II - A GAROTA NO RIO

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Millo e Meicy chegaram as margens do Rio Della Nien. De cima de um monte por trás de um cercado de madeira, eles observavam as águas escuras e turbulentas. A correnteza estava forte, fazendo ondas e redemoinhos que tomavam diferentes direções a seguir em seu curso. Não era um ótimo lugar para se banhar, aquele rio possuía muitas histórias de vários desastres, por isso que o seu nome em sidelênico significava Rio da morte.

A paisagem era representada pelas grandes árvores que tomavam ambas as margens e por uma velha ponte de cordas que cruzava o rio, poderiam supor que não era um lugar muito visitado. Os dois garotos levaram cerca de dez minutos para chegar até aquele local, e fazia tempo que não escutavam os gritos desesperados da criança. Millo arqueou o tronco, apoiando as mãos sobe as coxas, respirava ofegante. Meicy nem precisou descansar da corrida, do alto, avistou no meio do rio mãos brancas que tentavam se manter agarradas a uma rocha coberta de musgo.

— Como ela... — Meicy se interrompeu. Precisava pensar em algum meio de ajudar aquela menina.

Millo olhava para ela, percebendo a cor inusitada de seu cabelo. Era uma mistura de roxo e vermelho, que pareciam ser consumidos pelas águas negras e turvas.

— Meicy o que faremos? — Ele perguntou sem tirar os olhos da menina.

Meicy olhava para ela, ainda pensando em uma forma de tentar salvá-la, mas como faria isso? Ele não sabia nadar muito bem e o pior, naquela correnteza violenta, nem o mais habilidoso nadador sairia inerte. Ele cerrou os punhos e fechou os olhos com forças.

— Deveríamos buscar ajuda!

A menina de cabelos coloridos, parecia exausta. Millo percebeu aquelas pequenas mãos de dedos finos escorregarem da rocha em que segurava. Ela iria morrer afogada! Ele não esperou pela resposta de Meicy, correu, subindo na ponte de cordas, pisando nas tábuas rachadas e podres. O garoto de olhos escuros observou a atitude heroica e suicidada de seu amigo índio. Millo engoliu um seco ao afundar seu pé direito em uma taba que havia se partido, por pouco não caiu.

— O que pretende fazer?! — Meicy gritou, estarrecido.

Millo olhou para trás, observando a preocupação de seu amigo, não sabia o que responder, nem ele mesmo sabia o que estava fazendo. Olhou para baixo, para a menina na água. Ela estava perdendo as suas últimas forças, ele se sentiria culpado caso ela morresse. Respirou fundo. Precisava fazer aquilo não só por ela, mas por si mesmo.

O jovem índio passou por baixo de uma das cordas de apoio, sentia os seus cabelos se balançarem ao vento. Era agora. Ele fechou os olhos e jogou o seu corpo contra a água turbulenta.

— MILLO! — Meicy gritou o seu nome, soando rouco.

O índio caiu na água, um pouco à frente da garota. Deixou-se se levar pela correnteza e agarrou na mesma rocha, segurou no pulso da menina, no mesmo momento em que ela havia se soltado. Foi por pouco!

— Se agarre em mim! — Ele pediu, fitando os olhos cansados da garota, que mais parecia estar adormecida pela exaustão.

Ela obedeceu sem relutar, agarrando nas costas do índio. Ela se segurava firme, embora, a fraqueza de seu corpo estava eminente. Millo não quis opinar, não naquele momento, mas se sentia assustado com aquela garota. Não só o seu cabelo que era estranho, os seus olhos eram de um vermelho cor de vinho.

Meicy ainda estava imobilizado. Ele nunca pensou em sua vida que Millo fosse tão corajoso. Sentia-se envergonhado e com inveja, mesmo sabendo que esse não era o momento certo. O seu amigo estava correndo perigo de vida juntamente com aquela menina e só ele poderia salvá-los. Se entrasse na água correria o risco de ser arrastado pela correnteza. Olhou em sua volta. Precisaria de uma corda para tentar puxá-los, mas onde encontraria alguma dentro daquela floresta?

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora