Capítulo 17

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Alfonso, ao chegar, fora direto ao seu quarto. Precisava de um banho. Estava ansioso por ver Anahí. Se ela estivesse grávida, agora já teria tido seu fim... Ele não gostava de pensar nisso. Preferia pensar na opção. Ela não estava grávida e nunca saberia o que havia em seu prato. O estaria esperando, saudosa. Ele gostava dessa opção. Porém foi com um estampido que a porta do quarto abriu, enquanto ele ainda desabotoava o punho da camisa.



Anahí: VOSSA MAJESTADE! – Disse, ironicamente, após abrir as duas portas do quarto aparentemente com um murro. Havia um sorriso quase maligno no rosto dela.


Alfonso parou, em choque, vendo a imagem a sua frente. Anahí estava morta. Sua Anahí, a Anahí que ele aprendera a gostar, a respeitar, estava morta. Não era aquela mulher. Aquela não tinha nenhuma inocência em seu olhar, e parecia carregar o mundo nas costas. E o cabelo... Onde estavam os cachos que várias vezes hipnotizavam ele? Ele não teve reação ao vê-la parada ali, como um espectro.


Alfonso: Anahí, o que... Seu cabelo... Seu... Meu Deus. – Ele não sabia direito o que dizer.



Anahí: Oh, sim, meu cabelo. Está aqui, alteza. – Foi então que ele percebeu o que ela tinha nas mãos: Em uma um lençol, na outra... Ah, meu Deus... – É todo seu. Sei que lhe agrada. – Ela se aproximou, e colocou o cabelo cortado delicadamente nos pés da cama dele. – A propósito... – Ela apanhou o lençol que se arrastava no chão e o abriu em cima da cama dele. A mancha de sangue seco no tecido branco era grande. – Parabéns, papai. – Disse, quase em um silvo.



Alfonso: Anahí... – Suspirou, passando a mão no rosto. É claro que tinha que ser a opção mais difícil.



Anahí: Senhor? – Perguntou, debochada. Ela quase espumava de raiva.



Alfonso: Não me chame de senhor. – Tentou, respirando fundo – Escute. – Como explicar? – Eu não quis lhe fazer mal.


Anahí: Então envenenar meu filho foi um acidente? – Perguntou, falsamente curiosa.



Alfonso: Não. Mas tente entender, eu não podia assumir essa criança... – Interrompido.



Anahí: VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE MATÁ-LA! – Gritou, trêmula de ódio – NÃO ERA SEU FILHO, ERA MEU! COMO PÔDE? ALFONSO, EU CONFIEI EM VOCÊ! VOCÊ É UM MONSTRO!



Alfonso: Não altere a voz para mim. – Disse, e o comando em sua voz era claro. Era um lembrete. Ele era rei. Ela não era ninguém.



Anahí: Eu cuidaria do meu filho, e eu nunca pediria nem que você dedicasse um olhar a ele. Mas foi mais fácil para ti derrubá-lo, como a um inimigo seu, em um campo de batalha. Sem nem saber seu nome, sem nunca olhar seu rosto. – Disse, quase em um murmúrio.


Alfonso: Era necessário. – Disse, duro.


Anahí: É claro que era. Não vou gastar meu tempo com você. – Disse, passando a mão no cabelo. A franja se bagunçou, e ele sentiu falta dos cachos. – Eu pensei que você era diferente. Depois de tê-lo conhecido, eu achei que você só era uma vitima pelo que fizeram a Dulce María. Mas não. Você é como Paul, Alfonso. – Disse, com o olhar duro.


Alfonso: Cala-te. Minha paciência acabou, assim como teu show, Anahí. – Disse, se irritando.


Anahí: Não, você precisa ouvir. – Disse, pensativa – Chame seus guardas e mande me matarem se quer me calar, você faz isso com tanta facilidade! – Disse, debochada – Paul matou a Dulce María porque queria derrubá-lo, tinha um motivo por trás. Mas tu é pior. Tu mataste teu próprio filho pra que todos não soubessem que você AMASIOU UMA CRIADA! – Gritou, furiosa.


Alfonso: Tu não sabes o que diz. – Rosnou, furioso. Ele respirava em arfadas.



Anahí: Eu sei de algo. Eu tenho pena de Dulce María. Pena, realmente. – Os olhos de Alfonso agora eram duas placas verdes, incrédulas. Ela ia mesmo confrontá-lo assim? – Foi obrigada a se casar, a dividir uma cama e uma vida com um homem repugnante, e morrer porque era sua esposa. Sim, porque se não o fosse, estaria viva. Vê? Quem se aproxima de ti ou morre ou se machuca. Deve ser triste, não é?



A bofetada que atingiu o rosto dela fez a lateral do rosto queimar em dor, mas ela riu. Alfonso se afastou, as mãos em punho como se estivesse se controlando, como se seu instinto fosse o de mata-la, mas ele estivesse lutando contra ele. 



Alfonso: Cale a boca, e saia daqui. Anahí, agora. – Ordenou. 



Anahí: É claro, meu senhor. Antes preciso lhe devolver algo. – Ela retirou uma chave do decote, e jogou-a na direção de Alfonso, que se esquivou – É a chave do quarto que o senhor me deu. Eu não quero mais, dê a outra que esteja disposta. Lá está todo o resto do que tu me deste. O vestido, o escapulário, os livros, enfim, tudo. Se procurar direito poderá até encontrar a alma do teu filho, ficou perdida por lá também. 



Alfonso: Você só está com raiva. – Amenizou, observando-a.


Anahí: Não estou. – Disse, agora falsamente controlada – Vê isso? – Ela abriu os braços e Alfonso observou. O corpo continuava o mesmo, mas a mudança no rosto e no cabelo eram lamentáveis – Foi tua obra. Conseguiu me destruir. Parabéns, majestade. Agora, com sua licença...


Alfonso ainda estava atônito com aquele show quando ela parou, na porta, se virando pra ele.


Anahí: Uma ultima coisa... – Disse, pensativa – Eu amei você. – A declaração de amor, mesmo naquele tom de voz e naquela circunstancia teve o impacto que teria no normal – Eu o amei como eu não achei que fosse capaz de amar alguém. Tu podes estar incrédulo, se lhe apraz, mas eu daria minha vida por você. Eu o amei. – Finalmente duas lágrimas caíram pelo rosto pálido dela, e ela as secou – Parabéns por ter destruído isso também, vossa alteza. A única pessoa que realmente te amou o odeia agora. Parabéns. – Disse, e se virou.



Alfonso viu ela se afastar, não correndo como a antiga Anahí faria. Andando, calmamente, e sumir no corredor. Ele fechou a porta e olhou sua cama. Puxou o lençol dela dali, não queria ter que ver aquilo, mas o cabelo ainda estava lá. Ele se sentou, respirando fundo para espantar a raiva, e passando as mãos nas têmporas. Ótimo.

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