V - O SEGREDO DO GATO

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    — Você me envergonhou na frente de todo mundo! — Jeon esbravejou em uma voz demoníaca.

O homem barbudo segurava o filho pela gola do manto branco erguendo o seu corpo, de modo que os pés não tocassem mais o chão. Eles estavam em uma pequena câmara escura e vazia do templo, onde exibia algumas estátuas de anjos e uma maior no centro se referindo a deusa Karen. Meicy mantinha a calma, não deixava se assustar pela face horrenda e raivosa de seu pai. Ele apenas o fitava distinto, sem demonstrar emoção alguma.

— O que pensa que está fazendo? Acha que sou algum palhaço?! — O homem continuou, raivoso.

— Jeon! — Susan falou aflita, enquanto segurava a menina nos braços que insistia em chorar descontroladamente — As pessoas vão ouvi-lo, por favor...

— Cale-se! Saia daqui!

Susan estava tão assustada quanto a criança que chorava em seus braços. Ela se manteve calada e impotente. Jeon voltou os seus olhos ao Meicy, rangeu os seus dentes como um animal feroz.

— Pode me ameaçar, fazer o que quiser. — Meicy finalmente falou. — Eu não vou mudar de ideia e já fiz o meu juramento diante do Ancião mestre.

Uma gota de suor corria pela têmpora esquerda do garoto. A tinta seca marcada a pouco tempo no culto em sua face descamava em minúsculos grãos.

— Só quero lembrá-lo que estamos em um lugar sagrado, — Meicy continuou — se quer me bater ou me matar, que faça isso lá fora.

Com isso, o garoto despertou a fúria em seu pai que o jogou contra o chão de pedra aos pés de uma estátua angelical. Meicy sentiu o impacto de sua cabeça tombar na peça rochosa de mármore. Sentiu-se tonto enquanto via o seu pai lhe fitar monstruosamente, porém, não disse mais nada, talvez não tivesse mais argumento para insistir na discussão, mas de algo o garoto sabia, naquele momento, ele não tinha mais casa e nem pai.

O homem lhe deu as costas e puxou a sua mãe pelo braço, a empurrando para frente diante da entrada daquela câmara. Susan olhou para trás por um breve segundo, mas foi incapaz de enfrentar seu próprio marido. Meicy já esperava isso de sua mãe, ela era uma tola submissa, incapaz de levantar a voz contra ele, nem que fosse para defender a própria dignidade.

O garoto viu os seus pais deixando aquele lugar, lentamente a sua visão foi se tornando turva e tudo ficava escuro como se uma densa névoa negra cobrisse o seu consciente. Ele não percebeu se havia desmaiado ou dormido, no entanto, imagens tomavam forma através do breu, poderia ser um sonho ou um pesadelo.

☽✳☾ 

— Quem está aí? — Meicy perguntou ao observar um pequeno ser se movendo na penumbra.

A criatura parecia estar caminhando, se aproximando do garoto de olhos escuros lentamente. Meicy não fazia ideia de onde estava. Tudo estava escuro e apenas uma meia-luz provinda de sabe-se lá onde iluminava o seu corpo. Um par de olhos amarelos incandescentes se destacaram na escuridão e foi aí que o garoto se assustou. Tentou recusar alguns passos, mas, suas costas foram de encontro a uma parede invisível.

Os pequenos passos se aproximavam silenciosamente, Meicy sentiu o seu corpo tremer, ele estava com medo. Diante dele não era uma presença humana, era um algum tipo de bicho que deveria estar faminto. Ele cerrou os punhos, se o animal o atacasse ele precisaria se proteger de alguma maneira.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWo Geschichten leben. Entdecke jetzt