VIII - A PRIMEIRA AULA DE SIDELÊNICO

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  — Então Lirah? Sabe me dizer o que está escrito aí? — Millo perguntou em um sussurro, fitando nos olhos a garota de cabelo roxo.

— Hum...

Lirah estava pensativa, observava o pedaço de papel velho em suas mãos finas. Apesar da timidez e das bochechas coradas, ela também havia despertado certo interesse naquele mapa. A biblioteca a àquela hora estava vazia e silenciosa. A maioria dos alunos veteranos já estavam em aula ou em treinamento prático, enquanto os novatos ainda desfrutavam de algum tempo livre. A bibliotecária lia um livro em sua mesa, apoiando os pequenos óculos na ponta no nariz e distraidamente folheava as páginas amareladas de alguma fábula antiga.

A jovem bruxa observava o pequeno relógio de pêndulo pendurado na parede. O tic tac chegava a ser irritante com tamanho silêncio, porém, ela estava mais preocupada com as horas e pensava em alguma alternativa para driblar Millo da informação desejada que tanto ele queria através da tradução daquele mapa. O índio havia lhe dito que o seu colega de quarto não quis lhe revelar aquelas informações escritas no papel, entretendo, a bruxa concordava com o garoto de olhos escuros. Aquele pedaço de papel era muito mais que um simples rascunho velho, era uma relíquia, um achado bastante importante que abriria portas para o que ela tanto desejava.

— Lirah? — Millo a despertou do devaneio, ele estava um tanto impaciente e ansioso pela tradução.

A jovem bruxa se enrubesceu. Sempre foi bastante tímida e apesar de Millo não lhe representar nenhuma ameaça, ela o temia mesmo assim, porém, Meicy era o pior dos problemas, ela já desconfiava ou melhor, ele já sabia, mas ela não era a única que ocultava segredos.

— Lirah? O que esse mapa diz? — Millo insistiu mais uma vez.

Lirah olhou para o relógio, os ponteiros marcavam oito e vinte e cinco da manhã.

— Falta apenas cinco minutos para a aula, — ela disse se sentindo salva — acho melhor deixarmos isso para depois.

Millo aparentou se decepcionar, mas logo se lembrou que a primeira aula era de sidelênico, cujo professor era o pai de Meicy, Jeon. O homem era famoso no Instituo, tanto por sua rigidez e pela complicação da disciplina que ministrava. Não seria novidade encontrar dois ou três alunos repetentes em suas aulas.

Os dois se levantaram ao mesmo tempo, Lirah segurou o mapa com suas mãos, chamando a atenção do índio. A jovem corou instantaneamente com sua atitude.

— Bem, eu... — Ela disse, tentando explicar a sua ousadia.

— Não precisa explicar, eu já entendi. Você precisa terminar de traduzir as inscrições. — Ele sorriu. — Estou ciente que é boa com o sidelênico, mas não é tão fluente como Meicy.

Nisso Millo estava enganado. Lirah era tão fluente quanto o garoto de olhos escuros. A sua tia de criação, que também era serva, lhe ensinou tudo o que sabia desde que conseguiu sua guarda há seis anos e a pequena só adentrou ao Instituto por um mero capricho, um desejo arriscado, mas que apenas isso poderia salvá-la.

Ela guardou o mapa dentro de um livro e se direcionou até a saída ao lado do índio. Os dois seguiram marchando a procura da sala de aula. O manto negro por cima do uniforme acinzentado, entregava a classe na qual os dois jovens calouros pertenciam. Bruxos. No caminho acabaram esbarrando com os irmãos Siristh, há poucos metros da sala de aula.

— Vejam só... — Kainã falou, interceptando a passagem de Millo.

Lirah se escondeu por trás do índio e fitava Kelmo de relance, esperando que sua companheira de quarto não a maltratasse assim como seu irmão fazia.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now