XVII - O ÚLTIMO TESTE

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 O refeitório estava ficando deserto, poucos dos alunos novatos ainda perambulavam por ali. Lirah olhava para o seu prato de ervilhas, filé de peixe e batatas assada sem muito interesse. A comida já jazia fria enquanto ela apenas brincava com o garfo espetando alguns grãos.

— Coma Lirah, precisa se alimentar. — Millo pedia, enquanto amarrava os cadarços de sua bota.

Meicy verificava o interior de sua bolsa, contando todos os frascos coloridos, galhos de algumas plantas, folhas, uma pequena panela, uma caixa de palito de fósforos, um canivete, o grosso livro de capa de couro que os bruxos recebiam no último ano contendo milhares de poemas ritualísticos entre outras quinquilharias, e por precaução o jovem feiticeiro levava consigo uma de suas cadernetas de anotações e o colar de Assa.

— Não acho seguro levar essa coisa com você. — Disse Millo, se referindo ao colar de Assa ao observar o amigo escondendo-a dentro de um lenço.

— É mais seguro ela ficar comigo que guardada na gaveta de uma cômoda. — Meicy respondeu, ainda focado na arrumação de sua bolsa.

— A minha preocupação é mais com aquela olhos de cobra. Não confio nela. Ela seria capaz de tudo se descobrisse o colar.

Meicy abotoou sua bolsa e a colocou sobre a mesa, encarou o índio.

— Kelmo não ligaria se a encontrasse. Ela pouco se importa com o trabalho dos bruxos. Ela só pensa em si mesma e faz tudo sozinha. Eu nem perco mais meu tempo discutindo, por minha vontade deixaria as criaturas daquela floresta devorá-la!

Millo se espreguiçou, tranquilo em não possuir nenhum problema com seu companheiro de caçada.

— Eu não tenho dificuldade alguma com Adádidas. Ele sabe trabalhar em equipe e valoriza o trabalho de um bruxo.

— Sorte sua! — Meicy e Lirah falaram em uníssono.

Lirah ainda olhava entristecida para o seu prato. Ela não havia triscado na comida e Meicy sabia que não era apenas a ansiedade que a dominava. Ela estava com medo. A diferença entre Kelmo e Kainã era essa. O caçador odiava Lirah mais que os outros bruxos, era quase como se soubesse o segredo dela ou por ser um tremendo imbecil como sempre foi desde criança. Meicy sentia um mau pressentimento para aquela caçada. Só esperava estar um tanto enganado quanto a isso.

— Meicy!

A voz infantil de uma menina gritando pelo nome do feiticeiro chamou a atenção do trio. Meicy olhou para trás, apoiando o seu braço no encosto da cadeira. Era Sora, a sua irmã caçula. Ela sorria, estava trajada com o manto vermelho dos caçadores, — mesmo com apenas seis anos, Jeon driblou as regras do Instituto e fez com que a filha ingressasse tão jovem, mas assim como Meicy, possuindo a nota mais alta — o cabelo negro era curto, quase um corte masculino se não fosse a franja que caía sob os olhos também negros como a noite. De herança sanguínea, assim como Meicy também havia herdado da mãe a pinta na face abaixo do olho esquerdo.

— Sora! Que bom te ver. — Meicy falou, aconchegando a irmã no colo. — Não deveria estar em aula?

— Estou esperando o Bern, ele está me ensinando a lutar.

— Ah sim! O Bern. — Meicy disse sem graça.

Bern era o irmão mais novo de Adádidas, filho do ancião de treinamento e caça, Salomon. Sora era a única de sua idade na turma mais nova e a menor da classe. Preocupava Meicy. Diferente dele, a pequena adorava o pai e foi manipulada facilmente para seguir a carreira de caçadora, que por sinal, exigia muito para uma criança de apenas seis anos. O seu pai só poderia ser doente.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now