IV - A CERIMÔNIA DE CONSAGRAÇÃO

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 Meicy fitava a figura feminina esculpida na parede de pedra. Ela estava em posição de lótus, com a palma de uma mão aberta em frente ao corpo e trajada com um manto leve de algum tecido fino. A escultura possuía um vasto cabelo que descia pelas costas e descia como cascatas lisas, porém, algo bem peculiar chamava a atenção: Eram as suas orelhas pontudas. Diziam que aquela representação da deusa Isth, era a mais próxima de sua verdadeira forma. Segundo um livro antigo que o garoto havia lido, a divindade também era uma deusa élfica, por isso aquela aparência.

Ele vislumbrava as colunas que foram esculpidas na própria rocha. Eram bem altas e o teto também apresentava gravuras talhadas entre outras pequenas estátuas de anjos ao redor. Aquele era o mais antigo templo de Isth em Karkariá e o único utilizado para cerimônias da seita. Estava localizado no interior de uma gruta, abaixo de uma montanha rochosa, sob às margens de um gigantesco lago.

Meicy virou a face para o exterior. Do alto ele admirava a vista, focalizando o lago de águas cintilantes e a cadeia de montanhas que ser erguiam logo a frente. Aquele lugar era muito distante e a viagem até ali era um tanto complicado. Eles utilizaram carroças até a metade do caminho e o resto teve que seguir a pé. Ele estava cansado e sonolento, havia saído de casa às cerca de três da manhã e já estava entardecendo, mal se lembrava de sua última refeição.

Algumas pessoas subiam a escadaria, o garoto estreitou os olhos na tentativa de identificá-las, porém, deu certo. Eram Millo e seu avô, seguido por mais duas pessoas, na qual ele não reconhecia. Meicy correu ao seu encontro no fim do último degrau. Estava com certo receio em ficar ali sozinho, o seu pai estava a todo momento lhe pressionando a escolher a carreira de "caçador", mas ele não ia voltar atrás com sua palavra, estava decidido a ser bruxo.

— Meicy! — Millo sorriu e apressou os seus passos na subida da escadaria ao vê-lo.

O índio vestia um manto branco com capuz, assim como Meicy. As longas mangas e a barra cobriam completamente os seus membros, o símbolo do pentagrama estava bordado em vermelho na altura do peito. O avô de Millo transmitia toda a calma do universo. Os seus cabelos estavam bem penteados e a barba bem aparada, os seus olhos eram profundos e pequenos, sua pele era bem branca e enrugada. Deveria ter uns sessenta e cinco anos e o mais intrigante era que Millo não se parecia nada com ele, não desconfiando de seu parentesco, mas os seus traços indígenas eram atenuantes.

— Fico feliz em vê-lo! — O índio falou, tentando recuperar o fôlego ao mesmo tempo.

Meicy sorriu, acenando com a cabeça para o velho Art por trás de seu amigo.

— E seus pais?

O garoto de olhos escuros olhou para trás, se lembrando do caminho que seus pais tomaram ao adentrarem.

— Já estão lá dentro, eu disse que iria te esperar.

Meicy vislumbrou algo subitamente, deixando-o boquiaberto. Duas pessoas terminavam de subir os degraus, passando por eles. Era uma senhora e uma menina, porém, o garoto reconheceu aquele cabelo roxo. As madeixas estavam soltas ao vento, ela trajava um manto branco como o dele, mas os seus olhos estavam bem diferentes que da última vez que os vira. Antes vermelho, estavam castanhos. Ela olhou de relance para os garotos ao passarem por eles e pelo visto reconheceu Meicy. A garota puxou o capuz em sua cabeça e apressou os seus passos, seguida por uma senhora — supostamente sua avó ou tia — com vestes negras.

— Elas vieram conosco. — Millo falou, percebendo o olhar curioso de Meicy para aquela menina estranha. — Ela se chama Lirah.

— Vocês conversaram?

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOحيث تعيش القصص. اكتشف الآن