XXXI - PIRILAMPOS

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 Meicy recolheu uma flecha cravada em um crânio. O projétil possuía uma ponta afiada feita de sílex cinzento, mas pelo tempo naquele local, o corpo de madeira já estava bastante danificado. O jovem feiticeiro analisava aquele instrumento, ainda incrédulo pelos esqueletos encontrados espalhados naquele ambiente. Salomon segurava uma lança, cuja ponta também havia sido feita do mesmo material que o da flecha. Kelmo fitava um dos esqueletos com a mandíbula escancarada e o crânio tombado na parede, coberto por teias de aranha. Ainda vestia alguns trapos encardidos e a pele seca revestia alguns membros.

Millo observa as pinturas na parede feitas com tinta de um tom avermelhado ao marrom. Eram símbolos tribais e alguns outros desenhos que lembravam pinturas rupestres. Lirah segurava um pequeno jarro de cerâmica, apesar de não estar perfeitamente modelado, as mesmas pinturas tribais presentes a encantavam. Kainã entrou por último, desprezando a organização da casa abandonada. O chão estava empoeirado e percebia mais fendas abertas no teto, deixando amostra o alaranjado do entardecer.

— Esse lugar é asqueroso! — Kainã reclamou, enquanto retirava alguns trapos que serviam de porta para um outro cômodo.

Meicy continuava a averiguar a ferramenta em suas mãos. Coçava o queixo, mas já estava bem óbvio o que havia acontecido ali.

— Certamente foram atacados por inimigos. — Ele comentou.

— Deveria ser uma família inteira que morava aqui. — Kelmo continuou.

— Isso me parece fazer muito tempo. — Millo falou. — Nunca pensei que esse mundo fosse tão primitivo.

— Primitivo e aterrorizado por um demônio. — Salomon falou, pensativo, com o olhar vidrado em um dos esqueletos. — Precisamos sair daqui logo e regressarmos com um exército para derrotar esse monstro.

Meicy temia aquela atitude de Salomon. Não poderiam subestimar Haiko, o elfo não se deixaria ser derrotado tão facilmente e principalmente, ele não perderia o seu tempo com o que não o interessava, a não ser, que desejasse brincar com os seguidores como se fossem meros bonecos.

— Com Lirah como nova caçadora, será bem útil para atrai-lo, já que ele tem certo interessa nela. — Salomon continuou, porém, estava mais pensando alto sobre os seus planos que realmente conversando com Meicy.

Meicy havia entendido. Lirah havia sido poupada pelo ancião para ser usada como uma arma. Aquilo era cruel e desumano, mas talvez, aquela tenha sido a única alternativa de Salomon deixá-la viver. Claro! Ele ainda iria precisar da aprovação do conselho, mas ele era bastante influente para isso. Porém, esse seu plano de ataque contra Haiko não seria tão simples. Usar Lirah como isca para atraí-lo só iria dar-lhe uma oportunidade para sugar a alma da maga e o jovem feiticeiro apesar de confiar na magia infernal, sabia que a amiga era amável demais para sujar as suas mãos, mesmo que isso fosse para defender a sua própria vida, ou seja, talvez Lirah não iria conseguir enfrentar o demônio novamente. Ele não queria duvidar dela, mas... Se preocupava demais.

— Meicy! — Salomon o despertou de seus devaneios. — Seria ótimo se você e Millo pudessem se adiantar. Levarei os caçadores para caçar. Deixarei a maga sob suas mãos, lhe poderá ser útil.

Salomon olhou para Lirah com desdém, ela se entristeceu inevitavelmente, apesar de o ancião não ser um sujeito agressivo, porém, a sua triste situação lhe mergulhava numa maré de angustia e desânimo. Ela não tinha mais esperança alguma.

O ancião chamou pelos gêmeos, ajeitando a própria espada em sua bainha e caminhando para a saída. Kainã resmungou em voz baixa palavras incompreendidas, enquanto Kelmo foi sem reclamar, apenas olhou para Meicy antes de sair, talvez tentando-se comunicar com o olhar para garantir que tudo iria ficar bem.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now