XIV - A TUMBA

67 9 1
                                    



            


Millo dava passos lentos, respirava com dificuldade, porém, estava firme. Lirah caminhava ao seu lado segurando em sua mão. Ela iluminava o caminho com a chama avermelhada e a frente Meicy os guiava.

— Precisamos ir embora, Millo. Você não está bem. — Lirah falou, tentando convencê-lo.

Millo teimava. Mesmo após quase morrer há pouco tempo atrás, ele ainda teimava em seguir Meicy. O índio não conseguia entender o quanto ele era frágil. Lirah e Meicy por sua vez, possuíam uma certa resistência, singularidade de ambos, já que se tratavam de um feiticeiro e uma maga — também conhecida como especialista da chama infernal.

— Meicy é forte. Ele não precisa de nossa ajuda. — Lirah continuou.

O índio permanecia carrancudo, ele não iria sair dali sem o seu amigo. E se acontecesse alguma coisa? Mesmo que a chance de surgir um problema naquele lugar fosse quase nula, não poderia confiar. Eles estavam a caminho de uma tumba antiga a procura de papeis velhos. E se fosse como nas antigas histórias que costumava ler? Ele se lembra quando mais novo, o seu avô contava que as antigas tumbas onde os reis da antiguidade foram enterrados com seus tesouros, era repleto de armadilhas.

A frente, Meicy havia parado de caminhar. Ele se deparou com o que procurava, porém, não esperava por uma pesada porta de madeira bloqueando a sua passagem. Havia uma fechadura de ferro e enferrujada, as tábuas de madeira estava em algumas partes descamada e soltando farpas. Teias de aranhas pendiam do alto, cobrindo a maior parte da porta. Pelo formato ovular na parte superior, certamente se tratava de algo bastante antigo.

Realmente aquele era o lugar certo. A tumba de Luciano Antunes estava por trás daquela porta. Meicy sorriu. Estava mais perto do que imaginava. Finalmente colocaria suas mãos nos antigos manuscritos. Ele arriscou mais um passo, já tateando a madeira em busca de uma maçaneta, porém, sentiu o seu pé direito afundar. Uma pedra havia deslocado, como se fosse algum tipo de botão. O feiticeiro só escutou o grito de Lirah mencionando o seu nome. Ele virou o seu corpo e em sua frente, lâminas afiadas voavam em sua direção. Não deu tempo para desviar, sentiu o seu corpo ser perfurado em variados lugares. No ombro, braço, perna, peito e barriga. As outras seis ficaram cravadas na porta, e por sorte, Meicy também não fora atingido na face.

Meicy caiu de joelhos no chão, sentindo uma dor agonizante. Lirah e Millo correram ao seu encontro, desesperados. O feiticeiro rangeu os dentes. Conseguiu retirar as facas em formato de punhais do ombro, braço e o da perna. Ele se contorceu, mal conseguia mover seus membros. A sua preocupação era com as armas cravadas em seu peito e barriga. Aquilo certamente atingiu algum ponto vital, ele temia pela morte.

Lirah e Millo agacharam-se diante do garoto de olhos escuros. A maga infernal observava aquela face pálida, percebendo a preocupação e o medo da morte perante àquele fato. O jovem feiticeiro segurava no cabo metálico da lâmina cravada em seu peito. As suas mãos se encharcavam com o sangue que também manchava sua camisa branca. Parecia estar bastante profundo.

— Não tente retirá-la! — Lirah falou, observando atentamente aquela situação.

Millo olhava a face agonizante de seu amigo. Foi como ele havia imaginado. Havia armadilhas por ali, principalmente tão próximo a tal tumba. Os arquivos guardados por trás daquela porta deveriam ser importantes demais para ser encontrados tão facilmente.

— Meicy, seja forte! — Ele disse, tentando não demostrar nervosismo, apesar que sua preocupação estava aparente.

Lirah percebeu os olhos do índio se encherem de lágrimas, ela, no entanto, se segurava, pois tinha a certeza que aquilo não abalaria Meicy, afinal, ele era um feiticeiro. Ser resistente estava em seu sangue.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu