XXVIII - UM NOVO DEUS

47 5 0
                                    


— Taravo... — Meicy balbuciou o seu nome.

O gigante leão negro de três cabeças estava parado a poucos metros dos dois jovens. O seu rabo balança freneticamente enquanto as bocas abertas tentavam puxar com dificuldade todo o ar em sua volta. Era inexplicável o fato dele estar no plano físico. Algo não estava certo. Taravo parecia enfraquecido de alguma maneira, como se algo ou alguém houvesse sugado toda a sua energia. Mas a pergunta que não queria calar para Meicy, era, o que aquela divindade monstruosa estaria fazendo naquele planeta?

Enquanto Kelmo estava paralisada, estupefata pelo medo e covardia, o jovem feiticeiro correu, se esquecendo até mesmo de fingir a sua debilitação. Ele não se importou com nada. Pisou nas pequenas rochas cascalhentas sob o calor insuportável daquele sol laranja e passou pela caçadora imóvel. Caiu de joelhos diante do leão no mesmo momento em que o mesmo tombou de lado, levantando uma nuvem de poeira amarela.

— Taravo?! — Meicy gritou, apreensivo. — O que...

A cabeça da esquerda abriu um único olho, que não emitia mais o mesmo brilho incandescente de antes. Ele tossiu e com a voz falha tentou balbuciar algumas palavras.

Garoto... Fuja desse mundo... — Ele falou telepaticamente.

O que aconteceu? O que fizeram com você? — Meicy perguntou, também telepaticamente.

O leão voltou a tossir e percebeu que o seu corpo estava materializando para o plano espiritual. Ele não tinha mais forças para se manter no plano físico.

Por que está nesse mundo? — Meicy insistia no questionamento, mesmo sabendo que aquela criatura usava suas poucas forças remanescentes para falar.

Eu sou o deus das criaturas espirituais, estou em todas as partes. — O leão falou em um tom de voz mais baixo e rouco o possível.

Mas...

Há... Uma anomalia habitando Mengie há centenas de anos... — O leão pareceu se enfraquecer mais — Ele... Me encontrou.

— Que anomalia? — Meicy não conseguia mais disfarçar o seu nervosismo.

Garoto... Estou morrendo...

Meicy não conseguia acreditar naquilo. Taravo? O grande leão senhor das criaturas espirituais estava morrendo? Isso era impossível! Ele era um ser imortal! Seres imortais não podem morrer!

Umas das garras do leão se aproximou do jovem feiticeiro lentamente e tocou o meio de seu peito com apenas uma das unhas. Uma lufada de vento e poeira jogou os cabelos de Meicy para trás, quase como se a natureza desejasse separá-lo do monstro espiritual. O toque da unha de Taravo, exatamente onde se posicionava o coração do jovem feiticeiro havia começado a exalar uma névoa branca, densa e gelada. Meicy não sabia o que significava aquilo e por mais medo que naquele segundo sentiu, sabia que poderia confiar.

Não deixe as trevas lhe dominar. — Taravo falou, enquanto o seu corpo começava a se cobrir por uma fumaça negra. — A partir de agora... você é o novo deus...

Uma última crise de tosse interrompeu a sua fala, a sua garra caiu, parando sob as pernas de Meicy e aos poucos a criatura foi desfalecendo, enquanto a fumaça cobria toda a extensão de seu corpo. Havia chegado a sua hora. A névoa negra evaporava, levando consigo o que um dia foi o mais incrível e mais temido demônio espiritual — O senhor de todos eles.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora