. Mudar com você.

- Eu sei.

- É o único jeito de nos livrarmos um pouco das coisas que seu pai apronta. - ela suspira fechando os olhos e tirando os óculos.

- Mas e a vovó? Não quero que ela fique aqui sozinha, com dois filhos problemáticos. Repare que eu disse dois.

- Eu também não quero, mas olhe pra mim filha, eu era linda, cheia de saúde e tudo acabou porque insisti em ter a vida que temos hoje. Isso tudo por uma pessoa que nem se importa muito com a família.

- Mãe, você ainda é linda, apesar de toda dor e sofrimento, mas olhe, eu acho que você tem que mudar o seu interior primeiro. - me sento ao seu lado e toco sua mão. - Está começando a fazer isso agora, buscando uma independência que perdeu há muito tempo.

- Eu fico pensando no quanto eu perdi pelo Luigi. - ela conta enxugando uma lágrima, me corta o coração. - Não escutei meu pai quando ele dizia que Luigi me faria infeliz e eu lutava contra tudo e todos.

- Você amava ele, queria ser feliz apenas.

- A única coisa que não me arrependo desse casamento é de vocês. Foram a única coisa boa disso tudo.

- Somos gratas a você. Fez tanto por nós mamãe, largou a sua felicidade pra fazer a gente feliz. -  me emociono só de lembrar. - Meu pai mudou, é outra pessoa e eu nem conheço ele mais. As vezes fico olhando pra ele e sinto uma tristeza enorme. É como conviver com um desconhecido.

- Eu sei que dói pra vocês mas está na hora de conformar que ele é assim agora.

- Tudo tem um jeito mãe, basta a pessoa querer. - dou de ombros e ela sorri. - Agora tenho que ir.

- Boa aula querida. - ganho um beijo na testa e então me levanto.

- Se meu tio aparecer aqui e tentar fazer alguma coisa é pra chamar a polícia, tudo bem?

- Claro, pode ter certeza que é isso que vou fazer.

- Tchau, até mais tarde. Te amo!

O clima aqui em casa está mais tenso do que de costume, todos estão de mãos atadas e sem saber o que fazer. Meu tio não dá notícias, não aparece e começamos a nos preocupar, já fazem dois dias.

Aqui em casa a situação financeira só tem piorado, o dinheiro que ganho não tem sido o suficiente e meu pai não está ajudando em quase nada. Ele mal tem parado em casa pra falar a verdade.

Hoje decidi ir pra faculdade no meu carro, esses dias eu tenho evitado ele por conta dos gastos com combustível mas como pretendo chegar antes das aulas o melhor é optar por ir com ele.

Depois que descobri que Anthony estava por perto enquanto saia do bar decidi realmente deixa-lo parado. É bom pra minha mãe pois ela pode pegá-lo caso necessite sair.
Me sento de frente a um dos computadores e começo a fazer o meu TCC que por sinal não está nem na metade ainda.

Eu preciso fazer alguma coisa pra tirar o Anthony da minha cabeça ou nunca vou conseguir concluir meu dever.

Sinto falta antecipada só de lembrar que não vou vê-lo, logo agora que evoluímos para beijos em ruas românticas.

Eu fico pensando se devia compartilhar algo assim com Anna, ela é minha amiga e eu divido tudo com ela, mas será que devia fazer mesmo isso? Afinal ela é irmã dele!

Anna sabe ser brava quando quer e chega dá medo.

- Oi amiga que não me dá mais moral. - levo um susto ao ver Anna parada ao meu lado.

- Que susto! - reclamo com a mão no peito. - Quer me matar?

- Quero e muito. – ela força um sorriso.

- Por? - engulo em seco.

- Me esqueceu, simplesmente isso. Como pode esquecer da melhor amiga assim?

- Anna, desculpa, é que tem tanta coisa acontecendo... Tenho que apresentar TCC, trabalhar e ainda resolver problemas pessoais... - toco sua mão e sorrio. - Estou aqui agora e prometo não sumir mais.

