Capítulo 03

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POV Pietra

Dou as costas ao irmão babaca de Anna e saio sem ao menos me despedir.

O cara não me conhece e me trata daquele jeito? Nem sabe nada de mim e já deduz que tenho um carro pra me levar pra casa? Louco.

Sabia que ele era dramático e tudo mais, que vive se isolando. Anna me contou algumas coisas sobre a personalidade dele, mas nunca imaginei que fosse tão babaca.

Ando pelas ruas de pedra e prédios familiares, não tem nada aberto a essa hora por onde estou passando. Só algumas famílias que ficam na porta aproveitando a noite.

Entro no ônibus que costumo pegar todas as noites, minha casa não é tão longe. Trinta minutos andando, mas de noite e no calor não vale a pena andar assim.

Fico pensando na besteira que fiz em comprar aquele carro dos anos 50. Aquela lata velha só tem me dado trabalho, mas também é melhor ele do que não ter carro nenhum.

As vezes preciso levar minha mãe ou minha avó para o hospital e ele quebra bastante o galho.

Quando desço na minha parada olho para a rua e essa sim é mais deserta. Ninguém na porta e algumas luzes já estão apagadas.

Entro em casa e a primeira coisa que sinto é o cheiro da comida se espalhando pelos cômodos.

Na cozinha minha mãe está distraída preparando o jantar. Não escuto a voz da minha sobrinha e aposto que já foi embora.

- Cheguei. - falo e minha mãe Helena me olha. - Estou morta de fome.

- A comida está quase pronta. Pode fazer um refresco?

- Claro.

Abro alguns armários e pego os poucos ingredientes para um suco de limão. Ainda bem que dessa vez ela não inventou de ser chá, não sou muito fã.

- Clara já foi embora?

- Sim. Antonella buscou ela há uma hora.

Escutamos a porta da frente se abrir, nunca trancamos, só trancamos mesmo a lá de baixo.

- Helena, você tem um pouco de açúcar para me arrumar? - minha avó surge com uma vasilha pequena na mão. - Oi Pietra, não te vi hoje mais cedo.

- Tive que sair rápido para o serviço, sabe que não gosto de me atrasar. - me explico.

Ela assente enquanto minha mãe enche sua vasilha com açúcar.

- Porque não janta com a gente?

- Não precisa, já fiz lá em casa. - ela diz pegando o recipiente. - Tenho que ir, amanhã apareço por aqui.

Ela nos deixa e olho pra minha mãe.

- Sua avó sente falta do seu tio, querendo ou não sabemos que ele é o preferido dela. - minha mãe diz se sentando na cadeira.

- Ela só não pode se mostrar fraca pra ele. A reabilitação não é nada fácil, exige muito do apoio da família, eu queria que meu pai fosse também.

- Seu pai acha que beber todos os dias é uma coisa normal, não é alcoolismo.

- Eu ainda tenho esperança de que ele vá um dia. E que vai se recuperar, sair dessa vida. - falo ganhando um olhar preocupado de minha mãe.

- Pietra, eu acho que você tem que ter limites para o seus sonhos, seu pai... tentamos de tudo e ele nunca mudou.

- Eu sei, mas isso não significa que seja impossível. Um dia ele acorda pra vida.

Duologia: Curados Pelo Amor - Um Novo ComeçoWhere stories live. Discover now