Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃO

X - A ENTRADA SECRETA

  Millo olhava para o teto do seu quarto, estava um tanto pensativo e preocupado. A escuridão da noite dominava a fraca luz lunar que penetrava pela janela. O índio só havia tomado um banho e se deitado, mas não conseguia dormir. Ele estava sozinho e seu companheiro de quarto ainda não havia aparecido. Ele ficou em silêncio diante disso, não teve coragem de contar a algum superior, mas mesmo assim, temia por algo ruim.

Meicy deixou a sala de aula mais cedo com uma pressa estranha. Sumiu pelos corredores antes que o índio pudesse alcançá-lo. Ele imaginou que o amigo fosse para a biblioteca, não seria uma boa ideia irritá-lo, pois, desde a primeira aula o garoto de olhos escuros parecia um tanto inquieto. O jantar foi servido à cerca das sete e meia, porém, nada do jovem bruxo, foi aí que Millo começou a se preocupar.

Millo olhou para a cama vazia e arrumada do amigo, o relógio de bolso dele estava ali, por cima de mais dois livros. Ele se levantou e caminhou até o objeto dourado, onde o ponteiro dos segundos girava lentamente e ritmicamente, fazendo um som atordoante. Eram quase nove e meia. Aquilo não estava certo. Millo precisava contar isso a alguém. O seu amigo havia desaparecido.

O índio se trocou e vestiu o manto com capuz — parte de seu uniforme de buxo —, pois, estava uma noite fria. Apenas guardou o relógio do amigo no bolso, mas antes de procurar um adulto, ele precisaria consultar Lirah. Só ela poderia dizer a ele o que realmente precisaria ser feito. Se fosse um outro garoto, claro que o índio recorreria a um superior urgentemente, mas se tratava de Meicy Kallú. Ele não era uma criança ingênua. Algo ele deveria estar tramando.

Millo abriu a porta do quarto e a fechou bem devagar. Tinha que evitar qualquer barulho para não despertar os caçadores que dormiam no quarto ao lado. A última coisa que ele queria era se confrontar com Kainã. Começou a caminhar pela ponta dos dedos, ou melhor, das botas. Tentava fazer o menor dos ruídos. O salão estava tão escuro quanto o seu quarto e o único barulho era o tic tac do relógio de pêndulo. O garoto precisava encontrar a ala das meninas, onde ficava os dormitórios. Isso era do outro lado do castelo. Ele precisaria ser cuidadoso, afinal, professores e outros superiores dormiam em algum andar a abaixo de seus pés.

Foram quase meia hora em passos lentos até chegar a torre onde estava os dormitórios femininos. Havia várias portas, Millo não fazia ideia em qual dos quartos estaria Lirah e o pior de tudo, seria aquela sua companheira de quarto. Ele parou e pensou um pouco, como faria para falar com ela?

Olhou para o relógio de bolso de Meicy, já eram dez horas da noite, todos já deveriam estar dormindo, mas... foi aí que ele se lembrou. Lirah era estudiosa, assim como Meicy. Ela nunca adotara o costume de dormir cedo, preferia ficar estudando até tarde. O índio estreitou os olhos e fitou cada uma das portas. Todas pareciam ser iguais para ele, porém, apenas uma emergia uma fraca luz por debaixo, quase imperceptível. Só poderia ser aquele o quarto, porém... E se não fosse? Era um risco que precisaria correr.

Aproximou-se da porta de madeira, paralisou seu punho antes que pudesse bater. Engoliu um seco. Esperava ser aquela porta certa e se fosse, tinha a certeza que Kelmo lhe esfolaria. De repente, ele escutou uma voz abafada vindo de dentro do quarto:

— Lirah apague essa luz! Eu quero dormir!

O índio se animou, era a voz de Kelmo, no entanto, infelizmente ela estava acordada. Ele respirou fundo e contou até três. Precisaria fazer isso por Meicy e só Lirah poderia ajudá-lo. Tomou coragem e bateu na porta o mais delicado possível. Foram três toques, quase surdos, mas que deixou um silêncio eminente por dentro do quarto.

A porta de abriu subitamente, saltando de fora uma garota com o olhar feroz e uma pequena lâmina apontada para a garganta do índio. Millo ficou branco com o susto, tentou conter o seu grito enquanto fitava aqueles orbes de cobra. Kelmo grunhiu segurando seu punhal.