- Assim eu espero. - ela diz fingindo seriedade. - Quer tomar um gelatto?

- Anna, são sete e meia da manhã. - eu a olho com uma sobrancelha arqueada.

- Verdade, me esqueci. - é maluca mesmo. - Saí com Guilhermo, e adivinha?

- Pegou sapinho? - brinco e ela revira os olhos.

- Engraçadinha. Eu ia falar que ele disse que está apaixonado por mim. Me levou em um restaurante incrível e adivinha só? - ela me mostra a mão com uma aliança de prata. - Estou namorando!

Olho pra ela sem saber o que dizer, fico olhando para o rosto sorridente e dá até remorso. Ela me conta as coisas e eu crio uma bolha enorme de segredos em volta de mim.
- Não vai dizer nada? – ela pergunta fazendo uma careta.

- Parabéns, sejam felizes? - as felicitações saem mais como uma pergunta e me arrependo no minuto em que ela revira os olhos.

- Porque não gosta dele? Guilhermo sempre te tratou muito bem. - Sua mágoa me faz me sentir mais culpada ainda. Sou horrível meu Deus!

- O problema não é ele, é o fato de se conhecerem a tão pouco tempo e de ele ter pegado metade das meninas da faculdade. Só me preocupo.

- Eu sei, mas decidi me arriscar, as pessoas podem mudar.

- Claro. – falo com um sorriso para não dizer o que realmente penso, olho para o relógio em meu pulso e me levanto. - Minha aula começa em três minutos. Te vejo mais tarde?

- Claro. Almoçamos juntas, o que acha?

- Perfeito.

O dia é longo, parece que não passa e demora séculos para chegar o outro dia. Quero ver o Anthony, quero seus beijos e suas mãos em mim, é o que mais desejo agora.

Quando chego em casa tem um carro de Polícia na porta e já fico com o coração na mão.
Minhas pernas ficam meio bambas por conta da preocupação, do medo de entrar lá e ter alguma notícia ruim.

Quando entro no prédio a porta da casa da minha avó está aberta e então eu entro. A casa cheira a tabaco e não poderia ser diferente já que ela e meu tio fumam em todos os cantos.

Minha avó está sentada na cadeira de balanço dela, um policial anota coisas enquanto ela fala algo que ainda não sei o que é. Mamãe está servindo chá para o outro policial gordinho e pigarro chamando a atenção de todos para mim.

- O que está acontecendo? - pergunto com o coração já nas mãos.

- Não é nada de demais querida, os policiais só estão aqui para conversar com sua avó sobre seu tio. - mamãe lança um mínimo sorriso para mim. - Senta, talvez você possa ajudar de alguma forma também.

- Estamos procurando saber os lugares que seu tio frequenta, as companhias que tem, onde ele pode conseguir as drogas... tudo é de extrema importância. - o policial que estava conversando com minha avó me olha.

- Eu não sei se de nada que pode ajudar. - respondo me sentindo uma inútil. - Minha relação com ele nunca foi muito boa, ele sempre ficava agressivo, nunca conseguiu nos bater ou encostar a mão em qualquer uma de nós, mas era sempre porque alguém chegava para ajudar.

- Ele implicava muito com vocês?

- Muito frequentemente. Era sempre por dinheiro, ele queria por tudo dinheiro para conseguir suas porcarias. - conto sentindo um bolo se formar em minha garganta. - É sempre tão... tão assustador.
- Marcello sempre foi muito encrenqueiro, já foi expulso de muitos bares e arrumava confusão com qualquer um quando estava sobre o efeito de drogas. - minha mãe se senta ao meu lado e me abraça pelo ombro, me encosto no seu.

- Meu filho também está sempre arrumando dívidas com os traficantes, para minha família não acabar na mão de nenhum desses bandidos eu sempre acabo pagando As dívidas. - Minha avó seca uma lágrima e olha para os homens envergonhada. - A gente vive ensinando para um filho que o caminho das drogas é o pior pra se percorrer, mas eles esquecem de tudo quando um amigo oferece... É triste.

