XXXV - LIFÁRIUS

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— Não há provas! — Meicy indagou, contestando a firmação de Salomon.

Salomon riu e cruzou os seus braços para trás. Andou em volta do salão, prestando atenção nas duas estátuas femininas em lado opostos que seguravam as tochas. Os caçadores montaram um círculo ao redor de Meicy com suas espadas em guarda, como se uma arma branca pudesse conter a fúria de um feiticeiro.

— O conselho é formado por bruxos, a maioria. — Salomon explicava. — Eu achei estranho desde o início esse encantamento de cristais, tais cristais que surgiram magicamente. Não sou estudioso de misticismo, mas... não acho que seja algo fácil de se fazer. Aonde eu quero chegar é que... Bruxos não fazem isso que você fez. — O homem lhe mostrou o cristal no pescoço. — Eu sei que sabe disso e eu sei que sabia o quanto estava se arriscando. Outro fato também, me pareceu bastante peculiar. — Ele sorriu. — O meu filho morreu com duas estacas no peito, você embora ter recebido somente uma, ela atravessou o seu corpo de forma fatal. Você sobreviveu. Você... — Salomon demonstrava certo ressentimento como se as palavras doessem ao se lembrar de seu filho. — Se recuperou rápido demais para um golpe daquele.

Meicy estava sem palavras e branco de tão pasmo. Ele sempre suspeitou da desconfiança de Salomon, mas nunca pensou que o ancião levasse tudo aquilo adiante. Não era provas e nada concreto, entretanto, o homem era famoso por sua lealdade e determinação. Não era à toa que já tinha a sua vaga reservada no conselho.

— Não sei se sabe, mas... ainda não conseguimos encontrar o seu pai. — Salomon ergueu uma sobrancelha, como se Meicy pudesse saber algo a respeito. — Já tem uma equipe de busca atrás dele. A sua irmã já está sendo interrogada.

— A minha irmã? Ela é só uma criança! Deixe-a em paz!

— Você conhece as regras. Os envolvidos serão executados. A depender, poderão passar por um julgamento que determinará o tipo de punição.

— A minha família não tem nada a ver com isso!

— E seus amigos?

— Ninguém sabe de nada. — Meicy mentiu.

Salomon olhou por uns segundos o embrulho na mesa de pedra não muito distante.

— Então você confessa que realmente é um feiticeiro?

Meicy recuou um passo. Percebeu que Salomon tentava lhe confundi. Ele não sabia qual era o jogo do ancião, afinal, já sabia que ele era um feiticeiro, o que mais precisaria arrancar dele?

— Não envolva a minha família e nem meus amigos. Precisamos esclarecer as coisas.

— Já visitamos a sua mãe. Ela foi o nosso ponto chave para chegar até aqui.

— O que? — Meicy franziu o cenho.

— Veja só como está tão enganado. Os pais que servem a Karen sempre saberão se o filho for um feiticeiro. Ainda mais você sendo filho de um guardião e serva desse Instituto. A sua mãe, Meicy, nos falou a verdade. Tentou mentir, mas o nervosismo dela a entregou.

Meicy estava inerte. Sem palavras naquele momento. Os seus olhos estavam arregalados, presumindo o pior.

— Aonde... onde... onde ela está? Cadê a minha mãe?!

Salomon ponderou por um instante, mas logo, girou o corpo e mirou os seus olhos ao tal embrulho. Nem precisou falar mais nada, a imagem por si só já respondia à pergunta de Meicy. O lençol branco e manchado ainda gotejava sangue, cujo qual, despencava lentamente no chão onde formava uma poça vermelha.

Meicy caiu de joelhos no chão. Tudo parecia se mover lentamente, os seus olhos se perdiam em um outro plano como se o cenário mudasse de cor. Ele escutou as espadas dos caçadores sendo desembainhadas e um cerco se formando ao redor de si. Salomon também preparou a sua espada e ele se aproximava também. Um flash veio na mente do jovem feiticeiro, em meio a visão de sua mãe morta. As palavras de Haiko soaram nitidamente. "Você ainda é fraco. ", "Você é um fraco! ". Meicy era um fraco.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now