XXXVI - DECISÕES

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O pátio no piso interior, abaixo do primeiro castelo e onde era acesso ao jardim e a estufa, abarrotou de figuras vestidas de branco e mascaradas. Era centenas deles, certamente vindos de Sagnows. Eram caçadores armados até os dentes e em guarda, preparados para o embate diante da figura flamejante em verde que se aproximava acompanhado de rosnados demoníacos.

Os lobos chegaram primeiro, destacando os seus olhos vermelhos na escuridão, saltando no ar, abrindo as garras e exibindo os dentes pontiagudos. Os caçadores de início não se moveram — imaginando que as feras estariam em outro plano —, entretanto, as feras os atacaram abraçando-os contra o chão e fechando a mandíbula em seus corpos, arrancando fatias de carne com tecido e tudo. Outros assistindo aquela cena começaram a reagir e a enfrentar os demônios — já que estavam no plano físico poderiam ser feridos e mortos.

Enquanto os caçadores estavam distraídos lutando por suas próprias vida, Meicy caminhava em passos lentos, pisando os pés descalços nas pedras que formavam o piso do pátio. Ele nem sequer olhava ao redor, passava reto, ignorando os gritos de sofrimento dos homens e mulheres que agonizavam ao serem devorados vivos. Se direcionava até os fundos do palácio interior, onde se localizava a cantina e os dormitórios, sendo seguidos por mais uma dezena de lobos sanguinários.

Meicy parou diante da porta dupla de madeira que se dava para o jardim. Nem precisou de muito esforço para abri-las, ou, destroça-las. Ele apenas fechou os olhos e respirou fundo como se evocasse o poder de seu interior, no mesmo instante, as portas começarem a tremer e rachaduras a surgir, logo lascas de madeiras foram se soltando como uma quebra-cabeça, sendo arremessadas ao redor e acompanhadas por uma leve fuligem.

O jovem feiticeiro subiu os três degraus, um a um, adentrando em uma pequena sala composta por sofás felpudos, algumas antiguidades como jarros de cerâmica, estatuetas e pinturas na parede. O ambiente estava vazio. Ele caminhou vagarosamente, por onde pisava deixava pequenas labaredas esverdeadas. Os lobos por sua vez atropelavam tudo o que via e tomavam a frente, numa pressa sem fim, subindo logo o primeiro lance de escadas e devorando algumas servas que tentavam fugir.

Meicy se viu sozinho por um instante, mas seguiu o seu rumo, entretanto, uma presença lhe fez parar. Ele ficou imóvel com uma estátua, enquanto uma sombra pairava sobre o seu corpo, tal corpo que ainda flamejava.

— Meicy... — Disse uma voz doce, entretanto, aborrecida e decepcionada. Era de se esperar.

Meicy se virou e fitou os olhos de serpentes semicerrados que demonstravam incredulidade pelo o que viam. O jovem não expressava reação alguma, nem vergonha e nem remorsos, entretanto, por mais apático que estivesse, não desejava o sangue da caçadora.

— Você é um monstro! — Kelmo afirmou, apertando os dedos no punho de sua espada. — Me enganou, me traiu... Você... me dá nojo!

Kelmo franziu a sobrancelha e rangeu os dentes. Diferente dos outros caçadores, ela não usava a vestimenta branca e nem as máscaras. Exibia apenas um colete de couro no busto e estava armada com seus punhais na cintura. Ela se preparou para o embate. Correu mesmo sabendo que era uma manobra arriscada. Não se importava, naquele instante ela estava sendo movida a raiva e nada a mais.

Enquanto a caçadora partia para o ataque com sua espada afiada, Meicy continuava alheio, observando-a e talvez pensando no que exatamente deveria fazer. Quando a jovem se aproximou o bastante, sentiu-se o seu corpo congelar como se lentamente transformasse em uma estátua. O seu corpo subitamente foi levitado no chão e posto de ponta a cabeça. No ato, acabou deixando a sua espada cair e seus olhos estavam obrigatoriamente vidrados ao feiticeiro que exibia um sorriso sádico na face.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now