- A senhora poderia dar o nome desses traficantes? - o policial gordinho pergunta.

- Não, ela não pode. - minha mãe interrompe se endireitando no sofá e olhando para vovó. - Não pode dizer ou vai colocar todos nós em risco, por favor!

- Eu não vou. Sou vivida o bastante para saber que temos que abrir mão de algumas coisas para que outras não piorem.

Os policias insistem algum tempo, prometem proteção e todo o resto que sabemos que não podem cumprir. Fugir de um cartel é complicado e não queremos colocar toda nossa família em perigo.

Antes da hora de dormir recebo uma mensagem de Anthony e não consigo me controlar de tanta felicidade.
"Como você está? Te vejo amanhã?"

- Ele se preocupa. - comemoro e minha mãe me olha torto quando entra no quarto. - Não é nada.

- Sei... - ela ainda me olha desconfiada quando se deita.

" Estou bem e você? Sim, nos vemos amanhã e estou ansiosa."

Melhor alguém ser sincero sobre os sentimentos porque ele é meio difícil...

"Eu também estou Pietra, foi estranho não te ver hoje, mesmo que já tenha acontecido antes."

Coloco a mão no peito pra ver se meu coração ainda está batendo porque depois dessa não tem como ficar 100% bem.

"Então é isso, nos vemos amanhã, no horário de sempre."

" Dorme bem."

"Você também, tenha bons sonhos."

Quando saio da faculdade no dia seguinte, ando o mais rápido que posso para não perder o ônibus. Hoje estou feliz porque vou ver aqueles olhos misteriosos que tanto gosto e que tem me encantado a cada dia mais.

Receber as mensagens de Anthony antes de dormir foi surreal, estou me acostumando mal e agora ele vai ser obrigado a falar comigo todas as noites antes de se deitar. Tô nem ai se ele não vai gostar, ninguém mandou ele me acostumar mal.

Desço do ônibus e faço o caminho contrário de todos os dias, nem sei porque faço isso mas é só pensar em Anthony que já estou indo para o rumo da casa dele.

Parece que não consigo encontrar controle sobre meu corpo e simplesmente deixo que me guie, e se ele quer me guiar até o apartamento daquele homem lindo só posso obedecê-lo.

Tiro a mochila das costas no meio do caminho, o dia está ensolarado e bem bonito pra ser fotografado. Pego minha câmera e enquanto faço meu caminho vou clicando uma coisa aqui e ali.

Olho para o prédio de Anthony assim que estou perto do restaurante que almoçamos, decido fazer uma surpresa pra ele, que na verdade não sei se vai gostar, mas eu vou.

Pego meu celular e coloco seu número pra chamar, quando Anthony atende no segundo toque meu sorriso aparece como mágica.

- Oi. Você está bem? - ele pergunta preocupado e odeio que ache que sempre que ligo é porque está acontecendo algo.

- Tudo ótimo! - nem pergunto sobre ele, quero só ver, é bem melhor. - Está em casa?

- Sim... por quê?- sua preocupação me faz rir.
- Nada, é só que eu acho melhor você ir na varanda e ver uma coisa. - minha voz quase me entrega. - Passei aí perto e tinha uma coisa meio estranha, melhor olhar. - tampo minha boca para não rir mais e estragar tudo.

- Vou vestir uma roupa e já vou olhar. - Ele está nú? Melhor não pensar nisso agora Pietra.
- Então tchau. - desligo antes que ele apareça na sacada.

Preparo minha câmera pra não perder o momento e a surpresa em seu olhar.
Anthony por favor colabora, faz uma carinha bem feliz e anda logo porque minha nuca tá doendo de tanto ficar olhando pra essa varanda!

Então ele surge com um ar todo preguiçoso, de calça jeans, sem camisa e cabelo bagunçado. Meu coração dispara como sempre, reage tão vergonhosamente a ele.
Quando ele me vê fica confuso por um longo momento, aperto o botão de tirar a foto e muitas vão sendo tiradas em sequência.

