XVIX - O LEÃO NEGRO DE TRÊS CABEÇAS

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 Meicy se escondia por trás de uma rocha já no fim da floresta. Estava agachado com a sua bolsa no chão. As poucas árvores em volta faziam uma sombra mais densa que a escuridão que os assolavam. Estava preste a chover, os trovões rimbombavam fortemente, dando a sensação da terra tremendo sob seus pés. Os lobos demoníacos já não lhe faziam mais companhia e de alguma maneira, ele procurava alguma ferramenta para se defender, pois, naquele exato momento Kelmo enfrentava imensos vermes devoradores de carne.

A caçadora ergueu a espada, vislumbrando do alto de um pequeno desfiladeiro as duas partes do verme que acabara de partir em dois rolar por uma ladeira íngreme, deixando um rastro viscoso da seiva gosmenta e leitosa. O terreno era pedregoso e deserto a parti dali, lembrava um pequeno cânion. Depois dali era a Colina das feras. Kelmo suspirou abaixando sua arma, segura de que não surgiria mais monstros como aquele brotando da terra.

— Vamos seu verme medroso, saia do esconderijo! — Ela gritou impaciente como sempre.

Meicy havia esperado um momento até perceber que a sua companheira estava falando com ele na verdade. Ele se pôs de pé, resmungando irritado. Pôs a alça da bolsa do ombro e se revelou. Segurava o seu canivete, ainda não estava tão confiante que estariam seguros. O breu tomava conta do ambiente e infelizmente não conseguiam mais acender a tocha. Sorte dele que tinha a capacidade de enxergar no escuro, mas Kelmo não poderia saber disso, porém, justamente os olhos de cobra dela também lhe trazia tamanha vantagem.

— Estamos perto. — Meicy comentou ao se aproximar dela. Vislumbrava a vista.

— Isso não vai lhe servir de nada. Bruxos são patéticos! — Ela disse, observando o canivete que Meicy segurava.

— Não comece, Kelmo. Deveria amadurecer um pouco mais.

Ela guardou a espada na bainha e cruzou os braços. Olhava em volta, procurando um local seguro para descer o desfiladeiro.

— Eu só acho que fez uma péssima escolha de classe. Não se sente humilhado em ser protegido por uma garota?

Meicy havia encontrado um caminho em meio as rochas com mais facilidade para chegar até lá embaixo. Antes que pudesse tomar a dianteira, Kelmo entrou em sua frente. Claro! Ela era a caçadora e tinha que guiá-lo.

— Não me arrependo de minha escolha. — Ele respondeu à pergunta dela. — Não vejo problema algum ser protegido por uma garota, o único problema é você ser a garota.

Kelmo segurava nas rochas em ambos os lados e deixava suas botas derrapar na terra solta. Ela sorriu ao escutar a resposta de Meicy, mas não deixou se irritar por isso. Uma chuva fina começou a cair de repente e eles sabiam que precisavam apressar o passo. O jovem feiticeiro a seguia, mas descia com mais cuidado já que não possuía a mesma agilidade que ela.

Ao chegar na parte inferior, Kelmo notou que havia mais vermes mortos do que ela havia matado. Alguma dupla já havia passado por ali mais cedo, a essa altura já deveriam estar no Monte Sidda. Ela cerrou os punhos. Com aquele tempo fechado seria difícil observar o amanhecer. Subitamente, ela se disparou em uma corrida deixando Meicy para trás.

— Kelmo! — Meicy gritou. — O que está fazendo, sua maluca?

Ela não havia escutado ou apenas o ignorado. Não restou outra alternativa para Meicy a não ser correr também. Kelmo era bastante rápida para se alcançar e o jovem feiticeiro procurava entender o porquê daquela pressa súbita. Meio que óbvio a resposta. Ela temia por não conseguir chegar a tempo antes do amanhecer, porém, aquele terreno era bastante hostil para se distrair. Meicy corria, mas mantinha a cautela. Olhava freneticamente para ambos os lados, observando as imensas crateras que formavam túneis subterrâneos em alguns pontos. Foram por aqueles locais que saíram os vermes gigantes. Ainda havia mais, o jovem feiticeiro conseguia sentir a terra pulsando abaixo de seus pés.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now