XLIII - REENCONTROS

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Kelmo percebeu a sua visão se tornar turva e uma densa névoa negra lhe consumir. Estava acontecendo novamente, porém, ela não largaria de Meicy. O abraçou ainda mais forte pela cintura, cravando suas unhas por cima do tecido do smoking dele. Novamente ela sentiu o clima mudar, sentindo uma brisa fria arrepiar a sua pele.

— Não pense que deixarei você escapar novamente, Meicy! — Ela falou.

De repente ela sentiu seus dedos tocarem o vazio à medida que sua visão foi se recobrando. Logo, ela se viu no alto de uma colina repleta de capim verde, na qual cobria a altura de seus joelhos, onde ao longe ela conseguia vislumbrar o céu tomando cores de lilás e alaranjado, colorindo nuvens finas, enquanto outra parte do céu ainda apresentava as estrelas e a vasta escuridão do universo. A noite havia sido longa e o dia estava amanhecendo, e pelo visto, Meicy havia escapado outra vez.

Kelmo trincou os dentes ao se sentir enganada novamente. Retirou a máscara que cobria a sua face deixando-a cair no chão. Em seguida retirou o capuz do manto que cobria a sua cabeça, permitindo o rabo de cavalo chicotear suas costas. De fato, não conseguia ocultar a sua frustração. Havia fracassado novamente, havia deixado o feiticeiro escapar pela terceira vez. Talvez por isso não havia conseguido ser anciã, realmente ela não merecia tamanho cargo.

— Eu ainda não fui embora.

Aquela voz suave e tranquila despertou Kelmo de seus devaneios. Ela girou o corpo roboticamente para trás e deu de cara com o semblante místico que Meicy exalava. Ele esteva ali o tempo inteiro. A caçadora segurou forte o cabo de sua espada e estava pronta para atacá-lo.

— Essa forma de lutar não faz o seu perfil, Kelmo. — Meicy criticou. — Não ousaria enfrentar um feiticeiro sozinha. Está agindo por conta própria e... Está colocando acima de tudo os seus sentimentos.

Meicy parecia ler os pensamentos da caçadora e isso a deixava ainda mais furiosa.

— Cala a sua boca! — Kelmo revidou. — Não são somente os meus sentimentos. Você machucou, você matou, você destruiu! Além de tudo... mentiu para mim.

— Você nunca me aceitaria como feiticeiro.

Kelmo tremeu os lábios e abaixou a espada.

— Eu te amava. Eu... Poderia... Eu poderia lutar junto contigo para reverter essa perseguição. Você confiou em seus amigos esse segredo, mas não quis confiar em mim!

A cartola de Meicy foi levada pelo vento, enquanto a mesma brisa açoitava os seus cabelos e o capim. O aspecto alaranjado do amanhecer já dominava grande parte da noite que ia embora. As estrelas desapareciam e os primeiros pássaros matinais voavam em bandos e cantavam em contemplação a mais um dia.

— Você sabe que não era tão simples. Você me odiou no início Kelmo, apenas por eu ser bruxo.

— Eu aceitei a Lirah como maga desde quando éramos crianças. Isso não é o suficiente para você!

— É uma situação diferente.

— Não é diferente!

Eles ficaram em um longo silêncio, se encarando.

— Eles haviam assassinado a minha mãe. — Meicy falou, emocionado. — Eu não consegui me controlar. Kelmo... Eu não controlo o meu ódio, ele me domina. A única coisa que se passava em minha mente era de que... aquilo precisava terminar.

— Destruindo o Instituto? Matando centenas de inocentes? — Kelmo olhou no fundo dos olhos dele como uma tentativa de tentar compreendê-lo. — Meicy, ao menos se arrependeu pelo o que fez?

Meicy se manteve em silêncio. De alguma maneira parecia pensar em alguma resposta, entretanto era difícil para ele ter que falar a verdade à caçadora.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now