E então ele se encosta os cotovelos na grade da saca, sorri de lado e passa a mão nos cabelos ainda encostado na grade e só com isso eu ganhei meu dia. Poderia morrer agora que iria feliz.

Quando penduro a máquina no pescoço ainda ficamos nos encarando, ele com o sorriso congelado no rosto e eu olhando pra cima como uma maluca. Acho que somos o centro da atenção de quem passa por mim curioso pra saber o que eu tanto olho.

Faço um sinal com as mãos para ele vim até mim e então seu sorriso se alarga mais, acho que Anthony não faz ideia do que isso desperta em mim.

Estou apaixonada e tomo consciência disso quando ele se afasta da sacada e entra em sua casa.

Toda vez que o vejo, que converso com ele meu coração fica maluco, quer descontroladamente estar perto dele.

Sinto que ele tem uma dor com ele, carrega sozinho nas próprias costas e queria tanto ser forte para aguentar com ele.

Eu posso aguentar, sei que sim mas ele nunca se abre não confia em mim e talvez seja porque sou apenas mais uma garota com quem ele está passando um tempo, mas no momento eu não ligo, quero viver o presente e que se dane o futuro porque ele é incerto.

Anthony sai pela porta do hall do prédio, ele vem até mim em passos decididos e enxugo as mãos soadas no jeans. Estou me sentindo uma garotinha em uma paixão dessas avassaladoras.

Então sem que eu espere sua mão vem pra minha nuca e ele une nossos lábios ali, no meio da rua, com gente indo e vindo de todos os lugares.

Não ligo, agora eu só ligo mesmo para ele e seus beijos que me tiram o chão.

Sua mão que estava livre agora escorrega para minha cintura e me puxa pra perto do seu corpo. Enrolo meus braços em seus ombros e sinto sei perfume.

O beijo é calmo, cheio de novas sensações e afeto.

Anthony rompe  o beijo com uma leve mordida em meu lábio inferior e então abro meus olhos. Nem sei explicar o quão avassalador é encontrar seus olhos lânguidos me observando.

Ainda estamos nos braços um do outro...

- Surpresa! - brinco ganhando um beijo rápido, sorrio gostando do quanto isso parece íntimo.

- Uma boa surpresa. - Ele confessa me deixando envergonhada.

- Pensei que estava descendo aqui pra brigar comigo e perguntar se tenho um parafuso a menos. - a mentira vem só pra ver mais uma reação dele.

- É sério que pensou isso? - sua cara de ofendido me faz desistir da mentira no meio do caminho.

- Não, era apenas uma brincadeira boba! - levanto minhas mãos em sinal de rendição e ela volta rápido para seus ombros. - Eu nem me lembro mais o que estava pensando, me deixou meio fora do ar sorrindo daquele jeito na sacada do seu apartamento. Bem sensual, devo ressaltar.

Anthony não sabe reagir a isso, acho que não vai saber reagir a maioria das coisas que digo mas posso ensinar a ele.

Descobrir que está apaixonada por um homem desse devia me assustar, mas ao contrário disso me faz motivar a seguir mais em frente.

Minha mão toca a maçãs de seu rosto, é tão bonito, parece uma obra de arte, uma escultura...

Tem uma expressão forte e selvagem, me faz ficar meio fora de mim.

- Aproveitando que está aqui, me agarrando feito um louco, que tal irmos almoçar juntos? - pergunto e de novo o sorriso mais lindo do mundo aparece.

- É uma boa ideia.

- Dessa vez eu pago, e não quero nem saber do seu dinheiro. - comunico tão determinada que ele não tem outra opção a não ser aceitar.

Anthony busca minha mão e a prende na dele, caminhamos de mãos dadas, como um casal passeando pela cidade. Adoro a sensação e agora ele que aguente minha mão pregada na dele o tempo todo.

Entramos no restaurante em que almoçamos juntos pela primeira vez, mas dessa vez não tem tanta tensão ruim circulando por nós dois, só carinho e paixão.

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Duologia: Curados Pelo Amor - Um Novo ComeçoWhere stories live. Discover now