XXXII - ALÉM DO RITUAL

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Meicy vestia o seu manto, abotoando-o delicadamente. A noite esfriava subitamente a cada minuto, era como se fosse um toque de recolher natural. A lua ainda brilhava intensamente e os vaga-lumes insistiam em rodopiar o alto de sua cabeça, as rãs cantavam não muito distante dali, na qual, fazia um breve dueto com as corujas. Era uma noite agradável, a melhor de todas que ele já teve.

Ele olhou para Kelmo. A caçadora estava em pé, com os olhos vidrados no lago. Fingia não sentir frio, pois, havia negado o manto de Meicy quando ele lhe ofereceu, já que o dela havia dado a Lirah no dia em que a maga ardeu em chamas para se livrar das garras de Haiko.

— Demoramos muito. — Kelmo falou em um tom sério.

Meicy olhou para ela. A jovem continuava com a sua atenção presa nas ninfeias e no lago. Ele percebeu que ela só queria mudar de assunto. Ele se aproximou, não conseguindo disfarçar o sorriso da face.

— Sério? Pois eu achei que foi bastante rápido.

Ele a abraçou por trás, enroscando a sua face no ombro dela. Kelmo revirou os olhos e segurou nos braços deles que contornavam a sua cintura.

— Meicy, por favor! — Ela indagou, impaciente, enquanto tentava se livrar dos braços do jovem feiticeiro. — Há essa hora Salomon já deve ter retornado.

Ela se virou para Meicy com o cenho franzido. Ela tentava intimidá-lo, mas aquela sua expressão irritada não funcionava mais contra ele.

— Calma, meu amor! — Meicy falou, com um tom de deboche em sua voz. — Vai ficar tudo bem.

Meicy segurou na mão dela e olhava para o caminho obscuro em frente, cercado por labirintos de galhos gigantes e arbustos espinhentos.

— Mas, Meicy...

— Relaxa. — Meicy olhou para ela. — Penso que... ainda não se sente preparada para se apresentar a eles como minha namorada, ou melhor, ao idiota do seu irmão.

— Ele vai surtar... — Kelmo falou pensativa, imaginando a cena ao encarar o seu irmão diante daquele fato.

— Não se preocupe. Eu cuido dele.

— Eu não sou uma garotinha! Eu sei me cuidar!

Kelmo torceu o bico. Parecia irritada, mas se controlava para não falar nenhuma palavra que pudesse ofender. Ainda estava difícil para ela se acostumar com aquela situação, mas Meicy precisava entender, que a sua amada era uma caçadora, uma guerreira, um exemplo de mulher forte que nunca iria se deixar ser defendida por outros. Ela era orgulhosa demais para isso.

— Me desculpe. — Ele andou alguns passos, levando ela junto de mãos dadas. — Eu só queria ser gentil. E... Gostaria que fosse um pouco mais carinhosa.

— Eu estou sendo carinhosa com você... — Ela mirava os olhos para o caminho em frente, desviando o olhar propositalmente. — Do meu jeito.

☽✳☾ 

Meicy e Kelmo finalmente chegaram na velha casa na árvore. Adentraram ao recinto, percebendo uma fraca iluminação por uma das velas de rituais de Millo. Todos encaram o casal ao entrarem ainda de mãos dadas. Meicy percebeu que Kelmo queria soltar sua mão, mas ele a segurou fortemente, impedindo a caçadora de realizar tal ato. Ela o encarou, corada pela vergonha.

Salomon levantou-se, não parecia nada amistoso, caminhou até eles. Kainã não estava junto a eles. Os bruxos também estavam sentados no chão diante da vela. Pareciam terem acabado de jantar a caça da noite. O ancião olhou para Kelmo com uma face nada amistosa. Ele estava furioso.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now